segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Capítulo V - O Sol

I O Ser Físico Do Sol

Na primeira parte do século dezessete, Robert Fludd, um médico inglês, traçou uma harmonia matemática do universo na qual o Sol encontrava-se exatamente a meio caminho entre o Absoluto e o Homem. Por tamanho, energia, tempo de vida e responsabilidade, o Sol era representado soando a nota média de um ‘monocórdio’ cósmico. Assim, do ponto de vista do homem, situado abaixo do Sol, as leis e a natureza das forças superiores do universo estavam expressas por intermédio do Sol físico e melhor compreendidas em sua ação. Essa idéia revelar-se-á um enfoque útil a todo nosso conhecimento técnico.

Uma das primeiras coisas que devemos perceber sobre o Sol é que nós não podemos saber de seu interior ou de suas qualidades interiores mais do que saberíamos do interior ou qualidades interiores de um corpo humano estudando-o a cem metros de distância. O que estudamos e experimentamos sobre o Sol refere-se à sua superfície e radiações desprendidas dela. Todas as teorias a respeito do interior do Sol, sua temperatura, pressão e natureza são apenas resultado de deduções. E é válido lembrar que pelo menos três ou quatro teorias originais e legítimas sobre a composição do Sol e a geração de energia solar foram consecutivamente aceitas e abandonadas pelos cientistas durante os últimos cem anos.22

Esse Sol, por cuja energia os planetas giram e o mundo da Natureza vive, apresenta-se como uma grande esfera radiante que calculamos seja um milhão de vezes maior que a da Terra. A olho nu, seu brilho ofuscante gradua-se um pouco do centro às extremidades, dando a impressão de uma nuvem incandescente. Através de um telescópio, vê-se que essa nuvem não é apenas incandescente, mas que também se encontra num constante estado de fluxo semilíquido e semigasoso. Em alguns pontos, num mar incandescente, desenvolvem-se grandes vórtices de chamas e de força que em poucas horas podem lançar esguichos de fogo a uma distância de um milhão de quilômetros no espaço. Enquanto isso, seu fundido equador, como as saias de uma bailarina, gira mais rápido com a rotação da grande esfera.

Um telescópio revela outro aspecto do disco solar. Toda a sua superfície ofuscante apresenta uma granulação resplandecente com grãos mais brilhantes ainda, que cintilam e mudam de lugar a cada minuto sobre um fundo opaco. Esses grãos de luz são na realidade poços de gases mais quentes que provêm do interior. Os dois ou três milhões deles que transpiram o calor interno do Sol correspondem aproximadamente ao número de glândulas sudoríparas que esfriam o corpo humano. Esses poros solares, com um diâmetro de quinhentos ou mil quilômetros, suando lagos de fogo tão grandes quanto o Mar Negro, recordam vivamente a relação entre o cosmos do Sol e o cosmos do homem, sobre o qual conhecemos mais intimamente.

Apesar de a massa total estar estimada em 90% de hidrogênio, a luz desprendida pela superfície solar incandescente quando examinada por espectro-análise revela ter as radiações de todos os elementos conhecidos na Terra. Esses elementos ordenam-se em camadas. A superfície granulada visível, conhecida como fotosfera, compõe-se de pesados vapores metálicos que formam uma crosta gasosa ou epiderme sobre o que quer que possa haver dentro. Acima disso, situa-se uma atmosfera incandescente e translúcida de hidrogênio e hélio chamada cromosfera. Mais além desta, flameja novamente uma coroa de brilho que à ocasião dos eclipses aparece como um campo magnético visível que se estende por muitos milhões de quilômetros no vazio do espaço.

A misteriosa forma mutante dessa coroa, que num momento parece um halo e noutro um par ou duplo par de asas, pode ser reproduzida e explicada por um simples experimento. Se espalharmos pó na superfície da água e uma maçã trespassada por uma agulha e, submersa pela metade, for posta a girar, o movimento das partículas de pó criarão um campo similar à coroa, podendo reproduzir todas as suas variadas formas mediante a mudança de ângulo entre a agulha e a superfície. Portanto, a coroa parece ser o traço em partículas luminosas do campo de força criado pela rotação do Sol sobre seu eixo, algo próximo talvez da aura de calor físico e magnetismo que envolve um ser humano.

Há, todavia, outra emanação do Sol mais atenuada. Ela apresenta-se para nós como a luz zodiacal, um brilho pálido que se estende do Sol até grandes distâncias através do plano da eclíptica e visível a olho nu como um rastro luminoso que segue ou precede o Sol nascente ou poente. A luz zodiacal representa claramente uma nuvem em forma de lente de alguma matéria rarefeita, como se fosse uma segunda aura ou aura exterior do Sol estendendo-se numa forma atenuada tão abrangente, que alcança a órbita da Terra. Essa nuvem difunde a luz do Sol como o fazem as atmosferas dos planetas e mais adiante notaremos que o planeta que não possui atmosfera própria, Mercúrio, encontra-se imerso nessa nuvem e talvez até pudéssemos dizer que ele toma emprestado ou desfruta da atmosfera do Sol.

A fotosfera, a cromosfera, a coroa e a luz zodiacal representam assim quatro camadas sucessivas e emanações do corpo solar.

Na cromosfera, a parte do Sol mais acessível ao nosso estudo é o hidrogênio, o elemento ativo mais ligeiro e simples conhecido pelo homem e que forma uma espécie de oceano de nuvens flocadas sobre toda a superfície. O elemento passivo complementar parece ser o cálcio, pois fotografias do Sol com luz de cálcio e hidrogênio, isto é, do hidrogênio e do cálcio no Sol, respectivamente, surgem como impressões positiva e negativa da mesma imagem.

Devido a certa ação que acontece na cromosfera, onde essas nuvens de cálcio e hidrogênio fervem como num caldeirão de água fervente, toda a imensa radiação que sustenta o Sistema solar é emitida. Sob o ponto de vista do homem, as características mais evidentes dessa radiação são luz e calor. É até mesmo óbvio para ele que o Sol represente a fonte, a origem, como se fosse o absoluto dessas duas qualidades. Ao mesmo tempo, intensificados no nível em que estão no Sol, calor e luz são evidentemente incomparáveis com o que quer que nós possamos compreender por essas palavras na Terra e nenhuma multiplicação de cifras representando temperatura ou brilho poderia dar-nos uma idéia de seu significado.

A temperatura do interior do Sol, por exemplo, está estimada em 20.000.000 oC, uma temperatura da mesma ordem que o núcleo central de uma explosão atômica. Não sabemos o que isso significa. Mesmo a temperatura da superfície do Sol, estimada em 6.000 oC, está muito acima do requerido para todas as substâncias da Terra, incluindo-se ferro e níquel, para que fervam e evaporem-se. Vaporizando-se, tais substâncias expandem-se de mil e quinhentos a duas mil vezes o volume que ocupam em estado líquido ou sólido. Se a Terra fosse elevada à temperatura da superfície do Sol, ou seja, se fervesse, ela se tornaria uma esfera radiante de gás de 160.000 quilômetros de diâmetro, enquanto que, se o Sol esfriasse à temperatura da Terra, seria solidificado a um tamanho não muito maior do que o planeta Saturno. Assim podemos dizer que o tamanho enorme do Sol em relação a seus planetas é apenas um produto derivado de seu intenso calor. De forma recíproca, se esses planetas pudessem adquirir tal calor, alcançariam também o tamanho e a potência dos sóis.

Até o brilho da radiação depende diretamente da temperatura. O calor do ferro incandescente e das rochas chega a 500 oC, de modo que, se a superfície da Terra ultrapassasse essa temperatura, também ela começaria a brilhar com luz própria. Por outro lado, se chegasse até nós um Sol diminuído e sólido com uma temperatura abaixo desta, o Sistema Solar inteiro seria tragado na escuridão num jogo de esferas sem luz e sem vida num sótão vazio. É necessário pouca imaginação para compreender que tal sistema, se pudéssemos supô-lo, seria um cadáver, um corpo astronômico no qual o coração teria cessado de bater, o calor de fluir e as diferentes partes teriam cessado de ter qualquer coesão ou significado em comum.

Assim, o que tentamos medir em graus Fahrenheit ou Centígrados deve ser algo análogo ao poder criador, à própria vida. Deve ser um estado de ser, algo muito independente do material do qual o Sol está composto, assim como a consciência no homem é independente dos elementos que compõem o corpo humano. Na verdade, o Sol e seus planetas parecem não diferir muito em composição, mas apenas em estado de ser - e que, por falta de melhor medida, calculamos e qualificamos como calor.

Cada mudança de temperatura e brilho cria efeitos enormes. As manchas, vórtices rodopiantes tão grandes quanto os planetas e 1.000 oC mais frios que o resto do disco solar, atuam como verdadeiros planetas para criar campos magnéticos próprios, os quais afetam profundamente tanto a atmosfera da Terra quanto os campos magnéticos daqueles. Manchas solares podem, na verdade, ser olhadas como planetas potenciais dentro do corpo do Sol, sementes não fertilizadas de planetas, por assim dizer. E é mais do que provável que os atuais planetas tivessem sido em sua origem projetados no espaço à existência independente através de vórtices exatamente iguais a esses.

Os separados campos magnéticos de manchas solares, sobrepostos ao grande campo magnético do Sol, refletem-se na Terra nas luzes setentrionais, nas tempestades elétricas e em perturbações nas inúmeras fases da atividade do homem e produtividade da natureza. De fato, podemos considerar que produzam efeito exatamente pelas mesmas leis que estabelecemos para a influência planetária e em um ritmo comparável.

A atividade das manchas solares segue um ciclo claramente estabelecido de onze anos em cujo tempo as manchas não têm apenas aumentos e baixas de número, mas também a faixa na qual parecem mover-se, descende continuamente até o equador para reaparecer numa latitude maior. Essa pulsação de onze anos, de acordo com a relação de tempo já estabelecida,23 corresponde exatamente na escala de tempo do Sol às freqüências magnéticas na escala do homem. Assim, alguma relação íntima parece existir entre o campo de vibrações sentido como magnetismo pelos diferentes cosmos. Podemos mesmo dizer que o período das manchas solares é nossa forma humana de registrar o ‘magnetismo pessoal do Sol’. É surpreendente que esse período possa afetar tão profundamente toda a vida que procede dessa fonte.

O Sol atua sobre o homem e a natureza terrestre de formas diferentes por meio de duas categorias diversas de energias transmitidas em distintas velocidades. Como já dissemos, o Sol transmite vida à Terra por meio da luz. Mas ele também transmite forma à Terra por meio do magnetismo. Sem dúvida, no princípio, ele até mesmo expeliu a própria matéria para que esta fosse dotada de vida e forma. Assim, todas as coisas, todas as influências, toda a vida, matéria e forma podem ser consideradas como emanadas do Sol na plenitude e totalidade do tempo.

Assim como a administração de uma certa quantidade de matéria é delegada à Terra durante seu tempo de vida, também certa parte do trabalho formativo efetuado através dos campos magnéticos é delegada aos planetas. É nesse sentido que, ainda que vida, forma e matéria derivem todas do Sol, de nosso ponto de vista, deveríamos atribuir aos planetas os custódios da segunda e, à nossa Terra, os da terceira.

A radiação da luz e vida tem permanecido, no entanto, um privilégio único do Sol. Durante todas as épocas cobertas pela história, a lenda e a investigação humanas, a radiação do Sol permaneceu praticamente constante. Qualquer mudança numa só magnitude em seu brilho destruiria a vida na Terra fervendo ou congelando toda água nela. Ainda assim, todas as formas fossilizadas de vida dão testemunho de tais mudanças apenas na temperatura terrestre como resultante de uma pulsação quase imperceptível de calor solar.

Saiba-se que, talvez por três bilhões de anos, o Sol verteu sua imensa e invariável força na sustentação de seus planetas e do espaço entre eles. Durante todo esse tempo, esse campo de energia foi suficientemente pródigo tanto para lançar Netuno, três bilhões de quilômetros distante, em sua órbita, quanto suficientemente delicado para elevar a seiva do caule de uma simples planta. Qual a fonte de uma energia tão imensa e constante e qual sua natureza?

II Hidrogênio Em Luz

Uma resposta interessante a essa pergunta foi proposta por Bethe Cornell. Está baseada na possibilidade de que, nas condições existentes no Sol, os átomos de diferentes elementos não são imutáveis, podendo desintegrar-se e recombinar-se, liberando energia no processo, assim como na Terra as moléculas podem desintegrar-se e recombinar-se em novas substâncias e organismos enquanto emitem calor, luz e magnetismo, assim como na Terra, quando uma molécula de madeira é queimada, torna-se uma molécula de cinza, liberando, dessa forma, calor molecular. Mas no Sol seria o átomo o que seria consumido, formando um outro tipo diferente de átomo e desprendendo assim energia atômica.

O átomo, como é geralmente conhecido, consiste de um núcleo central ao redor do qual gira certo número de elétrons, variando de acordo com o elemento que o compõe. O átomo mais simples é o de hidrogênio com um elétron. O hélio possui dois, enquanto o carbono, o nitrogênio e o oxigênio possuem seis, sete e oito respectivamente.24 Mas, em alguns casos, um elemento pode variar ligeiramente sua massa atômica, isto é, embora tenha o número correto de elétrons que lhe é peculiar, ele pode estar ligeiramente reduzido de peso e ser instável, tendendo a transformar-se no elemento mais leve que estiver mais próximo ou estar ligeiramente mais pesado e estar num nível mais próximo do seguinte mais pesado. Esses variantes nos elementos são chamados isótopos.

Já destacamos que o elemento ativo no Sol parece ser o hidrogênio em quantidade quase ilimitada. Bethe Cornell supunha que, nas condições de incrível força e tensão existentes no Sol, os átomos de hidrogênio com seu único elétron estariam bombardeando constantemente átomos de carbono de seis elétrons e, com tal violência, que se combinariam para formar átomos de nitrogênio de sete elétrons. Mas esses átomos de hidrogênio são leves e instáveis e o elétron liberado irradiar-se-á no espaço como um raio livre de sol, deixando para trás um átomo de carbono. Pesado, desta vez. O próximo átomo de hidrogênio a colidir irá combinar-se para produzir um átomo estável de nitrogênio. Exatamente da mesma forma, uma nova colisão com um átomo de hidrogênio levará o nitrogênio a converter-se num átomo leve de oxigênio, do qual novamente um elétron livre escapará no espaço como energia radiante. Resta agora um átomo pesado de nitrogênio, que será bombardeado pelo hidrogênio. Dessa vez, entretanto, produz-se um resultado diferente - o próprio átomo de hidrogênio captura um dos elétrons do nitrogênio para formar um átomo de hélio com dois elétrons, ao passo que o átomo de sete elétrons do nitrogênio se reduzirá ao átomo de seis elétrons do carbono com o qual começamos.

O resultado líquido do ciclo é que quatro átomos de hidrogênio foram consumidos para formar um átomo de hélio e dois raios de sol. Gamow calculou que a quantidade de hidrogênio disponível no Sol seria suficiente para gerar por esse processo toda a radiação solar requerida pelo Sistema Solar por quarenta bilhões de anos.

Física e logicamente, a explicação procede. Mas, à medida que a examinarmos mais cuidadosamente, começaremos a reconhecer algo familiar na seqüência descrita. Quando estivemos estudando os diferentes processos resultantes da combinação de três forças no Sistema Solar, tínhamos chegado à conclusão de que o processo de crescimento (a) seguia a ordem Sol, Terra, Planetas, ou seja, ativo, passivo e mediador, ou, como filosoficamente colocamos, espírito penetrando matéria para dotá-la de forma. Também dissemos que essas combinações de três forças devem existir em cada nível do universo, dando sempre lugar a processos análogos.

Ocorre-nos agora que esse processo de crescimento é exatamente aquele que descrevemos. O hidrogênio, elemento ativo, penetra no carbono, elemento passivo, para produzir um elemento intermediário, o hélio, além de uma certa radiação de vida que é precisamente a marca dessa ordem. A produção de energia pelo Sol é da natureza do crescimento. Ela é o crescimento do Sistema Solar.

Para onde conduz esse processo de crescimento solar do qual nós e tudo o que conhecemos somos produto? Como esse redemoinho de força solidifica-se na vida que vivemos e reconhecemos? Para responder essa pergunta, devemos recuar um passo.

O elemento ativo no Sol é o hidrogênio e isso é muito interessante, porque o átomo de hidrogênio com seu único elétron girando ao redor do núcleo, encontra-se na fronteira entre matéria em estado eletrônico e matéria em estado molecular. O hidrogênio e toda a matéria mais densa combinam-se com outras matérias, átomo por átomo, para formar moléculas. Mas o próximo grau de rarefação superior do hidrogênio resulta em elétrons livres ou manifestações da matéria em estado eletrônico, ou seja, em luz, ondas magnéticas e assim por diante.

No ciclo do carbono vimos como acontece essa transição do hidrogênio (ou seja, matéria em estado molecular) em raios de luz (isto é, matéria em estado eletrônico) no Sol. De fato, um processo comparável toma lugar no homem quando o ar que ele respira (matéria molecular) é finalmente transformado em impulsos nervosos de pensamento e emoção (matéria eletrônica), tornando-se, nessa condição, penetrante o suficiente para afetar outros, ajudando-os ou atrapalhando-os, ainda que transmitido a grande distância. Um homem que durante um alegre passeio tem um pensamento interessante e transmite-o por telefone ao amigo de uma cidade próxima, aumentando-lhe o bem-estar e a felicidade, está de fato utilizando a transformação de matéria molecular em eletrônica, do mesmo modo que o Sol quando irradia energia para a Terra.

A transformação de hidrogênio em luz descrita por Bethe Cornell representa a mudança da matéria a um estado em que ela pode ser transmitida a longa distância. Assim, se do cálcio do Sol pode ser dito que corresponde a seu corpo físico, a cromosfera ou esfera de hidrogênio seria sua ‘vida’ e a radiação solar de vários tipos representaria seu ‘pensamento’ e ‘emoção’.

De acordo com a teoria quântica, desenvolvida por Max Planck, essa radiação não é transmitida continuamente, mas numa série de pulsações sucessivas ou quantum, cada uma das quais representando uma quantidade mensurável de energia, a qual mantém uma relação fixa com a longitude da onda de luz. Um quanta é um impulso que abarca alguns milhares de ondas de luz e que está separado do quanta seguinte por alguma forma de intervalo.

Em outras palavras, se uma onda de luz representa um dia para um elétron, um quanta está quase que com certeza conectado com a vida de um elétron. É uma tentativa de medir a quantidade de energia gasta por um elétron livre durante sua vida. Como já vimos, quanto mais alta a freqüência da radiação, maior a quantidade de energia que representará um quanta, isto é, maior energia e poder de penetração conterá a vida de um elétron. Um elétron que transmite luz azul estará vivendo ativamente com mais intensidade do que um elétron que transmite luz vermelha, exatamente como o homem que transmite os impulsos da emoção vive mais intensamente que outro que só transmite os frios impulsos do pensamento.

Além disso, esse elétron livre projetado no espaço com sua minúscula carga de energia vital é produto do hidrogênio. Assim, do que foi dito acima, está claro que grandes quantidades de hidrogênio devem estar presentes para que qualquer corpo emita por si uma luz de radiação comparável. O hidrogênio é, por assim dizer, a matéria dos sóis, o combustível do qual esses sóis criam as radiações necessárias para transmitir vida a seus sistemas.

Em relação a isso, é interessante notar que os dois planetas em cuja composição o hidrogênio parece ocupar um papel dominante são Júpiter, cuja atmosfera parece estar composta principalmente por amônia (NH3) e metano (CH4), e Saturno, cuja atmosfera acredita-se ser constituída por hidrogênio e hélio. Ambos suportam sistemas completos de satélites e podem ser vagamente autoluminosos, embora essa luminosidade passe despercebida pela grandeza infinitamente maior do Sol. De qualquer modo, como supusemos ao considerar o processo de regeneração, eles estão tentando evidentemente se tornar sóis também.

O que ocorre à luz criada pelo Sol a partir do hidrogênio, irradiada a todos os âmbitos do espaço? A metade de um bilionésimo dela é utilizada para vivificar a Terra. Em seis horas, o restante preenche cada recanto do Sistema Solar, até os confins da órbita de Netuno. No padrão de vida e percepção do Sol, um tempo assim é incomensuravelmente pequeno, equivalente a menos de um milionésimo de segundo do padrão do homem. Para o Sol, sua luz deve existir em todas as partes de seu sistema simultaneamente, tal como a consciência no homem.

De fato, se lembrarmos a conexão entre intensidade de luz e a velocidade orbital, o que já estabelecemos, vemos que, ao estudar a luz, estamos de fato próximos à natureza do Amor che move il sole e l’altre stelle’, do qual Dante falava.

Uma das mais surpreendentes qualidades dessa luz é que ela é irredutível e eterna. Estamos familiarizados com a lei de que a intensidade da luz a partir de um ponto dado diminui em proporção inversa ao quadrado da distância. Mas isso se refere à quantidade de energia registrada numa dada área receptora. Se recordarmos que, à medida que a distância aumenta, a esfera imaginária que recebe a luz cresce em área na mesma proporção, então percebemos que a quantidade total de luz recebida de uma dada fonte é exatamente a mesma, seja a uma distância de um milhão de quilômetros ou de dez metros. Nem uma só fração da luz de uma vela se perde, mesmo quando ela alcança as partes exteriores do Sistema Solar: ela está apenas difusa ao redor dessa prodigiosa circunferência.

Além disso, esse processo de difusão de luz sem perda continua indefinidamente. Como sabemos por observação das mais distantes galáxias, ela ainda continua por quinhentos milhões de anos depois de sua primeira emissão. Toda a luz que foi irradiada por tais galáxias ainda existe, embora agora a essa imensa distância.

Se a luz pode difundir-se e sustentar-se sem diminuir por meio bilhão de anos, seguramente ela pode fazê-lo para sempre. Isso significa que toda luz, de uma vela a um supersol, cedo ou tarde ocupa o universo inteiro. A luz é irreduzível, eterna e onipresente. Em cada religião que tenha existido essas qualidades foram reconhecidas como divinas. Assim, vemo-nos forçados a concluir que a luz - luz efetivamente sensível - é o veículo direto da divindade, é a consciência de Deus.

Quando alcança os planetas, contudo, essa luz ou matéria em estado eletrônico é gradualmente revertida ao estado molecular. Na Terra, as primeiras etapas desse processo têm lugar nas partes superiores da atmosfera ou ionosfera, onde a radiação solar cria íons de hidrogênio. Isso pode ser visto como um tipo de condensação ou cristalização de elétrons livres na mais refinada forma de átomo. Um processo semelhante ocorre provavelmente em todos os demais planetas, embora essa ‘saturação’ da atmosfera planetária com hidrogênio tenha avançado muito mais em Saturno e Júpiter que na Terra e mais nesta do que em Marte ou em Vênus.

Em todo caso, a combinação desses átomos de hidrogênio com átomos de várias substâncias já existentes na Terra dá lugar a todas as formas de vida conhecidas por nós.

Desse modo, fica claro que toda a vida na Terra é uma condensação de radiação eletrônica ou solar, assim como as gotas de água no vidro da janela representam a condensação do vapor de água em contato com uma superfície fria. Esse é o ‘crescimento’ do Sol.

Ao mesmo tempo, a criação de tal vida não implica em perda da natureza eletrônica da matéria, mas, como já vimos anteriormente, seu encerramento temporal em formas de aspecto variado e de maior ou menor densidade. Dentro dessas formas, os elétrons com sua afinidade pelo Sol, ainda existem. E, de fato, todas essas formas estão constituídas por esses elétrons. Posteriormente, quando essas formas ‘morrem’, como dizemos, significa apenas que o campo magnético que cria um certo aspecto individual, rompe-se, eliminando-se os elementos mais pesados ou terrenos que o constituem, sendo assim liberados os átomos originais de hidrogênio.

Isso equivale a dizer que a energia incorporada aos corpos físicos torna-se luz outra vez quando eles morrem. Se lembrarmos da conclusão a que chegamos sobre a natureza da luz, podemos dizer que, quando corpos físicos se desintegram, sua matéria retorna ao estado divino. A prova dessa tese é obstruída apenas pelo fato de que normalmente só concebemos consciência relacionada a corpos físicos ou matéria em estado celular. Efetivamente, isso só seria estabelecido de modo satisfatório levando-se a consciência à matéria em estado eletrônico.

A questão toda pode ser colocada assim: Estaria essa matéria em seu retorno ao estado divino acompanhada de consciência individual? Quem possui uma consciência individual suficientemente permanente e intensa para aproveitar essa expansão infinita de seu veículo? Sobre tais possibilidades muito pouco é verdadeiramente conhecido.

III Possibilidades No Sol

É dito que os cosmos são nutridos por três tipos diferentes de alimento, de diferentes níveis de matéria. O homem, por exemplo, come alimentos orgânicos sólidos derivados do Mundo da Natureza, respira o ar gasoso de seu planeta, a Terra, e é animado por percepções visuais da luz solar refletida. Ele é nutrido pela matéria livre dos três cosmos superiores a ele mesmo - Natureza, Terra e Sol. Visto por outro ângulo, ele flutua ou desliza num oceano dessas matérias superiores, podendo mesmo dizer-se que absorve o meio no qual vive assim como uma esponja absorve água.

O que nutre o cosmos do Sol? Com essa questão, não nos referimos a mudanças internas dentro do próprio Sistema Solar, por meio do qual seres ou matérias, desde que emanados pelo Sol, devem retornar a ele no final e, dessa forma, alimentar seu criador. Tal movimento é mais propriamente uma circulação interna dentro do grande corpo solar.

Que alimento o Sol recebe de fora de seu sistema? O que são essas matérias livres de cosmos ainda mais vastos pelas quais ele é sustentado? Se pudéssemos utilizar uma dedução antropomórfica inicial a partir de nosso próprio exemplo humano, diríamos que ele se alimentaria da matéria do sistema de Sírius, respiraria a matéria da Via Láctea e perceberia em virtude do Absoluto.

Esta última idéia está claramente muito além da nossa consideração. Da segunda temos algumas indicações científicas.

Em anos recentes, tem sido cada vez mais aceita a idéia de que as profundezas da Via Láctea, em vez do vazio aparente entre os sóis, estão preenchidas com nuvens gasosas formadas do mesmo gás que, acredita-se agora, esses sóis tenham originalmente se solidificado. Nos anos 40, Lyttleton e Hoyle desenvolveram a idéia de que esses sóis, ‘perfurando’, como eles descreveram, através deste gás, escavaram o meio através do qual passavam, deixando uma trilha vazia atrás deles. O gás interestelar, como eles disseram, é sugado pelo nosso Sol e ali consumido ou incorporado à sua massa.

Essa é uma descrição exata de um ser respirando o meio no qual ele passa. Da mesma forma, poderíamos dizer de um homem que ele atravessa pelo ar que absorve enquanto caminha ou corre.

Hoyle, mais adiante, supõe que depósitos de carvão em Spitzbergen e Antártica indicam que existiu uma vegetação tropical próximo aos pólos e que o Sol já foi mais quente do que é agora. De modo semelhante, as eras glaciais podem ter sido resultado de uma queda rápida em sua temperatura. Ele conecta isso com maiores ou menores quantidades de gás interestelar, ou seja, com ‘respirações’ mais profundas ou mais superficiais. Tais depósitos de carvão podem ter cem ou duzentos milhões de anos. Se nos reportarmos à nossa tabela de tempos cósmicos, veremos que tal período equivale a um dia solar. Combinando nossa própria linha de pensamento com a de Hoyle, podemos sugerir que as variações das quais ele fala estão conectadas com a mudança fundamental na natureza da respiração de um ser que acontece entre a noite e o dia, entre o sono e o despertar.

O ponto principal dessa idéia de ‘sustentação’ cósmica, contudo, é que o Sol está para a Via Láctea assim como o homem está para a Terra, esta para o Absoluto e o próprio homem para o Sol.

Várias observações sustentam essa primeira relação. Vemos a superfície ou plano da Via Láctea (é tudo o que podemos visualizar dela) povoada de milhares de sóis, assim como vemos a superfície da Terra povoada por milhares de homens. Esses sóis giram ao redor do eixo da galáxia assim como os homens giram ao redor do eixo da Terra. Podemos dizer que os sóis respiram a atmosfera da galáxia assim como o homem respira a atmosfera terrestre.

Tais são as implicações materiais da comparação. Mas e as metafísicas? Já vimos que, em relação ao homem, o Sol possui ao extremo os divinos atributos de onipotência, onipresença, eternidade, criação, sustentação e destruição. Que diremos então do Absoluto, tão divino para o Sol como este é para nós? Representaria a divindade ao quadrado? Se alguém teme que uma aproximação física do universo possa diminuir sua concepção de Deus, medite sobre isto: a divindade mais infinita para a qual ele puder orar não é mais que um grão para o Absoluto do Todo.

O melhor a fazer então é perguntar outra vez: o que é o Sol em relação ao homem? Por outro raciocínio, concluímos que o Sol contém todas as possibilidades para o homem. Examinaremos agora o significado dessa afirmação em maiores detalhes.

É um princípio geral que, quanto mais rara e fina é a matéria, maior o número de possibilidades contidas nela. Filosoficamente, dissemos que o Absoluto deve por definição conter todas as possibilidades. E, à medida em que descendermos na escala dos mundos, em cada nível o número de possibilidades contidas na matéria diminui.

Quando alcançamos o nível familiar de elementos terrestres, as possibilidades já estão claramente definidas e limitadas. Um átomo de ferro contém em si mesmo a possibilidade de combinar-se com outros átomos para formar uma série completa de moléculas - ele contém dentro dele mesmo a possibilidade de ser incorporado ao aço, à ferrugem, ao corante e até a uma passa ou ao sangue humano. Mas ele não contém naturalmente a possibilidade de tornar-se um átomo de cobre. Esta é uma limitação definida de possibilidades pertencente ao nível da Terra. De modo semelhante, átomos de carbono, oxigênio, nitrogênio e hidrogênio contêm entre si as possibilidades de toda a matéria viva. Mas não contêm a possibilidade de converterem-se uns nos outros. Na Terra, um elemento não contém naturalmente a possibilidade de outro elemento.

Se descendermos outro nível, para o mundo e escala do homem, vemos que são as moléculas que, por sua vez, começam a tornar-se fixas. Uma molécula de madeira contém em si mesma a possibilidade de converter-se numa partícula de uma mesa ou de um lápis, mas não contém a possibilidade de converter-se numa molécula de manteiga, ainda que os elementos que as constituam sejam os mesmos.

Olhando para as condições de nosso satélite, a Lua, parece-nos ver um mundo ainda mais baixo, onde, para nossa percepção, nada contém nenhuma possibilidade. Nada ali pode transformar-se em algo distinto, estando condenado a permanecer eternamente o que é. Esta é a antítese do Absoluto, o fim da criação, as trevas exteriores.

Voltando ao processo que parecíamos detectar no Sol, vemos um alcance de possibilidades muito maior que aquele que nos é familiar na Terra. Lá, um elemento pode transformar-se em outro. Na Terra, podemos abandonar um átomo de ferro à noite seguros de encontrá-lo na manhã seguinte. Tudo na nossa vida e percepção depende desse axioma. Mas, no Sol, isso não é verdade. Lá, o que num momento é um átomo de carbono pode ser, a seguir, um átomo de nitrogênio e, logo depois, oxigênio. Um elemento contém em si mesmo a possibilidade de outro elemento. Podemos até nos arriscar a dizer que, partindo do estudo dos princípios das reações atômicas em cadeia, um átomo de hidrogênio contém dentro de si a possibilidade de todos os outros elementos.

Torna-se claro agora o que o homem em seus esforços para dividir o átomo estava tentando fazer. Trabalhando com urânio, ele teve êxito ao separar o elétron de um átomo de densidade não natural, quase patológica. Isso ainda liberou energia numa escala incomparavelmente maior do que qualquer outra que ele tivesse concebido antes. Utilizando a força assim disponível como ponto de partida, ele então tentou fazer com que átomos de hidrogênio se combinassem para formar átomos de hélio, produzindo nesse processo uma energia praticamente ilimitada, exatamente como descrevemos.

O que de fato ele estava tentando era produzir na Terra um fenômeno que não pertence a ela, mas sim à natureza do Sol. A bomba de hidrogênio implica na criação de um sol em miniatura na Terra. O resultado dessa magia negra poderia apenas ser devastação completa e redução da vida em matéria inerte numa escala completamente nova. Esse processo também nos parece familiar. O homem prostitui força solar para produzir terra morta. A forma reduz espírito a matéria. Tal processo pode apenas ser de crime.

Ao tentar usar energia atômica, ou seja, ao tentar descobrir como transformar um átomo em outro o homem buscava penetrar no mundo onde a matéria contém todas as possibilidades. Provavelmente há uma entrada legítima para tal mundo. Se o homem pudesse descobrir como manter consciência moral individual quando sua matéria retornasse ao estado eletrônico, ele já poderia estar livre de tal mundo. E, do que deduzimos antes, parece que essa possibilidade está conectada com o problema da morte e o mistério dela.

Mas, evidentemente, há um modo ilegítimo de nos aproximarmos de tal mundo. Refere-se ao uso de leis científicas sem aumento de ser e de consciência moral no homem. Tal aproximação, dada a natureza das forças envolvidas pode apenas conduzir ao desastre.

Todavia, na escala do Sol, até isso carece de importância. Devemos dar-nos conta de que lá, no Mundo Solar, nada do que consideramos fixo é realmente fixo. Tudo o que vemos como permanente lá é passageiro, enquanto que o que vemos como transitório é eterno. Significa que, para nós, o Mundo Solar é inconcebível. Nele estão contidas possibilidades infinitamente maiores que as existentes em qualquer mundo que conhecemos ou imaginamos. Na verdade, se lembrarmos da relação entre os cosmos que já estabelecemos, iremos perceber que, enquanto o mundo da Natureza contém o tempo do homem e o mundo da Terra a sua recorrência, o Mundo Solar deve representar a sexta dimensão para ele, ou seja, o Sol contém todas as possibilidades para o homem.

Saia e olhe o sol no céu. Por que você fica como os olhos ofuscados? Por que você é incapaz de definir ou descrever o que vê? Por que tal impressão é incomparável com qualquer coisa que você conheça? Porque você está olhando através de um buraco em nosso cenário tridimensional para o mundo de seis dimensões.

A matéria do Sol ou matéria eletrônica está além da forma e do tempo. Está mesmo além da recorrência da forma e da repetição do tempo. Em relação ao nosso mundo, ela é imortal, eterna e onipotente. E o que quer que suas criaturas possam experimentar ou conceber, não será senão uma limitação de suas possibilidades ilimitadas.


(22) Por exemplo, a teoria da queda dos meteoritos de Mayer, a teoria da contração de von Helmhotlz, a teoria do sol de ferro de Eddington e a teoria de 35% hidrogênio, também deste.

(23) De acordo com as relações de tempo de nossa ‘Tabela de Tempos e Cosmos’ (Apêndice II), um período de 11 anos para o Sol corresponde a uma freqüência de 250 vibrações por segundo para o homem.

(24) Para nosso propósito atual não precisamos aprofundar a questão das órbitas ou camadas eletrônicas; elas serão tratadas no Capítulo VII, ‘Os Elementos da Terra’.

Figura 4: Campo de força criado por uma esfera em revolução