segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Capítulo VI - A Harmonia dos Planetas

I As Oitavas Planetárias

No quarto capítulo, as influências combinadas de todos os planetas foram consideradas como uma força única. Deveremos ver agora como os reflexos dos planetas individuais, cada qual girando em seu próprio ritmo e mudando constantemente sua relação com todos os outros, combinam-se para criar a cada momento uma cena nova e um novo estado de ânimo. Tínhamos observado até então, a partir de um lugar onde o tempo tivesse parado e o passado e o futuro dos mundos tivessem-se tornado sólidos e imóveis. Mas, quando consideramos as influências dos planetas nos homens e na natureza, voltamos ao mundo de nossa própria percepção e aqui a chave para a compreensão é o sentido de que tudo se transforma, se move, se funde, se separa e se recombina; tudo é transitório e variável.

O que nos interessa agora é o ponto de vista da Terra. Para uma criatura na superfície da Terra, os tempos orbitais dos planetas que nos são familiares - ainda que possuam harmonia e sentido em relação ao Sistema Solar - não têm para ela qualquer significado especial. O que é importante é sua relação com a Terra, assim como para um observador numa corrida de cavalos as manobras dos animais ao longo da pista não são importantes, mas sim sua posição ao alcançarem a meta de chegada.

Suponhamos que cada planeta reflita alguma influência de natureza e intensidade constante, assim como o magnetismo, por exemplo. Aos seres sensíveis na Terra, essa influência deve variar não de acordo com a posição do planeta em sua própria órbita, mas de acordo com sua distância da Terra, com a velocidade com que ele se aproxima ou se afasta dela e, acima de tudo, com o ângulo pelo qual ele brilha sobre sua superfície.

Em termos de brilho, essa variação é conhecida de todo camponês que observa o céu noturno de uma estação a outra. Vênus e Júpiter variam em brilho numa magnitude estelar completa de duas vezes e meia, enquanto Marte é cinqüenta vezes mais brilhante num aspecto que em outro. A influência do magnetismo varia de modo semelhante.

A periodicidade de uma influência planetária sobre a Terra deve assim cumprir um tempo necessário para retornar à mesma posição relativa. Como vimos no capítulo anterior, todos os fenômenos da natureza são produtos de três forças - Sol, Planetas e Terra. Tomando como ponto de partida o momento em que o Sol, Terra e um dado planeta estejam alinhados, o ciclo desse planeta será o tempo recorrido antes que tal conjunção ocorra novamente. Em outras palavras, é o intervalo entre os momentos recorrentes em que essas três forças atuam juntas no mesmo sentido.

Há, porém, maiores e menores combinações de forças nos céus, assim como maiores e menores conjunções. Enquanto o poder de uma influência planetária segue geralmente a periodicidade de sua conjunção com o Sol, uma condição exatamente semelhante só se repetirá quando a Terra, o planeta e o Sol estiverem em igual relação com a Via Láctea ou o zodíaco. Sendo a posição relativa do Sol no zodíaco reconhecida por nós através da seqüência das estações, segue-se que essa relação completa só recorrerá quando as conjunções planetárias apresentarem-se exatamente nas mesmas estações em que ocorreram originalmente. Para cada planeta, há, portanto, um duplo ritmo de influência - um ciclo menor de sua conjunção com o Sol incluído dentro de um ciclo maior, quando essa condição será mais acentuada pelo retorno à mesma relação com o zodíaco.

Para cada planeta, um certo e diferente número de ciclos menores ocasiona um ciclo maior. E, como veremos mais adiante, a combinação total desses ciclos formará uma extraordinária notação matemática ou musical.

Podemos traçar uma tabela de menores e maiores conjunções de acordo com as quais podemos esperar que a influência planetária aumente ou diminua:


Planeta --------------------- Conjunções


Terra, Planeta, Sol --------Terra, Planeta, Sol, Zodíaco


(Lua -------------------- 29 ½ dias)


Mercúrio ------------------117 dias (4 ciclos lunares) X 25 = 8 anos


Vênus --------------------585 dias (20 ciclos lunares) X 5 = 8 anos


Marte--------------------- 780 dias X 7 = 15 anos


Asteróides25 ---------------468 dias X 7 = 9 anos


Júpiter ---------------------398 dias X 11 = 12 anos


Saturno --------------------378 dias X 29 = 30 anos


Urano---------------------- 369 dias X 83 = 84 anos

Netuno--------------------- 367 dias X 163 = 164 anos

Assim, Mercúrio e Vênus repetem seu efeito máximo a cada 8 anos, os Asteróides a cada 9 anos, Júpiter a cada 12 anos, Marte a cada 15 anos e Saturno a cada 30 anos. Se esses vários ritmos forem sobrepostos, encontraremos uma série muito interessante de intervalos harmônicos desenvolvendo-se no tempo, cada etapa da qual estará marcada pelas conjunções maiores de um ou mais planetas.



Meses Lunares 80 ----90 ------ 100 --106 2/3 - 120 -- 133 1/3 -- 150 -----160



Dias -------- 2340- 2632 1/2 --2925 -- 3120 -- 3150 -- 3900 -- 4387 1/2 -- 4680



Notas------- do ----re ----- mi ---- fa ---- sol ---- lá ------ si ------ do

Essa segunda série é uma repetição exata da primeira, sendo todas as cifras multiplicadas por três e um terço. Essas duas progressões estranhas e irregulares, ainda que aparentemente independentes, são as mesmas. Além disso, ambas pertencem a séries harmônicas que já conhecíamos.

Já existe, portanto, uma conexão na qual as séries 24, 27, 30, 32, 36, 40, 45 e 48 nos são familiares. Essas cifras, consideradas como vibrações, representam os valores relativos das notas de uma escala musical maior. Somos lembrados aqui de velhas histórias onde essa mesma escala musical, atribuída pela lenda aos pitagóricos, foi inventada por uma escola especial de astrônomos e físicos para ressoar a música das esferas.

Torna-se claro que isso não é lenda, mas fato real. A oitava ou escala musical é uma notação adaptada à audição humana dessa harmonia dos ciclos planetários, o que, por sua vez, é um eco de uma grande lei que controla o desenvolvimento de todos os processos no universo.27

Da interação do que já consideramos por tantos movimentos fortuitos, duas oitavas inteiramente separadas e musicalmente perfeitas, desenvolvendo-se eternamente ao longo da vida do homem e da história de sua raça, são agora reveladas. Além disso, se recordarmos e aplicarmos os imensos fatores que separam o tempo e a percepção humana do tempo e da percepção solar,28 veremos que essa harmonia planetária deve afetar essa sensação divina exatamente como a música audível afeta o homem. Entre o tempo humano e o tempo solar, estão 36 oitavas, exatamente o mesmo intervalo que separa a vibração da música humana das vibrações dos movimentos planetários. Literalmente, os movimentos planetários são música para o Sol.

II O Significado da Harmonia

O que temos tentado formular até agora é a recorrência periódica do ciclo total da influência de cada planeta e a relação desses ciclos entre si. Dentro de seu ciclo, contudo, a influência de cada planeta aumenta e diminui de forma muito individual. Tínhamos visto que essa variação pode ser medida de três maneiras. Uma delas, da qual não nos ocuparemos no momento, refere-se às suas influências variáveis em diferentes partes da Terra num dado momento. As outras duas formas de medição - pela distância variável entre o planeta e a Terra e por meio de suas variáveis velocidades em relação à Terra - referem-se à sua influência na Terra como um todo.

O grau de sua possível distância depende principalmente da proximidade de sua órbita, porque, quanto mais próximo ele passar da Terra, maior o contraste entre sua conjunção e oposição. Notamos um efeito disso nas flutuações de brilho do nosso vizinho Marte, que varia vinte vezes mais do que o distante Júpiter. Mas, como os planetas interiores não brilham em proporção direta às suas distâncias devido à questão das fases, a luz por si só é uma medida questionável desse efeito.

Como dissemos anteriormente, a verdadeira influência dos planetas sobre a Terra é quase que certamente de natureza magnética; a força magnética varia em proporção direta à carga do magneto e em proporção inversa ao quadrado de sua distância. Se supusermos que a carga do planeta seja proporcional a sua massa multiplicada por sua velocidade de órbita, poderemos então fazer alguns cálculos interessantes a respeito da relativa influência magnética de diferentes planetas sobre a Terra e a variação dessa influência.

Se considerarmos, por exemplo, que a influência magnética da Lua sobre a Terra seja estimada em 5.000 ampères, a influência média de Júpiter seria de aproximadamente 900 ampères, a de Vênus de 600 ampères, a de Marte de 60 ampères, a de Saturno de 40 ampères e a de Mercúrio de 20 ampères.29 A influência de Urano e Netuno nessa escala seria de cerca de 1 ampère.

Por outro lado, o total de variações em efeitos seria muito diferente para os diferentes planetas. Marte, em sua maior força, seria mais forte que Vênus e, em sua força mais fraca, tão fraco quanto Urano: sua influência num extremo seria de não menos que 80 vezes maior que noutro. A influência de Saturno seria dobrada do mínimo para o máximo, enquanto que a de Urano e Netuno permaneceria praticamente constante.

O homem está constituído de tal forma, que ele registra contrastes e mudanças de toda espécie, enquanto que condições constantes passam despercebidas por ele. Um homem vivendo numa cidade vai para seu trabalho desatento do ruído constante do tráfego, mas é profundamente afetado por um rádio na rua que aumente e diminua sucessivamente seu volume. Assim, é de se esperar que a humanidade reaja fortemente às inquietantes variações de Marte enquanto permanece apática às influências de Saturno, Urano e Netuno, ainda que essas últimas possam ser mais fortes e saudáveis. Esta não é uma questão de efeito real, mas de dar-se conta dele. Mais tarde, veremos que, enquanto há muita evidência de periodicidade nos aspectos violentos e procriadores da natureza, tais como guerras, abundância e fome, ciclos na esfera do pensamento e aspirações são muito mais difíceis de serem reconhecidas e afetam relativamente a poucos. Portanto, variabilidade de distância é um índice de distúrbio.

A outra espécie de variação da qual falamos reside na velocidade mutável de um planeta em relação à Terra. Isso pode ser mais simplesmente mensurável pelo ângulo que o planeta forma com o Sol e a Terra. Quando o Sol, um planeta e a Terra estão alinhados, o planeta move-se paralelo à Terra, estando assim estacionário em relação a ela. Por outro lado, se o Sol, o planeta e a Terra formam um ângulo reto, o planeta estará aproximando-se ou regredindo em sua plena velocidade de órbita. As velocidades entre esses dois extremos serão proporcionais ao ângulo. Mas é somente com planetas interiores29a que esse ângulo reto pode ser formado. Para os planetas exteriores, o ângulo máximo será sempre menor que 90o e diminuirá invariavelmente com o afastamento da órbita do planeta.

Disso se seguem dois efeitos. Quanto mais próximo um planeta estiver do Sol, maior sua velocidade possível em relação à Terra e, consequentemente, maior a variação dessa velocidade. Mercúrio pode aproximar-se da Terra a 50 km por segundo, podendo permanecer estacionário ou retroceder em relação a ela a esta incrível velocidade. Netuno, pelo contrário, pode variar apenas de estacionário a 1/7 de km por segundo em relação à Terra.30

Para entender o efeito dessa variação, imaginemos um homem deitado na cama sendo perturbado por um mosquito voando em seu quarto. Ele reconhecerá instintivamente o grau desse perigo pelo aumento e redução do zumbido. Quando a velocidade do inseto que se aproxima é agregada às vibrações de sua nota, as variações são comprimidas e agudas e, quando a velocidade é reduzida, elas são alongadas e graves. Assim, Mercúrio também mudará o tom de sua nota fundamental e podemos até mesmo considerar o impaciente e nervoso efeito produzido pela “música” do mosquito como uma analogia para a influência desse planeta.31

Como nossas deduções elétricas pareciam mostrar, se cada planeta emite uma certa nota ou energia transformada para um certo propósito, essa nota ou energia estará sujeita a duas variações dentro de seu ciclo. Primeiramente, haverá uma variação de volume, dependendo da distância, e depois uma variação de tom, dependendo da velocidade relativa. Marte e Vênus têm a mais ampla variação de volume, enquanto que, tanto em tom quanto em volume, os planetas exteriores permanecem constantes, soando como um baixo sustenido para a harmonia geral.

Outra variação deve ainda ser considerada. Se compararmos as cifras de conjunções dadas acima com as efemérides astronômicas de posições planetárias, veremos que elas não coincidem exatamente. Cada planeta avança com adianto ou atraso infinitesimais. Após 8 anos, Vênus chega à sua maior conjunção com um adiantamento de 2 ¼ dias. Marte ganha 26 dias em seu ciclo de 15 anos, enquanto que Júpiter perde 5 dias em 12 anos e Saturno 8 dias e 1/3 em 30 anos. Se fossem relógios, sua precisão não seria bem cotada. Marte, o menos preciso, adiantaria 7 minutos por dia, Vênus ganharia um minuto e Saturno perderia um, embora Urano chegaria quase a tempo por 3 segundos. Assim, a parte mudanças no tom devido à relatividade, cada planeta soa imperceptivelmente baixo ou agudo.

Essa imperfeição, todavia, parece significativa. Nada na natureza é imutavelmente exato. Enquanto que a lei de oitava é válida para um esquema muito amplo e vasta maioria, sempre há um resquício, uma porta de saída deixada para a exceção e a mudança. Sem isso, o cosmos seria de uma rigidez férrea e espantosa. Mas, por ser vivo, ele tem uma boa margem de elasticidade. Essa margem permitida é pequena, assim como aquela entre um pianista que toca com a compreensão do rubato e outro que toca com perfeição mecânica. Mas, nesses dez milésimos de segundo de diferença, muito pode acontecer em outra escala.32

Duas questões fundamentais surgem do que consideramos aqui. A primeira diz respeito à maneira com que tal crescimento e redução das influências planetárias afeta o homem. A segunda diz respeito ao verdadeiro significado das oitavas.

Em primeiro lugar, que conseqüências têm para os seres humanos o fato de Júpiter brilhar hoje com a mesma intensidade e relação com o Sol e as estrelas que há 12 anos?

Sabemos por experiência da influência exercida pela periodicidade da lua em todos os seres vivos e mesmo sobre as marés, assim como da periodicidade da Terra com suas contínuas estações e efeitos. Portanto, não é difícil conceber que outros planetas dirijam em nós ciclos equivalentes a seus períodos de conjunção e que esses ciclos encontrem ainda ritmos correspondentes em certos órgãos do corpo, assim como o ciclo lunar nos ovários femininos. Pelo momento, consideraremos isso como não mais que uma hipótese. Posteriormente, encontraremos mais evidências.

Enquanto isso, devemos simplesmente imaginar esses mesmos órgãos como antenas receptoras sintonizadas na longitude de onda de um determinado planeta e variando na intensidade de sua ação com a periodicidade da influência deste. A complexidade da vida do homem surge do fato de que todos esses ritmos diferentes sobrepõem-se, neutralizando-se, acentuando-se ou modificando-se entre si e produzindo, ao mesmo tempo, uma batida combinada que poderá ou não ser reconhecida.

Recentemente, foram feitos muitos trabalhos interessantes a respeito do caráter cíclico de vários fenômenos biológicos e humanos - um ritmo de 9 2/3 anos para a fecundidade dos animais, um ritmo de 18 anos para a atividade constitutiva e um ciclo de 54 anos no aproveitamento pelo homem da energia natural e da forma de sua sociedade.33

Esses ritmos são reconhecíveis individualmente e também em várias combinações. Por exemplo, ritmos separados de 3 e 4 anos ao atuarem juntos, produzem um padrão repetitivo de 12 anos. Ciclos de 8, 9, 12, 15 e 30 anos, sobrepostos uns sobre os outros, criarão um modelo de comportamento recorrente a cada 360 anos e assim por diante.

Mais adiante, veremos que os ritmos mais estabelecidos enquadram-se de fato com os ciclos planetários. Por enquanto, podemos dizer apenas que, se existisse a possibilidade de que um planeta pudesse estimular um órgão num homem em particular, seria incontestável que essa mesma conjunção afetaria esse órgão em milhões de outros homens, produzindo ondas de atividade ou de depressão, ciclos de guerras, flutuações periódicas nos índices de natalidade e assim por diante.

Dois planetas de passagem podem criar uma tensão cósmica sob cuja influência parecerá involuntariamente aos homens na Terra que eles devam lutar, matarem-se uns aos outros e morrerem por causas heróicas por anos a fio. Se os planetas governam os homens completamente, isso significa que eles não são respeitadores de pessoas e pode-se até mesmo perguntar se, dado o estado geral do ser do homem, uma excitação universal das glândulas da paixão poderia ter qualquer outro efeito que não fosse esse.

Quer atribuamos qualquer significado a esses ciclos ou não, nos confrontamos com a inevitável harmonia produzida por suas combinações. Essas oitavas perfeitas e sempre variáveis deixam-nos tanto abismados pela sutileza e perfeição da ordem cósmica quanto aturdidos pelo fato de a percepção humana permanecer desatenta a elas.

Dissemos dos planetas que, na qualidade de refratores ou transformadores da força de vida, eles representam forma, cor, qualidade e função. Mas cada um representa para uma forma diferente uma função diferente. E agora vemos como, por causa dessa lei harmônica de sucessão, uma forma deve a seu devido tempo dar caminho a outra e uma função dar forma à seguinte.

De fato, encontramos um modelo arquetípico para a evolução de todas as progressões. Cada seqüência em tempo ou densidade segue essa razão de oitavas, sejam as notas audíveis da escala musical, as cores visíveis do espectro ou o crescimento tangível de formas orgânicas. Todas as progressões e processos na Terra, trazidos à existência pela tríplice força da criação, continuam e procedem conforme essa lei de influências sucessivas.

Se a seqüência de planetas, em sua vasta marcha através do tempo, ressoa as notas de oitavas intermináveis, podemos estar certos de que os próprios quanta de luz, em sua imensurável viagem, fazem o mesmo. A natureza, o homem, o inseto e a célula movem-se todos no tempo e vivem sua existência dentro desse esquema harmônico. Tão inevitavelmente quanto o tempo avança, essa influência sucede àquela e ora um ora outro aspecto do homem ou do empreendimento é galvanizado dentro da vida pela sucessão rítmica. Assim como mi segue , o amarelo deve seguir o laranja, o nascimento a gravidez e o arado de março preceder o germinar de abril. Nenhum poder na Terra pode alterar essa inevitável seqüência nem substituir essa variedade pela monotonia de uma só verdade.

Todas as variações de um tema são devidas a isto. A vida é uma idéia solar, mas a escala de seres vivos - metais, minerais, plantas, micróbios, animais e homens - é sua forma planetária. O metal, por sua vez, é uma idéia. Mas chumbo, mercúrio, ouro, prata, zinco, cobre e ferro são suas variações planetárias. E, como vemos de nossa oitava, cada variação tem sua hora, assim como cada um de nós tem a sua.

É por essa razão que o homem, no intuito de perpetuar para seus propósitos próprios uma nota ou uma faceta de compreensão, está condenado à desilusão. Por essa razão, os processos que ele inicia mudam de natureza perante seus próprios olhos. Se um planeta hoje move seu coração, outro moverá sua razão amanhã e um terceiro sua paixão no dia seguinte. O movimento humanitário que ele empreendeu sob Júpiter torna-se escolástico sob Saturno e sangrento sob Marte. Os céus tocam escalas em seus teclados e ele não pode senão soar as notas tocadas.

Mas estaríamos equivocados se considerássemos que o efeito dessa seqüência vai inteiramente contra a ambição legítima do homem. A lei de oitavas é uma parte essencial da estrutura do universo e aplica-se a cada uma de suas partes e processos. A ela deve-se aquela incrível profusão de cor, forma, tom e função que deleita o homem, estimulando-o eternamente a novos esforços e compreensões.

Estaríamos errados se interpretássemos a idéia de influências sucessivas de uma forma moralista ou víssemos nela um determinismo duro e inflexível. A passagem de uma influência a outra não significa que é tomado do homem muito daquilo que ele gostaria de manter, mas também muito daquilo do qual gostaria de se libertar. Quando o frio e a escuridão do inverno tornam-se intoleráveis, é isso o que traz a primavera. Quando a doutrina medieval expandiu-se insuportavelmente rígida, foi isso o que trouxe o Renascimento. E quando parece certo ao homem que nada do que ele possa projetar poderá salvá-lo da loucura de sua própria barbárie, é isso o que lhe assegura que os céus deverão despertá-lo a tempo para outro aspecto de sua natureza, trazendo-lhe uma oportunidade nova e inimaginável.

Essa harmonia sempre variável de ritmo planetário ensina-nos duas lições: primeiro, que a história repete a si mesma e, segundo, que a história jamais se repete. Ainda que cada ciclo retorne com uma exatidão que torne possível calcular as efemérides com três anos de antecipação e confiar que ele trará infalivelmente o mesmo ímpeto para a procriação ou a guerra, especulação ou suicídio, um outro ciclo entrecruzando-o diferentemente sempre traz à cena um novo matiz e uma outra possibilidade. E, mesmo que ao final de séculos todos os ritmos planetários retornassem outra vez à mesma conjunção, ainda assim o avanço infinitesimal de um ou o atraso de outro impediria uma repetição exata do que aconteceu antes. O próprio Sistema Solar permaneceria numa relação diferente com o foco da Via Láctea e receberia alguma nova influência até então intangível, assim como uma música imperceptível tocada fora de cena pode alterar completamente a atitude do espectador perante o jogo de luzes da representação.

Tudo retorna novamente e nada retorna de novo. Se as grandes conjunções se repetissem exatamente, então tudo seria o mesmo que antes. Depois de 2.147 anos, o mesmo Alexandre, ensinado pelo mesmo Aristóteles, lideraria os mesmos gregos contra os mesmos persas, cruzaria os mesmos desertos e vales, pedra por pedra, em direção às fabulosas cortes da Índia. O Criador do universo não é tão simples. Talvez outro Alexandre, mas de que raça e qual educação? Talvez outra marcha ao Oriente, mas com que armas e intenções? Talvez outra apoteose no Egito, mas quem desempenha o papel e qual sua forma e significado?33a

O universo é simples apenas para os adivinhos. O homem pode calcular esta ou aquela probabilidade e, de modo geral ou reduzido, chegar a acertar. Mas não importa o quanto sua previsão seja elaborada. O destino tem sempre outro fator de reserva. Os céus devem sempre deixar aberta a porta de saída; pela boa razão de que são infinitos.



III A Circulação de Luz: Visível e Invisível

Se considerarmos a Lua e os planetas em relação com a Terra (e nunca devemos esquecer que esse é o único ponto de observação do qual o estudo científico do sistema solar tem sido feito), veremos que eles enquadram-se naturalmente em três grupos:


(a) Visíveis a olho nu, dentro da órbita da Terra -


Lua, Mercúrio e Vênus.


(b) Visíveis a olho nu, fora da órbita da Terra -


Marte, Júpiter e Saturno.



(c) Invisíveis a olho nu, fora da órbita da Terra -



Urano, Netuno e Plutão.

Se alegássemos que a percepção humana utiliza um critério muito arbitrário para classificação, poderíamos contra argumentar que de fato ele não é tão arbitrário assim como os cientistas estão inclinados a acreditar. Como estabelecemos no Capítulo I, um homem é um cosmos cujos tempos e percepções contêm uma relação cósmica definida com tempos e percepções de cosmos menores e maiores. Logo, sua percepção, dadas as suas limitações, tende a dividir os fenômenos de um modo significativo e não acidental. Não é acidente, por exemplo, que todos os movimentos de crescimento orgânico e todos os crescimentos de corpos celestiais permaneçam fora do alcance de sua percepção, invisíveis a ele. A relação-tempo do cosmos humano, tanto com o cosmos da Natureza quanto com o cosmos do Sistema Solar, assegura-nos isso mecanicamente.

Assim, para descobrir seu lugar real e possibilidades no universo, o homem deve retornar ao estudo crítico de sua desamparada percepção. Isso mostrar-lhe-á o que ele é e de onde pode começar. Os telescópios, microscópios, estetoscópios, rádio, radar, o cinema e tudo mais são de fato imitações mecânicas de faculdades humanas superiores das quais ele não chega a desfrutar. O perigo reside no fato de que elas podem hipnotizá-lo, fazendo-o acreditar que já possui essas funções superiores, persuadindo-o assim de que se encontra numa posição diferente da que na realidade ocupa. Com tal imaginação sobre si mesmo, ele nunca poderá avançar.

Assim, ao longo deste livro, serão feitas certas recorrências no sentido de evidenciar a própria percepção do homem, embora, em nossa época, a influência da ciência teórica sobre a mente seja tal, que o recorrer à percepção direta pode ser considerado superstição.


Vejamos então para onde nossa divisão de planetas em visíveis e invisíveis nos conduz. Em primeiro lugar, a ‘visibilidade’ ou ‘invisibilidade’ expressam-se em mais de uma maneira. Os planetas conhecidos na antigüidade, por exemplo, não eram apenas visíveis fisicamente, mas tinham seus ciclos repetidos várias ou muitas vezes ao longo da vida de um homem, podendo ser assim estudados em todos os seus aspectos. Em contrapartida, Urano, Netuno e Plutão estão não somente além do alcance da visão humana, como também têm ciclos (84, 164 e 248 anos respectivamente) que estão além do alcance da vida humana.

Urano, no entanto, está apenas um pouco além da visão natural do homem e pode até mesmo ser detectado por um olhar aguçado, assim como seu ciclo, que se estende apenas um pouco além da duração média da vida humana, podendo dessa forma ser acompanhado por um homem de idade avançada.

Devemos estar corretos, portanto, ao pensarmos nos tradicionais planetas ‘visíveis’ como uma oitava e nos restantes ‘invisíveis’ como o começo de uma segunda oitava, da mesma forma que as tradicionais cores ‘visíveis’ formam uma oitava de vibrações e a restante, de radiação ultravioleta, o começo de uma outra. Posteriormente, veremos que, mesmo dentro dessa oitava visível, existem certos intervalos que são preenchidos ‘invisivelmente’, como pelos Asteróides, por exemplo.

Desse modo, esse esquema pode ser expressado na forma de um círculo. Tal esquema dos planetas numa oitava visível e noutra invisível não é peculiar aos seres humanos na Terra, mas resulta da relação entre criaturas de escala humana e o Sistema Solar como um todo, não importando qual parte dele elas habitem. Para a percepção humana, no planeta Marte, por exemplo, Mercúrio teria desaparecido completamente, ofuscado pelo brilho do Sol, enquanto que Urano teria quase que certamente se tornado visível. Para a visão de um homem situado em Júpiter, Vênus seguiria Mercúrio em invisibilidade, mas Netuno, por sua vez, entraria em seu campo de visão. Assim, para seres cósmicos na escala do homem, em qualquer parte do universo, cinco planetas e um satélite ou satélites seriam provavelmente visíveis e o restante seria invisível. Assim, nosso círculo parece um diagrama geralmente aplicável, no qual, de qualquer modo, os pontos individuais teriam significados diferentes do ponto de vista de outros planetas.

No céu de cada um dos planetas, haverá, portanto, sete corpos maiores ou séries de corpos - Sol, Satélite(s) e cinco outros planetas. Os sete visíveis de nossa Terra são Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Entre eles existe uma circulação de luz. É essa reflexão da mesma luz solar o que os faz simultaneamente visíveis e a falta dela o que torna Urano e Netuno invisíveis para nós, e assim, fora dessa circulação em particular.

Essa circulação de luz é o movimento que vai da máxima luminosidade que conhecemos - a do Sol - até a invisibilidade, voltando em seguida à luminosidade novamente. Nessa pulsação entre escuridão e luminosidade, todas as partes do Sistema Solar estão constantemente envolvidas, assim como todas as partes do corpo humano estão constantemente envolvidas na pulsação entre as artérias carregadas de oxigênio e as veias carentes dele. Mas como se efetua essa circulação? O Sol emite luz, assim como o coração bombeia o sangue. Mas o que acontece então? Como essa pulsação de brilho e escuridão se manifesta?

Acrescentemos ao círculo que mostra os sete corpos celestiais visíveis, cifras representando suas médias de magnitude. Acrescentemos primeiramente as séries internas e a seguir as séries externas por ordem de brilho.

Se acrescentarmos posteriormente os dois pontos mais brilhantes representados pela Lua e Júpiter e os menos brilhantes representados por Saturno e Mercúrio e fizermos um ponto de intersecção representado na primeira linha pelo máximo de luminosidade que conhecemos, isto é, a do Sol (-27.6 mag.) e na segunda o ponto de invisibilidade (mag. 6), encontraremos a cifra (142857), que se torna agora uma escala móvel completa de luminosidade.

Partindo do ponto de invisibilidade e indo em direção a Saturno, ascenderemos por toda a gama possível de brilho celestial até alcançarmos o do Sol; então, mais adiante, descenderemos mais uma vez ao ponto de invisibilidade no qual iniciamos. Adicionalmente, podemos subscrever sob essa linha o aumento e redução em magnitude dos diferentes planetas já descritos no último parágrafo e demonstrar assim seus movimentos individuais para trás e para frente dentro da circulação geral. E finalmente poderemos ver pela intersecção das duas linhas como o máximo de brilho numa linha coincide com a invisibilidade na outra, isto é, como todos os planetas somem de vista em sua conjunção com o Sol.

A mesma figura também indica, se pudermos lê-la, a direção de desenvolvimento de cada um dos planetas. Vemos, por exemplo, como Mercúrio está emergindo de uma invisibilidade criada pelo brilho do Sol, ao passo que Saturno move-se numa invisibilidade criada pela distância. Vemos como Júpiter está ele mesmo evoluindo rumo ao esplendor de um sol, enquanto que a Lua não é mais que um ramo recente daquele brilho.

De fato, essa estranha cifra - 142857 - pode explicar-nos uma infinidade de coisas, porque nela resvalamos num enigma matemático que na verdade oculta uma das leis fundamentais do universo. Quando a unidade é dividida por sete, esse decimal recorrente - 142857 - é o resultado. E, quando um cosmos completo é dividido entre seu princípio de vida e seis funções, é precisamente a seqüência desse número a que representa a relação entre eles.

Se, por exemplo, olharmos o decimal como composto de seis quantidades separadas, assim:


,1

,04

,002

,0008

,00005

,000007

temos uma série que parece representar a massa relativa dos órgãos que controlam as várias funções num cosmos. É essa seqüência que explica a extraordinária variação em massa - num total de centenas de milhares de vezes - entre as glândulas que controlam o corpo, ainda que pareçam desempenhar papéis aproximadamente iguais. No sistema solar, ela explica a mesma variação extraordinária na massa dos principais corpos celestiais, de Júpiter (,001 da massa do Sol) e Saturno (,0003) até os maiores satélites, cuja média é de apenas ,00000007. E, mediante ela, podemos ver como a massa total de planetas, asteróides, luas e cometas que compõem o todo está infinitamente dividida.

No presente, contudo, estudaremos essa cifra como um símbolo da circulação de luz dentro do sistema solar e veremos que é essa circulação de luz o que conecta todas as partes desse sistema com todas as outras partes, o que leva todas as possibilidades a todas as partes. Exatamente como a circulação sangüínea une todos os órgãos do corpo humano e torna tal corpo um sólido, em vez de uma armação vazia, ou a circulação de idéias conecta diferentes tipos tornando-os um grupo, em vez de um número de indivíduos isolados, assim também essa circulação de luz torna o Sistema Solar um sólido, em vez de uma coleção de esferas remotas e independentes. Precisamente por ser um sólido, nenhuma parte está separada da outra e o todo está acessível àquele que puder descobrir o segredo.


Anos 24 27 30 32 36 40 45 48

Notas do re mi fá sol lá si do

Para os planetas interiores, encontramos ainda uma série de tempos mais curtos baseados desta vez não em suas conjunções maiores com o Sol e o zodíaco, mas em suas conjunções menores com o Sol e a Lua. Essa segunda série é naturalmente medida em meses lunares (29 1/2) e não em anos solares.26

Marte X 3

Vênus X 4

Asteróides X 5

Mercúrio X 20

Vênus X 4 1/2

Vênus X 5

Mercúrio X 25

Marte X 4

Marte X 4 1/2

Vênus X 6

Mercúrio X 30

Marte X 5

Vênus X 7 1/2


Marte X 6


Vênus X 8


Asteróides X 19


Mercúrio X 40



Figura 6: A Oitava dos Planetas (sublinhado = invisível)

Figura 7: A Circulação da Luz (magnitudes estelares)