Consideramos todas as irradiações solares juntas como o princípio ativo em nossa tríade criadora, todos os planetas juntos como o princípio mediador e todos os elementos terrestres juntos como o princípio passivo ou matéria-prima. Assim como no último capítulo começamos a analisar a força formativa total dos planetas com suas notas componentes, analisaremos agora em maiores detalhes a natureza dessa matéria-prima.
Todo material terrestre é constituído por átomos, os quais, como Aristóteles sabia, são as menores partículas indivisíveis dos elementos. De acordo com teorias atuais, tais átomos consistem de um núcleo ou sol carregado positivamente de eletricidade ao redor do qual giram elétrons planetários infinitesimais carregados negativamente. O núcleo atômico é semelhante para todos os materiais, assim como o elétron, variando esses elementos entre si apenas pelo número de elétrons sustentados pelo núcleo e variações correspondentes em sua carga.
Apesar de seu tamanho minúsculo, muito material tem sido coletado sobre a estrutura do átomo e, a cada nova descoberta, ele assemelha-se mais ao nosso Sistema Solar. Exatamente como o Sol para o Sistema Solar e o óvulo feminino para o corpo humano, diríamos que o diâmetro do núcleo atômico pode ser de um décimo de milímetro de todo o átomo. E, assim como Júpiter para o nosso Sol, diríamos que seus elétrons podem ser de um décimo de milésimo do núcleo; de modo que, em sua própria escala, eles circulam numa imensidão de espaço tão vasta quanto a que engloba a Terra e os planetas similares.
Essa concepção é na verdade um tour-de-force para a razão humana, porque, para a escala de tempo da percepção ordinária do homem, o átomo realmente não existe nessa forma. Apenas seu traço sólido existe, assim como existe o traço sólido do Sistema Solar que tentamos visualizar num capítulo anterior. Assim como para nossa percepção o Sistema Solar está constituído de esferas que voam e só por um esforço de razão e dedução pode ser visualizado como um corpo sólido em seu próprio tempo, também à nossa percepção os átomos produzem sólidos e é apenas por um esforço de razão e dedução que podem ser visualizados como sistemas de esferas que voam. Os elétrons atômicos, girando ao redor de seu núcleo minúsculo a um décimo da velocidade da luz, criam unidades que até recentemente mostravam-se impenetravelmente rígidas. Não fosse assim, uma cadeira seria simplesmente uma massa de energia radiante, pois é sobre o traçado dos átomos que nos sentamos. O modelo é o mesmo, mas, num caso, a escala de tempo é imensuravelmente maior que a do homem e, noutro, imensuravelmente menor.
Em toda nossa discussão sobre o universo, um dos principais propósitos tem sido descobrir a densidade relativa de diferentes mundos ou fenômenos. Podemos supor que o menos denso signifique também o mais poderoso, mais penetrante, de maior duração e mais inteligente. E a nossa meta é a compreensão da inteligência.
Lembremos que o processo de crescimento, pelo qual acreditamos que o universo inteiro tenha sido criado, poderia ser descrito pela fórmula: a descida do espírito à matéria dotado de forma. Densidades diferentes podem ser vistas então como proporções diferentes de matéria e espírito nas substâncias ou mundos sob consideração. A mesma idéia tem sido expressada por alguns escritores como proporções diferentes de matéria e movimento ou de matéria e energia. Ou mais simplesmente ainda, como diferentes níveis de energia ou diferentes escalas de tempo. A intenção é a mesma: estabelecer algum tipo de escala mensurável que seja capaz de medir todos os seres e forças, do Absoluto ao Abismo.
Num capítulo anterior, pareceu-nos possível estabelecer uma escala de densidade ou, inversamente, uma escala de força para os planetas. Seria possível alguma escala assim para os elementos da Terra?
Em muitas épocas, foram feitas tentativas para classificar a pequena quantidade de elementos conhecidos no sentido de ‘nobreza’ e ‘virtude’. Mas a descoberta de toda uma série de metais raros entre 1735 e 1755 e o isolamento após 1860 de dezenas de elementos completamente novos mudaram esse quadro. Em 1869, Mendelev tentou organizar esse novo conjunto numa ordem baseada na massa atômica relativa de cada elemento. Um átomo de chumbo, por exemplo, tem massa atômica 207 vezes mais que um átomo de hidrogênio e foi-lhe conferido a massa atômica 207.
O estudo da estrutura atômica e o papel desempenhado pelos elétrons planetários tornou possível adaptar a tabela de Mendelev mediante o simples agrupamento dos elementos de acordo com seu número de elétrons. Esse é o método dos números atômicos, o hidrogênio com um elétron, tendo o número atômico 1, o hélio, com dois elétrons, 2, e assim por diante. Com duas exceções, os elementos agrupam-se agora segundo o número de elétrons de 1 a 96.
Mas o quadro não é tão simples. O átomo parece diferir do Sistema Solar do seguinte modo: ele poderia ter não um mas numerosos elétrons planetários (até certo limite) em cada órbita.34 Na órbita mais interna, seria possível ter dois elétrons; na segunda, mais oito; na terceira, mais outros oito; na quarta e na quinta, dezoito cada; e, na sexta, trinta e dois. Alguns elementos com propriedades radiativas podem ter até mesmo sete órbitas.
Se pensarmos nos átomos de forma mais realista como sólidos, essas órbitas serão de fato camadas. Átomos de elementos diferentes têm um número de camadas variável de um a sete. A camada mais externa por sua vez pode ter de um até seu máximo complemento com variações resultantes na rigidez da superfície, de modo que, se uma camada bem provida de elétrons poderia ser considerada como sendo feita de aço, aquelas com menor número poderiam ser feitas de óleo, borracha ou de plástico.
Essa imagem dá uma boa idéia das densidades relativas dos diferentes elementos. Quanto maior o número de camadas, mais denso será o elemento e, entre o grupo de elementos com o mesmo número de camadas, será mais denso aquele cuja camada exterior for mais rígida.
Existem assim sete principais categorias de densidade entre os elementos e que são chamadas de períodos. Mas, dentro de cada período, há de novo uma variação de atividade de acordo com o número de elétrons na camada exterior. Cada elemento é atraído por aquele que possui um número complementar de elétrons, assim como o sódio, com um elétron sobrando, que procura naturalmente o cloro, ao qual falta um elétron, para juntos formarem o sal. Aqui encontramos um paralelo à analogia de Platão para as almas humanas à procura da metade complementar da qual foram separadas na primeira criação. Este seria o macho/fêmea dos elementos: os elementos eletricamente positivos irresistivelmente impelidos a combinarem-se com os elementos eletricamente negativos em exata proporção a seus contrastes. Cada elemento é por natureza incompleto e procura completar-se, com exceção daqueles cujo complemento eletrônico seja inteiro e não precise de um par. Esses são os raros e assim chamados gases nobres - hélio, neônio, argônio, criptônio e xenônio -, cujas camadas são como que tão duras e polidas, que nenhum elemento pode encontrar ali qualquer apoio.
A escala geral de densidade dos elementos começa agora a tornar-se clara.35 Na primeira categoria, com uma camada, encontramos hidrogênio e hélio, cuja raridade e grau de potencialidade dá-lhes alguma afinidade particular com o Sol, onde, como já vimos, eles desempenham uma parte especial na geração de energia solar.
No outro extremo da escala, com sete camadas, encontramos os elementos radiativos: rádio, actínio, tório, protactínio e urânio, cuja densidade é tal, que eles não podem existir naturalmente na superfície da terra, sendo encontrados pelo homem em quantidades infinitesimais apenas em lugares completamente remotos da influência vivificante da radiação solar, como nos interiores rochosos de montanhas, nos leitos de lava e no limo do fundo dos mares. Mesmo aí, esses elementos tendem a tornar-se menos densos, sendo precisamente sua radiação um recurso para elevarem-se até os próximos elementos mais finos que estão acima. Urânio (92) tende a tornar-se rádio (89), que, por sua vez, tende a converter-se em hélio (2) e no gás inerte radônio (86).
O fenômeno da radiatividade é curiosamente misterioso e paradoxal. Provavelmente, seja universal numa certa distância abaixo da superfície da Terra, podendo de fato representar um terceiro princípio geral ou um possibilitador do reino geológico, assim como o ar para o mundo orgânico e a luz para o mundo planetário.35a A radiatividade como terceira força pode ser, por sua vez, o fator desconhecido em certas transmutações subterrâneas que resultam em matérias de imensa energia latente - como o petróleo, por exemplo.
Todos os elementos radiativos dessa última ou sétima categoria parecem a imensos períodos de tempo estar lutando para ascenderem ao nível do chumbo, o elemento comum mais denso pertencente ao período acima. Nesse processo - a única transmutação natural de átomos que conhecemos na Terra -, pode ser possível ver o traço de algum prolongadíssimo processo de evolução ou refinamento terrestre.
Assim, em sua divisão do átomo de urânio, o homem está de fato efetuando, numa fração de segundos, o que a própria Natureza faria em milhares de anos. O que pode ser mais grave, do ponto de vista de tal evolução, é a reunião desse material abismal em grande quantidade e sua criação para propósitos destrutivos e próprios de vários novos elementos - netúnio (93), plutônio (94), amerício (95) e cúrio (96) -, estes ainda mais densos que aqueles que a Terra tem de elevar à vida tão dificilmente.
Essa quebra do último elétron na última órbita do átomo de urânio poderia ser, grosso modo, comparada à constante troca de elétrons na segunda órbita, o que nos parece parte do processo pelo qual o Sol libera energia, embora isso fosse tão sério quanto a probabilidade de alguma lua invisível de Plutão ser atirada para fora do Sistema Solar.
A energia e temperatura geradas então foram utilizadas como detonadoras de uma bomba de hidrogênio na qual a produção de energia solar pôde ser simulada. O fato de tal energia divina poder ser manipulada ou tal matéria infernal ser criada pelo homem em estado degenerativo sem desastre talvez seja o principal enigma de nossa era.
Quando buscamos uma referência na tabela de elementos, tal como usualmente estão dispostos, nossa impressão é a de uma ordem extraordinariamente sutil e oculta. Mas, ao pretendermos desvendar essa ordem, ela nos ilude. As coisas não são tão simples quanto possam parecer a princípio.
No primeiro período, o hidrogênio está só. É um elemento único que combina-se com a metade dos restantes, mas não tem nitidamente nenhum semelhante. Tal como a energia solar, ele também não tem par.
Os próximos dois períodos têm oito elementos cada um e somos lembrados da disposição da oitava que, considerando os planetas, deduzimos que deveria percorrer toda a criação. No terceiro período, há um indício. A seqüência de massas atômicas do neônio (20) ao argônio (40) são exatamente recíprocas da seqüência de vibrações numa oitava descendente - com um elemento extra, o fósforo, preenchendo o meio-tom entre mi e fá.
Os primeiros três períodos dispõem-se por si mesmos assim:
No quarto período, encontramos outra vez uma relação quase exata de massas entre os gases inertes argônio (40) e criptônio (84). Temos de longe muitos elementos para as notas intermediárias. Começamos a nos preocupar pelo número de elementos raros descobertos no último século e sem o conhecimento dos quais o homem administrou sua existência muito satisfatoriamente por milhares de anos. Perguntamo-nos se podem o titânio e o vanádio, que existem apenas em filamentos de outros minerais, terem do ponto de vista da Terra uma importância realmente igual ao argônio, por exemplo, que constitui 1% de toda sua atmosfera?
E, sob esse pensamento, ocorre-nos que, em alguns casos, as notas de nossas principais oitavas estão elas mesmas divididas em oitavas menores e que esses elementos raros não constituem notas plenas, mas apenas notas de oitavas internas, três ou sete das quais seriam necessárias para fazer uma nota inteira. Trabalhando com esse princípio, vemos que é fácil descobrir as notas do quarto período.
Atingido esse ponto, mais luz começa a despontar. Os sete períodos dos elementos, isto é, as categorias de átomos divididas de acordo com seu número de camadas, constituem por si só uma oitava descendente. A tabela completa forma uma oitava multiplicada por uma oitava ou uma oitava ao quadrado. A constituição física da Terra revela-se por si mesma uma escala sólida, as próprias notas pelas quais são formados os harmônicos menores. Toda a estrutura atômica do nosso mundo está construída, por assim dizer, de música cristalizada e silenciosa.
Com o quinto período, alcançamos a nota mi na oitava de períodos descendentes. E começamos a perceber então que essa oitava tem uma tendência a parar. Lançada com toda a imensa força criadora de energia solar, a massa atômica quintuplica-se no segundo período e duplica-se no terceiro. No quarto, é necessária a assistência de várias oitavas internas para alcançar o requisito de duplicação e, no quinto, mesmo com esse impulso, o nível de aumento cai bastante. A massa atômica do xenônio é de apenas 131 contra a de 84 do criptônio. Alcançamos então o meio-tom ou o intervalo mi-fá.
E agora, no sexto período, um fenômeno muito curioso aparece. Encontramo-nos subitamente com um grupo de quatorze terras raras, descobertos no século XIX e cuja principal característica é que são praticamente impossíveis de serem isolados uns dos outros. Formam como que um bloco intensamente coeso e apenas mediante os métodos mais complexos de cristalização fracionada podem ser isolados. Eles constituem nitidamente não oitavas internas, mas uma oitava mais interna numa nota de uma oitava interior. Sua própria multiplicidade supera a crescente inércia da escala descendente e, por trás deles, descobrimos atônitos que o descender praticamente recuperou seu momento anterior. No momento em que alcançamos a nota sol, encontramos prata e ouro separados por quase uma oitava, com massas atômicas de 108 e 197 respectivamente. O impulso da oitava descendente, todavia, atrasa-se devido a uma perfeita duplicação de densidade, mas é um atraso pequeno.
O papel dos terras raras no superar a queda da oitava no semitom ajuda-nos a esclarecer o método cósmico de passar esse momento universal de resistência. Como um general que desfaz sua coluna numa massa de indivíduos independentes para vadear um rio, a natureza em seu próprio caso rompe-se numa multiplicidade. Assim como os quatorze terras raras são usados para cruzar um simples semitom na tabela de elementos, também o tropel de asteróides preenche o meio-tom planetário entre Marte e Júpiter. E, mais uma vez, a multiplicidade de vida orgânica interliga o intervalo entre o Sol e a exposta esfera de elementos da Terra, sem a qual esta não teria meios de absorver a radiação solar.
Quando completamos a demonstração da tabela de elementos, vemos, como já havíamos antecipado, que ela forma uma oitava ao quadrado. Tudo o que é a primeira oitava horizontal ou período está ocupado pelo elemento hidrogênio, com sua afinidade especial pelo Sol e seu imenso potencial. O hidrogênio simboliza o espírito no corpo dos elementos. A própria vida depende de uma exata concentração de íons de hidrogênio no líquido orgânico.
O segundo período, de nosso ponto de vista, é especialmente marcado pelos elementos carbono, nitrogênio e oxigênio, que formam em sua união com o hidrogênio a infinita variedade do mundo orgânico. Aproximadamente duzentos e cinqüenta mil combinações foram identificadas. Representam o veículo da vida.
O terceiro período introduz o sódio e o cloro, que, juntamente com o sal, são as bases de toda forma e tensão orgânica. Agrega dois metais leves e os minerais suplementares fósforo e enxofre, necessários para a existência de um sistema nervoso com todas as suas implicações.
No quarto período, começam os minerais pesados e os metais, mais notoriamente o potássio, o cálcio, o ferro e o cobre, que desempenham um grande papel na constituição do sangue, da clorofila e da manutenção da circulação. Em quantidades muito reduzidas, os dois últimos também regulam a combustão de oxigênio e os processos de respiração.
Os metais pesados do quinto período não são assimiláveis pela vida, apenas o iodo atua nessa série como um tipo de lastro para o movimento do corpo humano. Podemos notar, assim, que todas as matérias do organismo humano estão compreendidas nas duas oitavas do carbono ao cobre, com exceção do hidrogênio como princípio ativo acima e do iodo como contrapeso abaixo. Mais tarde, deveremos voltar a isso.
Os elementos do sexto período, isto é, abaixo do intervalo mi-fá, parecem não ter lugar na vida. Ouro, platina e mercúrio, por exemplo, são apreciados por sua impermeabilidade à ação química e pelo abrandamento e absorção, essenciais para a incorporação num organismo vivo.
Finalmente, os elementos do sétimo período não têm lugar algum na Natureza. Como sugerido anteriormente, eles pertencem ao interior da Terra, distantes da influência solar e de todas as suas conseqüências. Em sua total incapacidade para mudança e participação em processos vivos, têm afinidade com condições tais como aquelas observadas na superfície da Lua.
Dessas características dos diferentes períodos, uma propriedade curiosa dos halogêneos - hidrogênio, flúor, cloro, bromo e iodo - surge aqui. Eles representam os limites entre os diferentes estados da matéria. Vimos como o hidrogênio situa-se nos limites da matéria em estado eletrônico e molecular. Da mesma forma, o flúor situa-se no limite entre a matéria em estado molecular e a celular, tendo a curiosa propriedade de dissolver essa última na primeira. Em seguida, encontra-se o cloro, no limite entre os estados celular e mineral da matéria - e, por sua ação no sal, tem a capacidade análoga de incorporar o estado inferior dentro do superior. Novamente, o bromo, que delimita a fronteira entre os estados mineral e metálico da matéria, ao passo que o elemento 85, se soubéssemos o que seria, permaneceria entre as matérias que podem aparecer na superfície da terra e as que não podem.35b
A tabela começa com o veículo para o espírito e termina com a matéria sem vida. Começa com energia pura e termina com a pura inércia. Inicia-se com o Sol e termina com a Lua. Entre os dois estão os períodos correspondentes às várias funções da Terra - as chaves para forma e movimento respectivamente, para sensações nervosas, para circulação e respiração e dois reinos inorgânicos. Essas formas entre espírito e matéria, como já vimos anteriormente, são de domínio dos planetas. E podemos tentar associar planetas individuais a eles. Pelo momento, podemos olhar essas associações como meras rotulações convenientes. Mais tarde, elas nos serão úteis.
Enquanto isso, já começamos pelo menos a vislumbrar aquela escala geral de todas as matérias e energias do universo que estivemos procurando. Pois a tabela de massa atômica, estendendo-se para o alto até o reino da matéria radiante, está ali continuada pela medida do quantum de energia que cada elétron leva consigo. Ao passo que, para baixo, ela continua novamente através da massa molecular de todas as substâncias orgânicas e inorgânicas compostas desses elementos.
As tabelas de quantum de energia radiante de massa atômica dos elementos e massa molecular dos compostos formam de fato uma simples escala, estendendo-se do céu ao inferno e nos diferentes níveis onde são encontradas todas as substâncias conhecidas e desconhecidas. Desse ponto de vista, tudo pode ser visto como físico e comparável. Os elétrons livres que alcançam a Terra vindos do Sol representam as formas mais altas e rarefeitas de matérias físicas que conhecemos; quanto maiores as colônias de elétrons encerradas em conjunto pela Terra, mais densa a substância que delas se deriva e mais baixa a função que as emprega. Tudo - da luz ao chumbo e da aspiração à excreção - é mensurável.
II Velocidades de Difusão
Diferentes estudos humanos tratam de diferentes materiais e movimentos. A Geologia, por exemplo, trata da matéria das pedras, metais e pigmentos. A Psicologia lida com os movimentos do pensamento, da emoção e do instinto. Da Arte pode ser dito que lida com matérias estudadas pela Geologia sujeitas aos movimentos estudados pela Psicologia.
Novamente, a Física trata do movimento da luz em geral, do som e do calor. Mas a Religião e a Astronomia também tratam de diferentes pontos de vista da luz, a Música e a Acústica de diferentes ângulos do som e a Nutrição e a Meteorologia de diferentes pontos de vista do calor.
Diferentes estudos humanos estão assim encontrando constantemente o mesmo fenômeno, mas se aproximando dele a partir de ângulos diferentes e lhe dando nomes diferentes. O resultado disso é que um homem bem educado e que domine as distintas séries de nomes para as coisas dadas pela religião, pela ciência, pela arte, poesia, moda e política, encontra-se num mundo tão complicado que constantemente perde seu rumo nele. Para tudo que encontre haverá pelo menos meia dúzia de rótulos diferentes, dependendo do que quer que esteja olhando, seja como devoto, cientista, artista, poeta, homem do mundo ou político.
Podemos realmente imaginar todas essas matérias e movimentos ordenados numa escala? Podemos imaginar realmente todas as matérias e movimentos ordenados, não de acordo com o ponto de vista humano particular com que nos aproximamos num determinado momento, mas por suas próprias energias inatas e densidades objetivas? Podemos realmente imaginar uma moderna Escada de Jacó “levantada na terra com seu topo alcançando o paraíso” e que seja reconhecida nas condições comuns da vida?
Para esse propósito, o sistema de números atômicos é técnico demais. Temos que encontrar um método de medição que qualquer um em qualquer lugar possa aplicar. Esse método simples de medição e comparação de diferentes níveis de energia e estados de matéria que surgem deles já existe. Ele é feito por meio das velocidades de difusão.
O limite de velocidade conhecido pelo homem neste presente estado é o da luz - 300.000 quilômetros por segundo. Um limite de velocidade secundário cujo significado não é ainda conhecido completamente é o do som e do ar - aproximadamente 330 metros por segundo ou cerca de um milésimo da velocidade da luz.
Organizemos então uma tabela de velocidades de difusão partindo da velocidade da luz em sentido decrescente seguida da velocidade do som, cada categoria sendo dividida na próxima por um fator de um centésimo de vezes. Tal tabela tomará a seguinte forma:
Categoria I 300.000 quilômetros por segundo
Categoria II 3.000 quilômetros por segundo
30 quilômetros por segundo
Categoria III 300 metros por segundo
Categoria IV 1.000 quilômetros por hora
3 metros por segundo ou
Categoria V 10 quilômetros por hora
3 centímetros por segundo ou
Categoria VI 100 metros por hora
1 metro por hora ou
Categoria VII 10 quilômetros por ano
1 centímetro por hora ou
Categoria VIII 100 metros por ano
1 metro por ano ou
Categoria IX 100 metros por século
1 centímetro por ano ou
Categoria X 1 metro por século
1 centímetro por século
Além disso, para completar teoricamente a tabela, estabeleçamos outra categoria para movimentos acima de cem vezes mais rápidos que a luz, isto é, entre 300.000 quilômetros por segundo e dois anos luz por semana, e que chamaremos de Categoria 0. E uma outra ainda para velocidades entre dois anos luz por semana e um ano luz por hora, e que chamaremos de Categoria 00. Naturalmente, nenhuma dessas categorias corresponde a qualquer fenômeno conhecido pelo homem no momento.
Dessa forma, temos uma tabela de doze categorias que incluirão todas as velocidades de difusão e mudanças concebíveis, sendo a mais rápida um milhão de milhões de milhões de vezes mais rápida que a mais lenta.
Vejamos agora quais são as características dessas diferentes categorias.
Categorias 0 e 00, sendo mais rápidas que a velocidade da luz, se é que correspondem a qualquer coisa em absoluto, devem representar fenômenos que podemos chamar super-solares. Somente energias de tal natureza fariam conexão entre a Terra e outras partes da Via Láctea dentro do tempo de vida do homem, enquanto que, mesmo na mais alta velocidade da Categoria 00, seria necessário o total desse tempo de vida para a comunicação com as nebulosas extragalácticas mais próximas.
Na Categoria I, encontramos luz, seja ela originária do Sol, de conjuntos de sóis (galáxias), de refração solar (planetas) ou de depósitos de energia solar acumulada (carvão e óleo). Tal energia, característica dos sóis, não está confinada ao sistema solar, mas, a julgar pelo que percebemos de galáxias distantes, ela pode viajar através do universo indefinidamente. Dentro dessa mesma categoria, enquadra-se o movimento de elétrons individuais - 30.000 quilômetros por segundo, surgindo aproximadamente à velocidade da luz por algum disparo de elétrons numa explosão de átomos. A contínua desintegração atômica, própria da natureza de um sol, produz movimento eletrônico livre da espécie e velocidade que chamamos luz.
Na Categoria II (3.000-30 quilômetros por segundo), encontramos características de movimento do sistema solar como um todo e da comunicação entre suas diversas partes. O magnetismo solar, medido pelo retardamento nas mudanças das manchas solares e seu efeito no magnetismo da atmosfera da Terra, difunde-se aparentemente a 500 quilômetros por segundo. A velocidade do Sistema Solar dentro da Via Láctea está estimada em aproximadamente 250 quilômetros por segundo.
Na Categoria III (30 quilômetros-300 metros por segundo), podemos colocar o movimento característico dos planetas e satélites tomados individualmente. À frente dessa categoria, está o movimento da Terra ao redor do Sol (28 quilômetros por segundo) e, abaixo, o movimento da Lua ao redor da Terra (1 quilômetro por segundo). Seu limite mais baixo é indicado pela velocidade do som no ar (330 metros por segundo), o qual delimita o início da Categoria IV e de movimentos definitivamente confinados à esfera da Terra. Assim, as Categorias de I a III referem-se a movimentos que são supersônicos e, num certo sentido, celestiais, enquanto as Categorias de IV a X referem-se a movimentos que são subsônicos, ou seja, definitivamente terrestres. O próprio homem dispara balas de rifle e foguetes dentro da Categoria III e provavelmente está correto ao considerar que a ultrapassagem da barreira supersônica esteja fundamentalmente conectada com a possibilidade de comunicação interplanetária.
À Categoria IV (3-300 metros por segundo) pertence o movimento da Terra sobre seu próprio eixo e que, no equador, é equivalente a cerca de 250 metros por segundo. A essa categoria também pertencem as velocidades de rotação dos outros planetas menores e velocidades de corpos sólidos transvasando o ar ou a atmosfera planetária. Do ponto de vista do homem, é digno de nota que a velocidade de disseminação dos impulsos nervosos do córtex ou o que justificadamente podemos chamar velocidade do pensamento (120 metros por segundo) enquadre-se também nessa categoria, tendo desse modo sua função de registro certa afinidade e limitação pelo planeta no qual ele vive.
Na Categoria V (3 centímetros- 3 metros por segundo), encontramos velocidades que parecem de alguma forma características de corpos orgânicos ou animais. O caminhar médio de um homem é de um metro por segundo, velocidade na qual a circulação sangüínea corre em suas veias. Ele não pode por seus próprios esforços impelir seu corpo muito acima dessa categoria, apesar de ser interessante o fato de que, ao controlar forças moleculares tais como vapor em expansão e gás explosivo, ele tenha sido capaz de alcançar artificialmente o limite de área da Categoria IV e, agora, com implicações que ele ainda não entende, penetrar até mesmo dentro da Categoria III.
A Categoria VI (1-100 metros por hora) inclui os movimentos externos de minhocas, pequenos insetos e movimentos internos de alimentos pela ação peristáltica dos intestinos.
A Categoria VII (1 centímetro-1 metro por hora) inclui fenômenos líquidos, tais como o aumento e a redução das marés e a transferência de líquidos através das paredes celulares por osmose. Embora seja significativo que a velocidade de escoamento das geleiras, ou o movimento do gelo, ou ainda a velocidade do ponto de transição entre o fenômeno líquido e o sólido (100 metros por ano) marquem exatamente o limite entre essa categoria e a próxima.
A Categoria VIII (1-100 metros por ano) inclui todos os fenômenos de crescimento das plantas, ficando o máximo de velocidade conhecida - a de certos bambus tropicais - perto de seu maior limite (30 centímetros por dia). A expansão das algas em água estagnada e outros fenômenos de propagação celular também se enquadram nessa mesma ordem.
Na Categoria IX (1 centímetro-1 metro por ano), temos o crescimento ou acréscimo de substâncias ósseas, córneas e amadeiradas - o crescimento de cabelo (15 centímetros por ano), o acréscimo dos anéis no tronco das árvores (1-3 centímetros por ano) e a junção de tecido cartilaginoso.
Finalmente, a Categoria X (1 centímetro-1 metro por século) representa a aclimatação, sedimentação e mudança química de pedras e metais, a velocidade mais lenta de mudança normalmente mensurável pelo homem.
A uma distância não específica, abaixo desta, devemos colocar a condição de Absoluto Zero, teoricamente alcançada a 273 oC, onde o movimento molecular cessa e a matéria alcança um absoluto de imobilidade cujas implicações não podemos sequer imaginar.
Se tentarmos descrever em palavras simples a natureza dos fenômenos encontrados em cada categoria, teremos uma lista semelhante a esta:
Categoria 00: Supergalática.
Categoria 0: Galáctica.
Categoria I: Solar ou luminosa.
Categoria II: Planetária ou magnética
Categoria III: Planetária ou magnética.
Categoria IV: Atmosférica ou nervosa.
Categoria V: Animal ou animal de sangue frio.
Categoria VI: Vertebrado ou muscular.
Categoria VII: Invertebrado ou líquido.
Categoria VIII: Vegetal ou celular.
Categoria IX : Óssea ou acrescentável.
Categoria X: Mineral ou cristalina.
Seria muito dizer que o corpo físico com o qual o homem é naturalmente dotado estende-se da Categoria X à Categoria IV e que ele tem que desenvolver uma alma pertencente às Categorias II e III para conectá-lo com o espírito divino que pertence à Categoria I? Talvez.
De qualquer modo, a velocidade de difusão forneceu-nos uma medida objetiva de fenômenos que nos conduzirão a uma classificação notavelmente semelhante àquelas que obtivemos por métodos e argumentos muito diferentes.
III A Tríplice Criação da Química Orgânica
Devemos considerar agora o modo pelo qual esses elementos interagem para fornecer material adequado para todas as formas que a vida pode tomar sobre a Terra. De nosso estudo da interação entre Sol, Planetas e Terra, deveríamos esperar a princípio que o ativo se combinasse ao passivo em presença de algum terceiro elemento ou catalisador. Isso é exatamente o que ocorre na química da matéria viva.
Em geral, podemos dizer que o hidrogênio e os elementos eletropositivos das notas verticais dó, si, lá tendem a combinar-se com os elementos eletronegativos das notas ré, mi, intervalo, fá na presença do ar e algumas vezes com a condição adicional de calor, pressão, eletricidade ou alguma outra forma de energia aplicada. Ou seja, os elementos mais ativos do extremo superior dos períodos tendem a combinar-se com os elementos mais passivos do extremo inferior dos mesmos. Na maioria dos casos, tais combinações só são possíveis pela presença do nitrogênio atmosférico, o catalisador ou terceira força. É um princípio tão óbvio, que seu significado não é reconhecível, já que a química da vida tal como a conhecemos tem lugar no ar. Conectado a isso, percebemos de nossa tabela que o nitrogênio e seus elementos associados desempenham o papel especial de preencher o intervalo vertical entre mi e fá. Eles formam o terceiro elemento ou a força mediadora.
Assim, de maneira ampla, podemos tomar os metais como ativos, os metalóides como passivos e o ar ou nitrogênio como mediadores. A tríade da criação, cujos frutos tratamos de compreender na natureza do Sistema Solar, encontra no mundo da química sua contraparte menor, porém exata. E, se limitarmos nossa pesquisa à química orgânica, veremos (com a intervenção adicional do hidrogênio) que três elementos representam clara e simplesmente os três agentes criadores. O carbono é ativo, o nitrogênio mediador e o oxigênio passivo.
Deve-se lembrar apenas que esses papéis dependem não da natureza interna desses elementos, mas de sua relação com elementos superiores e inferiores. Assim, numa combinação com o hidrogênio, o carbono tornar-se-á mediador e o nitrogênio passivo, enquanto que, em outra combinação, o oxigênio, por exemplo, ficará a meio caminho entre o hidrogênio e o sódio, sendo o mediador deles.
Todavia, entre eles, o carbono pode atuar sempre como ativo, o nitrogênio como mediador e o oxigênio como passivo. E podemos supor que, nesse mundo dos elementos, existam também seis possíveis combinações dessas forças e seis derivados processos, análogos àqueles que no mundo celestial mantêm implicações tão grandes de crescimento, destruição, refinamento, doença, renovação e regeneração.
Esse, contudo, não é o assunto que nos interessa no momento. Temos que tentar estudar agora como os átomos de elementos simples - representando a matéria-prima do ar e da terra - da matéria em estado molecular e mineral são gradualmente incorporados às formas complexas de vida celular.
Anteriormente, ao considerarmos os cosmos em geral, estabelecemos que um nível de cosmos existia na escala de uma simples molécula e o próximo superior na escala de uma simples célula. Tentemos examinar agora por quais passos e estágios os números infinitos de cosmos menores são incorporados às estruturas intrincadas e auto-suficientes dos maiores. Por quais arquiteturas microscópicas as moléculas formam matéria viva?
Primeiramente, os átomos são isolados em conjuntos de um, dois, três, seis e até dúzias para criarem moléculas de compostos diferentes. Dois átomos de hidrogênio (com massa atômica 2) e um átomo de oxigênio (16) combinam-se para formar uma molécula de água que tem assim massa molecular 18. Moléculas de simples compostos orgânicos, tais como éter, leite, celulose, morfina e outros, são complicadas jaulas ou cadeias formadas por átomos de hidrogênio, carbono, oxigênio e nitrogênio, reforçados algumas vezes por enxofre e fósforo. Esses compostos orgânicos, essenciais para a vida orgânica, mas dos quais não se pode dizer serem orgânicos ou vivos, têm em sua maior parte massa molecular variável de 16 (metano) até mil ou mais.
Se, como já vimos, os elementos puros estão harmoniosamente relacionados em sete oitavas de acordo com sua massa atômica, deveríamos esperar que esses compostos orgânicos estivessem relacionados de modo semelhante quanto à molecular. E assim se procede. As notas individuais - dó ré mi fá sol lá si dó - tocadas pelos átomos de diferentes elementos vão fazendo eco nas quantidades de oitavas de compostos orgânicos, reproduzindo ali as mesmas qualidades em formas mais complexas. O nitrogênio, com massa atômica 14, ecoa assim três oitavas abaixo pela histamina dos glóbulos brancos (111), cinco oitavas abaixo pela vitamina K das folhas verdes (450) e seis oitavas abaixo pela clorofila (907). Essas substâncias desfrutam de uma tarefa em comum bem definida - um papel específico, embora invisível, conectado ao ar, sangue, seiva e meios para a vida em diferentes escalas. Enquanto isso, na mesma série de oitavas descendentes que representam massas moleculares, outras extensas classes de compostos que nos são familiares tocam uma a uma suas diferentes e características notas.
Aqui certamente está nosso esboço para uma escala geral de densidades de todas as substâncias orgânicas, embora o desenvolvimento posterior deste tema deva esperar até que cheguemos à ação dos seis diferentes processos cósmicos no corpo humano e dos agentes químicos através dos quais operam.36
Enquanto isso, uma série de substâncias que preenche uma dessas notas - os aminoácidos - deve ocupar nossa atenção por atuarem como um trampolim entre esses compostos moleculares e as proteínas. Estas, por sua vez, servem como elo direto com a vida em forma celular. Esses aminoácidos possuem uma curiosa natureza dupla, metade ácido e metade álcali, e estão, portanto, capacitados para combinarem-se em cadeias elaboradas, tomando o extremo ácido de um o extremo álcali do seguinte, e assim por diante. Existem cerca de vinte e cinco aminoácidos - verdadeiros tijolos da vida orgânica -, que, combinados de várias maneiras, formam uma variedade quase infinita de diferentes estruturas.


Quando essas estruturas alcançam certo nível de elaboração, encontramo-nos entre as proteínas naturais e um passo mais próximos da vida em seu sentido reconhecível. Seriam as proteínas, por si mesmas, vivas? Difícil dizer. No sentido de que uma casa pode estar viva mas um tijolo não, podemos dizer que sim. No sentido de que uma planta sobre o muro pode estar viva, ao passo que a casa não, podemos dizer que não. Mesmo considerando seu trabalho numa centena de processos de vida diferentes - na digestão dos alimentos, por exemplo, promovendo o crescimento ou tornando a reprodução possível -, não podemos dizer senão que, ao abordarmos as proteínas, já transpusemos sem saber algum limiar desconhecido entre o vivo e o não-vivo.
Para obter ainda a classe mais simples de molécula protéica, várias centenas de unidades de aminoácidos devem estar dispostas numa forma definida chamada ciclotron. Uma vez que a massa molecular da maioria dos aminoácidos é de aproximadamente 130, uma proteína elementar - a albumina da clara do ovo - tem massa molecular de aproximadamente 34.000. Certamente, a massa molecular de muitas, senão da maioria das proteínas, parece funcionar em múltiplos de 17.000 ou mais aproximadamente 16.384, a qual se encontra exatamente a sete oitavas acima do grupo de aminoácidos mencionado e a dez de seu elemento básico, o oxigênio. Estamos, é claro, seguindo uma linha de desenvolvimento bastante definido, o estreito limite entre a acidez e a alcalinidade e sobre os quais está construído todo o reino da vida orgânica.
Temos falado até aqui dessas estruturas moleculares como se elas fossem construídas de baixo. Mas, de fato, como sabemos, são criaturas do cosmos situado acima da molécula, isto é, da célula. Esta, num tempo incrivelmente curto, produz todas as proteínas e outros compostos de que necessitamos, os quais, quando simulados pelo homem, podem ser feitos apenas com grande esforço e paciência. “Os químicos trabalham laboriosamente”, diz o dr. J. A. Butler. “Eles transformam compostos passo a passo, usando poderosas substâncias químicas, como o calor e, algumas vezes, a ação elétrica para alcançarem as mudanças que aqueles requerem. Podem levar meses numa complicada série de reações para obter um composto que uma simples célula fabrica numa fração de minutos ou horas.”37 Isso, na verdade, é muito compreensível, pois a célula está trabalhando no tempo celular, enquanto o químico trabalha no tempo do homem, o qual, como vimos anteriormente, é 5.000 vezes mais lento. Dez minutos para uma célula é o equivalente a um mês para o homem e uma grande quantidade de trabalho pode ser feita - e é - por ambos nesses dois períodos, respectivamente.
Qual é a transição da molécula protéica para a própria célula, estrutura tão característica da forma orgânica, e qual o organismo mais inferior ao qual usualmente atribuímos a qualidade ‘vida’?
Dentro da célula, existem partículas minúsculas chamadas genes, cada uma das quais, de alguma forma misteriosa, carrega a marca de um simples traço do organismo maior do qual a célula faz parte. Um gene consiste provavelmente de não mais que dez moléculas protéicas - é um anteprojeto em escala molecular de uma característica do organismo celular completo. Centenas de genes ou mais formam uma seção entre as dez ou mais que constituem um cromossomo. Enquanto isso, dez a cem cromossomos, mais um núcleo e outros elementos menores, numerosos demais para serem mencionados aqui, quando envoltos todos numa bolsa ou membrana de celulose, constituem juntos uma única célula.
Desejamos estabelecer a relação entre o cosmos de uma simples molécula e o cosmos de uma célula. Vemos que, entre esses dois cosmos ‘vizinhos’, estende-se uma escala completa de organismos intermediários. Além disso, dispondo essa escala em ordem e colocando a seu lado a cifra aproximada da multiplicação do peso de um nível ao seguinte, encontramos uma série notavelmente remanescente de uma oitava ascendente:
dó - Átomo de hidrogênio X 10
ré - Molécula de composto simples (água, por exemplo) X 10
mi - Molécula de aminoácido X 1000
Vida -
fá - Molécula protéica X 10
sol - Gene X 100
lá - Seção de um cromossomo X 10
si - Cromossomo X 50
dó - Célula
Agora podemos compreender por que, ao alcançar a molécula protéica, tivemos a insinuação, senão mesmo a prova, de alguma grande transição. O súbito largo fator de multiplicação entre o aminoácido e a molécula protéica representa certamente o intervalo natural entre as notas mi e fá, que, em outra escala, vimos ocupado pelo reino da vida orgânica na Terra. Abaixo desse ponto, as notas de nossa presente oitava pertencem claramente ao mundo molecular; acima, elas já estão submetidas ao mundo celular.
Nesse intervalo, para cruzar o intervalo entre dois mundos, algo invisível e intangível interveio. Chamamos esse fator - em nossa estreita compreensão humana dessa palavra - de vida.
(34) É possível que esse número variável de elétrons em cada órbita seja comparável de alguma forma ao número variável de luas dependentes do planeta de cada órbita solar. Assim, no Sistema Solar, a órbita de Mercúrio conteria só o planeta, sem nenhuma lua, enquanto que Júpiter e Saturno conteriam todo um complemento.
(35) Ver Apêndice V, ‘Tabela de Elementos’.
(36) Ver Apêndice VII, “Tabela de Compostos Orgânicos” e Capítulos XII e XIII.
(35a) Ver Norbert Casteret, “Ten Years Under the Earth”, p. 160-1.
(35b) Atualmente sabe-se que o elemento 85 é o Astato. (N. do T.)
“Man as a Microcosm”, pág. 22