segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Capítulo XVIII - Os Ciclos de Crime, Cura e Conquista

I Os Asteróides, a Economia e o Crime


Aplicando os mesmos princípios que estudamos nos casos de Marte e Vênus, deveríamos esperar que o movimento de Mercúrio, que atua sobre a tireóide, produzisse ondas de instabilidade universal de movimento. Mas como já havíamos verificado, a órbita de Mercúrio é tão excêntrica e seu período tão curto que qualquer ciclo que ela possa induzir é errático demais para um estudo sério.

O que é estranho é que esse questionamento nos introduz a um ciclo semelhante de atividade – mas ao que parece, conectado com um ritmo astronômico de uma ordem completamente diferente. É um ciclo de nove anos que as estatísticas distinguem do ritmo biológico de nove anos e dois terços já discutido.

O ritmo de nove anos controla os preços e a Bolsa, a recorrência das crises financeiras, a atividade construtiva (18 anos) e muitos outros fatores que refletem as ondas curiosas de otimismo e pessimismo, iniciativa e depressão que caracterizam todo fenômeno econômico e industrial. Esse ciclo é mais pronunciado em sociedades industrializadas. Aparece com muita força em grandes cidades e é particularmente característico nos Estados Unidos – sendo outros ciclos, de onze anos, por exemplo, mais dominantes na Europa.

Traduzido da linguagem estatística para a emocional, esse ciclo de nove anos representa evidentemente uma flutuação nessa estranha força oculta que parece mover as apressadas massas de qualquer grande cidade ora de uma forma, ora de outra, num determinado ritmo pela manhã, noutro à tarde, acumulando com uma estranha excitação essas mesmas massas numa época e noutra com desatenção e indiferença. Qualquer observador nas ruas de New York ou Londres perceberá quase horrorizado, a extraordinária impressão de ser sugado para algum lugar dada pelas massas urbanas em movimento e pela aparente indiferença dessa sucção invisível a qualquer consideração de felicidade ou benefício humano. Os homens fluem nos metrôs como grãos de trigo no moinho, atraídos por algum poder que os mantém sempre em movimento precipitando-os de fato não para os escritórios, mas para o túmulo.

Que deus ou demônio poderia induzir tal inquietude? Buscando nos céus um ritmo de nove anos, encontramos um num lugar completamente inesperado.

De acordo com a regra harmônica conhecida como Lei de Bode, existiria um planeta entre Marte e Júpiter a uma distância de 420 milhões de quilômetros do Sol. No entanto, nenhum traço desse corpo celeste havia sido descoberto até 1801 quando o primeiro de uma série de planetas minúsculos foi localizado nessa área. Desde então, registraram-se aproximadamente 1.200, variando de 400 até alguns poucos quilômetros de diâmetro. Noventa e cinco por cento desses asteróides estão situados numa localidade disposta de 325 a 480 milhões de quilômetros do Sol, sendo a distância média quase que exatamente igual àquela suposta pela Lei de Bode. De acordo com a terceira lei de Kepler, o período orbital de um corpo a essa distância do Sol é de cerca de 1700 dias, que é de fato a periodicidade média dos asteróides. Uma massa planetária que gire a essa velocidade deve efetuar uma conjunção menor com a Terra e o Sol a cada 468 dias, enquanto seu ciclo sinódico seria exatamente de nove anos.

Recordemos a oitava de periodicidade sinódica que foi estabelecida no capítulo VI:

Nota: Dó / Anos: 24 / Júpiter x 2 / Vênus & Mercúrio x 3

Nota: Ré / Anos: 27 / Asteróides x 3

Nota: Mi / Anos: 30 / - Marte x 2 / Saturno x 1

Nota: Fá / Anos: 32 / Vênus & & Mercúrio x 4

Nota: Sol / Anos: 36 / Júpiter x 3 / Asteróides x 4

Nota: Lá / Anos: 40 / Vênus& Mercúrio x 5

Nota: Si / Anos: 45 / Marte x 3 / Asteróides x 5

Nota: Dó / Anos 48 / Júpter x 4 / Venus & Mercúrio x 6

Portanto, a periodicidade da massa de asteróides corresponde às notas , sol e si. Todavia, a nota corresponde somente aos asteróides e seria consequentemente mais característica deles. Na próxima oitava essa nota será representada por 54 anos, na próxima por 108 e assim por diante. Desta forma, no sentido de estudar a influência dos asteróides na vida humana, devemos buscar fenômenos de uma periodicidade não somente de nove anos, mas também 27, 54 e 108 anos.

As características do ciclo de nove anos já foram descritas. No entanto, um ritmo muito mais forte de mais ou menos o mesmo caráter é observado a cada 54 anos. Os preços do mercado atacadista americano, por exemplo, que alcançaram picos notáveis em 1813, 1865 e 1919, datas que coincidem incidentalmente com o término do conflito de 1812, a Guerra Civil e a Grande Guerra. Vê-se também a mesma periodicidade na produção do ferro e do carvão e os salários industriais.

Kondratieff e outros observadores vão mais além e proclamam que esses ciclos de 54 anos estão marcados por mudanças radicais em toda a estrutura econômica – o período de 1788-1842 que cobre a revolução industrial nos Estados Unidos e Inglaterra; de 1842-1896, a era do carvão, do vapor e das estradas de ferro; de 1896-1950, o período da química, eletricidade e máquinas de combustão interna com o período seguinte potencialmente marcado por uma nova estrutura econômica e uma nova fonte de energia. Outros tentaram ainda associar esse ritmo com a incidência de guerras, embora esse fenômeno dependa provavelmente de uma conjunção de ciclos de asteróides e ciclos marciais já considerados.

No fundo, todos os ciclos anteriores em múltiplos de nove anos parecem conectados com certo estímulo ou esgotamento nervoso entre as grandes massas que habitam as cidades. Tentativas têm sido feitas para conectar isso com o potencial elétrico do ar que mostra notavelmente um ritmo de nove ou dez anos no observatório de uma cidade (Kew), embora tal ciclo não tenha sido notado numa estação rural (Eskdalemuir).75

A esse respeito é interessante investigar que tipo de influência podemos esperar que provenha do movimento de inúmeros asteróides e que efeito tal influência produziria no campo magnético da Terra. Consideremos em primeiro lugar a natureza física desse tropel de partículas de tamanhos variados perseguindo a diferentes velocidades centenas de órbitas separadas e sumamente excêntricas. Recordemos depois a impressão discordante ou confusa dada pelo burburinho independente de milhares de pessoas durante o intervalo no teatro comparada à impressão harmoniosa criada pelo mesmo número quando toma parte num canto coral sob um único condutor. Tal é a relação física entre a massa de asteróides e os planetas individuais.

De alguma forma a natureza dos asteróides parece-nos assim representar a influência da multiplicidade no concerto do Sistema Solar para simbolizar a independência ou insurreição de unidades componentes contra o todo. Nesse sentido, condições patológicas são causadas pela ação independente ou inércia de órgãos separados ou células do corpo enquanto que as rebeliões e revoluções representam uma condição semelhante no corpo político. Esse ‘individualismo’, no qual cada um persegue sua própria ambição, inconsciente do conjunto ou do que o impulsiona, é notoriamente característico da economia industrial moderna e particularmente da vida nas grandes cidades.

Tudo isso parece insinuar de alguma forma uma influência maléfica, perturbadora e inquietante. Mesmo de um aspecto econômico esse ciclo é corretamente descrito como um ciclo de depressões, ou seja, um ciclo de temor geral e pânico. Esse temor, como vimos em nosso estudo dos processos psicofísicos representa um veneno psicológico definido. E este, por sua vez, dá origem a ondas de suicídios, assassinatos, fraudes e outros crimes que também observamos seguir um ciclo de nove anos e que correspondem com as baixas de depressão econômica.

A essa luz, recordamos com interesse que certa nota nas oitavas de compostos orgânicos vimos como característica dos venenos, ou seja, das substâncias que ocasionam enfermidade. Em cada mundo, pela tríplice natureza da criação, todos os seis processos devem operar e nem mesmo o mundo planetário pode estar isento. Além do mais, as diferentes notas de uma oitava parecem corresponder de alguma forma a esses diferentes processos ou às substâncias referidas neles. Devemos portanto esperar que os diversos planetas em seu próprio nível estejam associados de alguma forma à operação desses processos. Já vimos como a influência de Vênus parece conectada ao processo de crescimento e a de Marte ao de destruição.

Assim, é difícil evitar a conclusão de que o ciclo e influência dos asteróides esteja particularmente associada ao processo que, por falta de uma melhor descrição chamamos corrupção ou crime.

Essa estranha afinidade entre os asteróides e a corrupção recorda-nos por sua vez as antigas lendas sobre o crime num nível angelical ou planetário como a rebelião de Satã ou a queda de Lúcifer. Tais estórias introduzem-se sempre com o contato das bem conhecidas imagens planetárias ou demiúrgicas – Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno – que sob um ou outro nome ocorrem na cosmologia babilônica, grega, romana, árabe, asteca e medieval. Os asteróides nunca são mencionados por seu nome mas em todos os casos fala-se de um ‘anjo caído’. “Como caíste do Céu, Lúcifer, estrela da manhã!” (Isaías 14)

No capítulo nove do Apocalipse essa lenda é elaborada em linguagem místico-mítica. Visões estranhas são descritas referindo-se a cada um dos sete anjos planetários. Particularmente é a visão do quinto anjo o que nos interessa, posto que na realidade os asteróides ocupam o quinto lugar na seqüência planetária – após Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. Quando esse anjo tocou, diz-se que uma estrela foi vista caindo do céu no ‘abismo sem fundo’ do qual se levantaram nuvens de fumaça que escureceram o sol. E dessa fumaça surgiu uma nuvem de ‘gafanhotos’ com ‘cabelos’ ondulantes e ‘couraças de ferro’ e o som de suas asas era semelhante a inúmeras carruagens correndo para um combate. O ‘rei’ desses ‘gafanhotos’ ou o anjo do abismo sem fundo era Apollyon, mais tarde tornado Satã.

Uma visão posterior descreve “uma mulher vestida com o sol e a lua sob seus pés e sobre sua cabeça uma coroa de doze estrelas” (uma personificação da escala descendente de mundos desde os doze signos zodiacais da Via Láctea através do nosso Sol até a Lua) e que está a ponto de dar à luz – presumivelmente a um novo satélite. Satã, ou ‘o dragão’, todavia espera para devorar a criança e como resultado desse perigo há guerra no céu entre Miguel e seus anjos (o Sol e os planetas maiores) e Satã e seus demônios. Estes últimos são derrotados “e não se encontrou mais um lugar para eles no céu. Foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, chamado Diabo e Satã, que reduziu o mundo todo: ele foi expulso para a Terra e seus anjos foram expulsos com ele.”

No século XVII essas várias lendas foram sintetizadas por Milton em seu “Paraíso Perdido” no qual a queda de Lúcifer dos Céus estava conectada com ‘orgulho’, independência ou rebelião contra uma ordem cósmica. Através desta e de todas as referências análogas mostra-se a idéia de que Lúcifer é o espírito da multiplicidade, caos, desordem entre uma massa de indivíduos desorganizados. Ele é o príncipe dos ‘demônios’ cujo nome é ‘legião’.

No começo do século XIX, o astrônomo Olbers, que descobriu o segundo asteróide, ecoou estranhamente estas lendas ao sugerir que os corpos recém descobertos eram fragmentos de um planeta que tinha existido e explodiu em inumeráveis partículas. Foi suposto também que o pequeno volume total desses fragmentos (aproximadamente o da lua) poderia ser explicado pelo fato de que muito do material do planeta perdido tinha sido atraído pelas órbitas da Terra, Marte ou Júpiter, seja como meteoros caídos ou como satélites destes planetas. As minúsculas luas disformes de Marte são na verdade muito difíceis de serem explicadas de outra maneira.

Essa teoria de Olbers recorda e ajusta-se à idéia esboçada no capítulo XVI de que em algum período remoto uma tremenda tensão cósmica pode ter sido iniciada, o que representou ‘noite’ para a Terra, produzindo o cataclismo que engoliu a Atlântida e provocou uma ruptura quase completa na história da humanidade. Uma tensão semelhante pode em determinadas circunstâncias ter causado a explosão de um planeta defeituoso com todas as conseqüências descritas.

Nesse sentido, a lenda da queda de Lúcifer, ‘estrela da manhã’, a guerra dos outros planetas contra ele, sua queda das alturas, confinamento na Terra e sua relegação a um novo papel como príncipe de uma legião de demônios ou ‘gafanhotos voadores’ – encontra-se transcrita em linguagem astronômica.

Além do mais, a influência desses ‘demônios’ ou asteróides sobre a Terra, é estimada agora como flutuando num ciclo de nove anos, o que de fato corresponde às ondas de depressão, suicídio, assassinato e insanidade observáveis entre os homens.


II Júpiter ou os Harmônicos das Luas


De um ponto de vista astronômico, o fato mais surpreendente sobre o planeta Júpiter é a complexidade do sistema de satélites que ele mantém. Júpiter tem quatorze luas conhecidas, quatro das quais são facilmente visíveis através de binóculos e são de um tamanho aproximado ao da lua da Terra. Esse planeta encontra-se a meio caminho quanto ao seu tamanho, entre o Sol e a Terra, tendo o equivalente a um milésimo do volume do Sol e 1.300 vezes o volume da Terra. Além disso, toda a relação de Júpiter com o Sol parece seguir uma proporção definida e significativa.

O sistema de Júpiter, pelo número de seus satélites, tamanho, distância, velocidades de revolução e tudo mais, parece apresentar-nos um modelo exato do Sistema Solar. Em todo caso, a aproximação é tão estreita que é impossível não acreditar que os dois não estejam construídos ou que tivessem se desenvolvido de acordo com as mesmas leis. As órbitas e períodos das luas de Júpiter, por exemplo, apresentam uma relação constante com as órbitas e períodos dos planetas do Sistema Solar, embora com fatores naturalmente diferentes para distâncias e tempos orbitais.

Considerando os satélites de Júpiter: Io, Europa, Ganimedes e Calixto (I, II, III, IV) como correspondentes a Mercúrio, Vênus, Terra e Marte, vemos que as distâncias no Sistema Solar têm em média 140 vezes as do sistema de Júpiter, enquanto que os períodos são 51 vezes mais extensos.76 Essas cifras confirmam aproximadamente a fórmula que conecta tempo e distância relativos e que já tínhamos estabelecido no capítulo II e mostram que o princípio expressado na terceira lei de Kepler77 não se aplica apenas a satélites dentro de um mesmo sistema mas também à relação entre um sistema e outro. E confirma além do mais que Júpiter, assim como o Sol, é uma entidade viva completa ou cosmos.

Há uma série de implicações no estado do sistema altamente desenvolvido de Júpiter e seu reflexo quase completo em miniatura do Sistema Solar. Em primeiro lugar, a influência ou radiação produzida por tal sistema deve ser extremamente sutil, incorporando um grande número de freqüências diferentes numa relação harmônica. Enquanto Vênus tem apenas dois movimentos (rotação e revolução) e produz assim apenas duas espécies de freqüências, os sistema de Júpiter inclui quinze ou vinte movimentos diferentes, ou seja, quinze ou vinte harmônicos diferentes. Júpiter, em outras palavras, deve produzir uma riqueza extraordinária de sobretons que o colocam em relação a Vênus na mesma relação que a de um violoncelo para um apito.

Além disso, o fato de que o sistema de Júpiter seja um modelo em escala de todo o Sistema Solar traz outras implicações. Supusemos que a estrutura do homem seria uma imagem da estrutura do Sistema Solar e que as glândulas endócrinas nele corresponderiam aos vários planetas, reagindo às várias influências destes. Júpiter, por sua localização no Sistema Solar parece emitir uma ‘nota’ ou freqüência que ativa a glândula pituitária posterior e produz ali um ritmo correspondente. Mas pelas mesmas leis, as luas de Júpiter produzirão harmônicos sutis que afetarão todas as outras glândulas. Ainda que cada uma dessas outras glândulas seja controlada principalmente pela influência de seu ‘próprio’ planeta, ela também reagirá de uma forma bem menos pronunciada à influência da lua correspondente de Júpiter, posto que cada uma destas emite uma freqüência harmonicamente relacionada a certo planeta, só que a cerca de duas oitavas acima.

Esse cálculo nos dá uma idéia completamente nova a respeito do significado dos satélites de um planeta em relação ao homem. Se cada planeta controla uma de suas funções, o número de luas desse planeta controla a interação daquela função particular com outras, seu poder de harmonização com outras. Dessa forma vemos que as funções que correspondem a Mercúrio e Vênus, que não têm luas, são como que funções cruas, por assim dizer, pela falta dos harmônicos que as capacitariam a mesclar-se com outras. Marte tem duas luas, ainda que muito pequenas e embrionárias. Isso significa que a função supra-renal ou passional tem harmônicos que a relacionam, ainda que levemente, a outras duas funções. Significa também que com as funções restantes – tais como as do pensamento abstrato – a função passional não pode mesclar-se e chocar-se-á sempre com elas.

Somente Júpiter e Saturno têm um sistema completo de luas, produzindo harmônicos correspondentes a todas as outras funções e assim, a glândula pituitária, em ambas as partes, sustenta uma relação muito especial com todas as outras funções e com o organismo como um todo.

O poder de misturar-se ou produzir ecos em todas as outras funções que a pituitária possui em virtude dos sobretons de seu planeta tem um significado diferente em suas duas metades. Seria mais simples dizer que ele toma um significado masculino no lóbulo anterior e um feminino no lóbulo posterior. Desta forma ele dota o lóbulo anterior com a função de inspecionar, dirigir e controlar todas as outras funções – dominando-as, por assim dizer, enquanto que o lóbulo posterior é dotado com a função de cuidar de todas essas funções mencionadas, conciliando discordâncias entre elas, curando-as e exercendo em geral uma função ‘maternal’ no organismo. Assim como Saturno e Júpiter atuam como ‘pai’ e ‘mãe’ de seus respectivos sistemas de satélites, os lóbulos anterior e posterior da glândula pituitária atuam como ‘pai’ e ‘mãe’ para todas as demais glândulas e funções do corpo.

Se Júpiter promove uma função curativa e harmonizante no indivíduo, seu ciclo, afetando milhões de pessoas, seria refletido numa flutuação universal dos instintos mais bondosos e humanitários do homem. Indícios de seu ritmo de doze anos podem ser observados na medicina, em obras de caridade, na prestação de serviços sociais e em geral nos aspectos mais humanitários da vida humana.

Com o objetivo de investigar mais efetivamente o que se refere a esse ritmo, seria bom estudar a natureza dessa atividade curativa com uma aproximação maior. Como vimos anteriormente, a cura é fundamentalmente o que restaura a saúde às coisas tocadas pelo processo de corrupção ou de crime. Na realidade, já que quase tudo e todos que conhecemos estão manchados pelo ‘pecado original’ da humanidade ao longo dos tempos, havendo penetrado em todos os âmbitos de nosso mundo, tudo tem necessidade de cura de uma forma ou de outra.

Para participar do processo de regeneração, um ser deve ser normal. O anormal e o sub-normal não podem se regenerar, não podem renascer. Uma semente deteriorada e uma semente imperfeita não podem germinar. Assim, a cura não é apenas a restauração da normalidade mas também preparação para a regeneração. É o antídoto cósmico da corrupção.

Quando estudamos o ritmo do processo de corrupção em relação à humanidade, vimos que ele se expressava de duas formas – em períodos de cansaço e desespero, conhecidos pelos economistas como ‘depressões’ e em períodos de violência, expressados como motins e rebeliões. Isso é interessante, já que esse processo se desenvolve através de duas categorias principais de emoções humanas – violentas ou malignas e emoções sem esperança ou desesperadas. Levadas a seus extremos, as primeiras conduzem ao assassinato e as segundas ao suicídio – representando ambas a destruição de todas as possibilidades, a primeira para o outro e a segunda para si mesmo.

Portanto, num sentido geral, a cura – no que se refere à humanidade – significa neutralizar os indícios das emoções malignas e desesperadas. Significa prevenir assassinato e suicídio, restaurar possibilidades perdidas.

Além disso, se pensarmos nos resultados objetivos dessas duas atividades complementares, veremos que enquanto o crime deixa naturalmente atrás de si uma atmosfera de suspeita, ódio e medo, também a cura, deixa atrás de si, inevitável e naturalmente, uma atmosfera de amor e gratidão. Se pensarmos na imensa quantidade de amor e gratidão evocados pelo exemplo de Florence Nightingale ou Louis Pasteur na cura de corpos ou de São Vicente de Paula na cura de uma condição social, de Bernardo Las Casas curando os males feitos por uma raça a outra, de Joana d’Arc na cura de uma nação, compreenderemos então que essa atividade não alcança apenas o resultado imediato da saúde restaurada mas também dá origem a grandes quantidades de matéria prima emocional necessárias para que se inicie o processo de regeneração.

Em certas condições abjetas de pobreza e degradação, de enfermidades muito arraigadas, loucura e hipnotismo, a regeneração é impossível. Primeiramente essas condições devem ser curadas. Então a regeneração pode começar.

Os homens estão certos ao reconhecer instintivamente que, salvo uma, a cura é a atividade mais elevada da qual o ser humano pode tomar parte.


III Saturno e a Conquista


O ciclo sinódico de Saturno tem a duração de 30 anos. Já tínhamos visto como esse período está uma oitava acima do ciclo marcial, imprimindo sobre este a urgência – de outro modo inexplicável – de dominar que toma subitamente uma nação ou outra, emprestando às guerras nas quais logo embarcam, um caráter estranho e muito especial.

Na psicologia individual essa ‘dominância’ é reconhecidamente uma característica do tipo que está relacionado à pituitária anterior. Há certas nações onde provavelmente a estirpe típica aproxima-se de tal tipo. Do século XVII ao século XIX parece que o Império Britânico teve uma tendência especial nessa direção. Mas, aparentemente por si mesma, a própria estirpe racial modifica-se gradualmente, já que na virada do século XX essa tendência parece ter se extinguido progressivamente na raça britânica, que a princípio deu-se por satisfeita com seu status quo mas tornou-se em seguida auto depreciativa em seu papel internacional.

Desde meados do século XIX até meados do século XX essa necessidade de domínio parece ter passado aos povos germânicos que em 1870, 1914 e 1939 embarcaram numa série de guerras cada vez mais planejadas e que não poderiam ter outro desígnio que a eventual conquista do mundo. Em nossos dias, tendências semelhantes, ainda que não façam necessariamente uso dos meios da guerra, parecem manifestar-se nos Estados Unidos e na Rússia.

Aparentemente, quando uma certa combinação de influências alcança seu máximo, essa urgência de domínio, expressada temporariamente numa nação ou noutra, alcança uma intensidade explosiva. A incrível expansão dos gregos sob Alexandre em 332-326 a.C., dos tártaros sob Gengis Khan em 1215-1223, dos espanhóis no México sob Cortes em 1520-1525, da França de Napoleão na Europa em 1805-1812, dos alemães sob Hitler em 1938-1943 e dos japoneses na Ásia nestes mesmos anos são exemplos claros.

Esses casos são bélicos. Mas o impulso não é necessariamente assim e, ainda que menos dramática, a expansão comercial dos venezianos no século XIV e dos holandeses no século XVII expressa a mesma força inconfinável.

Tais aventuras são completamente inexplicáveis por qualquer razão lógica e em alguns casos, como no exemplo da Espanha em que um vasto império foi conquistado em dois anos por menos de 400 homens, elas parecem beirar o milagroso. A urgência de domínio, acentuada por certos ciclos cósmicos e pelos tipos raciais de conquistadores e conquistados converte-se com o tempo em algo irresistível.

A qualidade aparentemente milagrosa de certas conquistas, resultado evidente de condições cósmicas, dotam naturalmente os homens que navegam na crista dessas ondas – Alexandres, Napoleões e Hitleres – com a aparência de deuses ou demônios. E na verdade esses líderes podem ser muito nobres ou muito pérfidos ou nenhuma coisa nem outra. Há exemplos de conquistadores do mundo em cada uma dessas classes. Mas em todos os casos é muito importante compreender que eles não fazem o que parecem fazer. Na realidade, eles não fazem nada. Os ciclos planetários fazem tudo e talvez mais que todos, o ciclo de Saturno. Conquistadores são simplesmente homens com certa capacidade natural para a retórica ou a estratégia que de forma curiosa tipificam seu caráter racial e são acima de tudo dotados de um sentido muito especial de timing – ou do mais freqüentemente expressado, ‘sentido da história’. Eles aprendem a ouvir as influências planetárias através do temperamento do povo.

Esse ‘ciclo de dominação’ é um aspecto do aumento e redução da influência de Saturno sobre a glândula pituitária anterior em milhões de homens. Mas ele representa apenas um aspecto do funcionamento desse órgão. Como já vimos anteriormente, a pituitária anterior é também a glândula que ao funcionar ativamente produz o poder do pensamento abstrato, isto é, de coordenar o conhecimento adquirido mediante todas as demais funções e em conseqüência fazer invenções ou descobertas. A invenção, afinal de contas, é apenas a percepção de novas conexões entre itens de conhecimento – teórico e prático – que não foram previamente colocados juntos de outro modo.

Deveríamos esperar portanto, que a fase máxima do ciclo de Saturno não trouxesse apenas uma urgência de conquista mas também algum efeito especial sobre o conhecimento humano e a invenção. E somos de fato confrontados com o fato curioso e notável de que freqüentemente em certos períodos de guerra agressiva, a ciência e a invenção adiantam-se fabulosa e desproporcionadamente em relação a seus progressos nos períodos de paz. O avanço revolucionário na medicina e na aviação feito durante a Primeira Guerra Mundial e o desenvolvimento ainda mais revolucionário da engenharia, física, eletrônica, bacteriologia e praticamente todos os ramos do conhecimento humano trinta anos mais tarde durante a Segunda Guerra Mundial, têm sido freqüentemente assinalados.

A observação é bastante correta. Mas a dedução de que a guerra estimula a invenção ou induza a uma sede de conhecimento é provavelmente injustificada. O estímulo da pituitária é a primeira causa, a conquista e a invenção os efeitos secundários. Essa glândula é o assento da descoberta e vemos que a inventividade das nações – ainda que expressada prosaicamente nas cifras das patentes registradas – variam na realidade dentro de um ciclo de trinta anos, isto é, de acordo com o período sinódico de Saturno. Todavia, quanto mais compreendemos dessa influência saturnina – com o estímulo à conquista tanto física quanto mental, assim como à invenção e compreensão intelectual – mais nos parece não apenas uma forma recorrente, como também, de maneira muito especial, a influência dominante da presente era.

Já vimos como diferentes civilizações pareciam baseadas no predomínio ou desenvolvimento de uma única função. De acordo com nossa tese, isso é o mesmo que dizer que cada cultura encontra-se sob a influência especial de um planeta – aquele que controla a função então ascendente.

Se pensarmos na última, a cultura do Renascimento, por exemplo, divisamos de imediato sua extravagância, ostentação, colorido e versatilidade. Em agudo contraste com a fria interioridade da cultura Monástica Cristã, o Renascimento caracterizou-se pelo gregarismo e espírito de empresa, por uma vasta mistura e fundição, uma tendência a abarcar e tolerar todos os lados da vida. E ele estava acompanhado de um desenvolvimento especial da medicina e da arte de curar. Tais qualidades, num indivíduo, chamaríamos joviais e iríamos associá-las ao estímulo da glândula pituitária posterior. O Renascimento, podemos nos arriscar a dizer, era uma cultura sob a influência de Júpiter.

Passando a nossa própria cultura, cuja origem tentamos traçar no capítulo XVI, somos surpreendidos por muitas outras características. Certamente, a invenção – da máquina a vapor à bomba atômica – inundou com dádivas boas e más um ritmo sem precedentes na história. Mas se pensarmos no efeito total dessas invenções, perceberemos que ele contribuiu principalmente para colocar um acento extraordinário no intelecto da humanidade. Tal acento teria sido inconcebível na Idade Média. Naqueles dias, como hoje em lugares remotos do México e da Índia, um camponês não recebia impressões de fora de seu vale ou aldeia. Objetos ou histórias de bases diferentes não provocavam associações, não tinham significado. O que um homem sabia sobre o clima, seus vizinhos e colheitas, sabia-o profundamente, com todas as partes de si. Mas a respeito de coisas distantes nada sabia e dele se requeria não saber nada.

Subitamente, com o telégrafo, a educação popular e consequentemente a imprensa, requeria-se de todos os homens que não apenas soubessem da existência da China e do Alasca mas que diariamente se preocupassem também com o destino de seus habitantes, acompanhassem guerras, fomes e epidemias em lugares remotos da Terra e em geral tomassem como seus os problemas do mundo todo. Posteriormente, o rádio e a televisão asseguraram que aqueles que haviam escapado a tais responsabilidades, não mais poderiam fazê-lo dali por diante.

À parte essa pressão intelectual do presente, requeria-se também que os homens conhecessem e se preocupassem com guerras e revoluções do passado distante, da queda de antigas civilizações, da desintegração de estrelas remotas e do destino de todo o universo.

Todas essas tornaram-se questões que ocuparam as mentes dos homens. A partir daí, todos os homens teriam que conquistar não apenas o calor e o frio, o solo, a comida e a vegetação como tinham feito por toda a história, mas teriam adicionalmente que conquistar máquinas extraordinariamente intrincadas, lidar com forças cuja existência seus avós nem mesmo respeitaram. Requeria-se que compreendessem todas essas máquinas, todos esses países estrangeiros, toda a história e todo o universo, ainda que de forma rudimentar. Um esforço imenso e completamente novo – ou um estímulo imenso e completamente novo – estava evidentemente sendo levado a difundir a compreensão intelectual da humanidade como um todo. Se nos períodos anteriores não tinha havido descanso para os músculos dos homens, não havia agora descanso para suas mentes. E o foco principal de todo esse estímulo, em qualquer homem, era a glândula pituitária anterior. Assim, de forma muito real, podemos dizer que a presente cultura está especialmente sob a influência de Saturno.

Se a sucessão de influências celestes requer que a compreensão intelectual do homem seja especialmente estimulada agora, muitos traços da nossa atual civilização tornam-se mais compreensíveis. Vemos que suas debilidades, falhas e crimes também são predominantemente intelectuais, ou seja, eles surgem das mentes incapazes de se adaptar a esse novo estímulo – assim como as debilidades, falhas e crimes da Idade Média foram predominantemente emocionais, ou seja, surgiram dos corações que eram incapazes de responder à tensão requerida deles.

Cada estímulo celestial que é posto sobre o homem é, dessa forma, sua oportunidade e seu perigo. Ele abre novas possibilidades para ele mas traz também uma nova prova para seu ser. Na Idade Média, o auto de fé, a perseguição religiosa e as fantasias de bruxas foram resultado de homens de ser fraco sendo expostos a um estímulo universal e cósmico do coração. O prevalecimento da loucura mental, da superstição científica, da trivialidade vazia de pensamento e entretenimento que caracteriza nossa era é resultado de homens de ser fraco sendo expostos a um estímulo universal e cósmico da mente.

Tudo isso é o resultado negativo de tal estímulo, que pode ser observado por ambos os lados. O que devemos estudar, todavia, são as possibilidades positivas de tal estímulo, disponíveis aos homens de ser forte. Pois estes e apenas estes, são capazes de expiar por todos os demais. Nossa era, como todas as eras, deve ter seus próprios ‘modelos’, sua própria visão especial de homem superior. Quem são esses homens? Quem são os heróis de nossa época? Que espécie de homens procurariam um caminho para fora do caos?

Quando tentamos responder essa pergunta, vemos que muitos heróis de épocas passadas dificilmente manteriam sua posição hoje. Nossas necessidades não são simples há muito tempo. O herói guerreiro – Rolando ou Sir Galahad – iria sentir-se curiosamente perdido hoje e até mesmo um herói santificado como São Francisco teria que conduzir suas realizações a muitos outros lados da vida para corresponder às expectativas dos homens.

As figuras que surgem indisputavelmente em primeiro plano na nossa era podem parecer menores que aqueles em paixão e mordacidade, mas são homens mais abrangentes. Na era da pituitária anterior eles exemplificam aquela qualidade da pituitária anterior que deve conduzir, coordenar e dar significado a todas as outras funções.

Winston Churchill, jornalista, soldado, homem de estado, historiador e artista, posicionando-se tão brilhantemente num grande papel histórico como se fosse perfilado por um pedreiro; Albert Schweitzer, tão serenamente seguro na filosofia quanto tocando Bach ao órgão ou criando um hospital no Congo; Fridtjof Nansen, ora lutando com uma matilha de cães para alcançar um dos pólos ora ajudando flagelados pela fome ou organizando um sistema de passaportes para refugiados sem pátria; Jan Christian Smuts, arquiteto de um exército, de um país, da Liga das Nações; Sir Wilfred Grenfell, redimindo o destino de Labrador; ou por outro lado, um homem como Piotr Demianovich Ouspensky que poderia ser chamado matemático, místico ou viajante justamente por seu trabalho real ter sido imensurável e invisível. São estes os verdadeiros heróis do nosso tempo.

Como em todos os períodos, tais heróis podem ser super estimados ou subestimados. Alguns podem ser super estimados porque foram o que os homens necessitavam, outros podem ensinar os homens a necessitar do que eles mesmos fizeram. Não importa. O herói do nosso tempo é o homem que pode reconciliar todos os lados da vida numa visão abrangente, aquele que pode compreender, atuar, organizar e fazer a compaixão manifestar-se. Talvez o arquétipo de tal homem não tenha aparecido ainda e todos esses não são senão seus precursores. Em todo caso, eles ajudaram a criar condições nas quais um homem de nossos dias pode encontrar sua consciência. Tal é o trabalho dos heróis. E é trabalho do quarto caminho produzi-los consciente e invisivelmente.

Portanto, a partir de um estudo dos vários ciclos planetários em relação com ciclos observados nos diferentes campos de atividade humana, chegamos à conclusão de que os planetas não governam somente as várias glândulas ou funções nos seres humanos individuais mas governam também em toda humanidade as seis diferentes variedades de processos cósmicos que tínhamos encontrado em muitas escalas.

O ciclo de Vênus parece controlar o crescimento e a multiplicação da humanidade. O ciclo asteroidal controla o crime do homem e sua enfermidade. Marte controla a destruição no mundo humano, Júpiter sua cura e Saturno seu conhecimento e invenção. Em relação ao longo e lento ciclo de Netuno, ainda por ser considerado, encontra-se o processo de regeneração tanto no que diz respeito ao homem individual quanto no que diz respeito à humanidade.

As luzes mutáveis da influência planetária produzem ao longo da história um jogo de intercambialidade desses seis processos e apenas desses seis. Pois não existem outros e é impossível que qualquer coisa que aconteça não seja produzida por um, outro ou vários deles em combinação. Estes processos em ação fazem toda a história humana, toda a vida humana – tanto no que vemos quanto no que não vemos.

Além disso, estão harmonizados e unificados entre eles pelo sétimo ciclo que mescla-os num todo único e cria a partir de sua combinação outro cosmos. É o ciclo do sexo controlado pelo planeta Urano.


75. Ellsworth Huntington: ‘Mainsprings of Civilization’ pgs. 477-484.

76. Ver Apêndice XI: ‘Relação entre os Sistemas Jovial e Solar’.

  1. Os quadrados dos períodos nos quais os planetas descrevem suas órbitas são proporcionais aos cubos da metade de suas distâncias do Sol.”