segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Capitulo VIII - A Lua

I A Lua como Contrapeso


A Lua é filha da Terra. Na Ciência e na Mitologia, de uma forma ou de outra, essa idéia foi conhecida e expressada desde o início da história. A teoria do século XIX de que a lua era um fragmento arrancado por algum cataclismo cósmico da Terra ainda não formada, simplesmente ecoava numa nova linguagem a lenda de que Selene nasceu de Téia.

Mas a lenda grega é mais sugestiva em muitos aspectos. Ela vai mais além agregando o fato de que Selene, a Lua, era filha de Téia, a Terra, e de Hipérion, o Sol, sendo amada por Pã, o Mundo da Natureza, mas amava Endimião, a humanidade a quem Zeus tinha adormecido num sono interminável. Aqui estão indícios de muitos papéis, o que curiosamente torna nossas explicações puramente geológicas superficiais e inconvenientes.

Todavia, o quadro geral deve ficar claro. Temos um núcleo vitalizante ao redor do qual move-se um número variado de satélites, cada qual desempenhando uma certa função no conjunto – esse parece ser o padrão fundamental do universo. Assim está o Sol com seus planetas, estes com suas luas e o núcleo atômico com seus elétrons. Vemos depois uma analogia na vida humana, onde o pai da mesma forma sustenta os ‘satélites’ de sua família, o empregador seus empregados e o professor seus alunos. Talvez pudéssemos ir mais longe ainda e sugerir que no próprio corpo humano os vários órgãos e suas funções de modo semelhante ‘giram’ ao redor do coração, sobre o qual a própria coesão e unidade do todo dependem.

Assim, em cada escala, o desenvolvimento é num certo sentido medido pela responsabilidade. O trabalho de um homem pode suportar dois dependentes, o de outro, duzentos; o núcleo de um átomo de carbono mantém seis elétrons, o do cobre, vinte e nove. A Terra sustenta uma lua, Júpiter sustenta onze.37a Tais satélites podem ser imaginados de maneiras muito diferentes – como descendência, como alunos, dependentes ou mesmo funções de seu ‘sol’. Ao estudar o Sistema Solar e os planetas, torna-se claro que cada uma dessas analogias contém um elemento de verdade. Em cada caso, essa organização cósmica parece implicar num certo sentido uma ‘responsabilidade’ do sol para com seus satélites, os ‘préstimos’ destes para com o sol e novamente uma passagem de energia ou conhecimento do sol para os satélites e ainda uma recíproca aspiração destes últimos para adquirirem tal energia e finalmente igualarem-se em luminosidade.

Em relação a seu satélite, a Terra tem uma responsabilidade que parece única no Sistema Solar. Ela tem apenas uma lua, mas o tamanho desta comparado ao de sua mãe é tal que nem mesmo o Sol, ao que parece, suportaria tal tarefa. A massa total de todos os planetas no Sistema Solar é de apenas 1/800 avos a da própria massa do Sol. Mas a massa da lua não é menos que 1/80 avos a da massa da Terra. Comparando-se os tamanhos, a Terra parece estar carregando dez vezes mais peso do que o Sol.

Certamente ela sustenta esse peso a uma distância relativa muito mais próxima. E a importância da distância ficará mais clara se alguém tentar segurar um peso de um quilo com o braço estendido ou na ponta de uma vara de dois metros. A Terra de fato, é como um homem rodando um peso de um quilo no extremo de uma corda de dez metros. Nas condições mais favoráveis essa tarefa esgotaria a resistência humana ao extremo.

Na verdade, para um planeta, a distância em que a Terra sustenta seu satélite é excepcionalmente grande. A órbita da Lua está a não menos de trinta vezes o diâmetro da Terra. Apenas Saturno sustenta uma lua maior a uma distância semelhante e esta, Jápeto, é insignificante em comparação. De certo ponto de vista, podemos dizer que a Terra é o planeta mais duramente pressionado no Sistema Solar. As condições sobre ela são as menos isentas que em qualquer outro lugar. O efeito dessa carga para a Terra é como o contrapeso num relógio de pêndulo, o lastro para um navio ou como os grandes pesos no volante de uma locomotiva. Onde quer que a energia do motor seja aplicada num mecanismo, algum tipo de peso é necessário para suavizar e acentuar tal força animadora e impedir que o todo seja lançado no espaço. Já vimos como no corpo humano, construído de um número reduzido de elementos, o peso denso do iodo abaixo é necessário para equilibrar o princípio ativo do hidrogênio acima. Em nosso exemplo da vida humana a responsabilidade por uma criança age como contrapeso de comando sobre os desejos motivadores dos pais, freando seus impulsos dispersivos e recarregando-os em momentos de inércia e cansaço. Da mesma forma, a lua age como um comando para a Terra, igualando e administrando a energia solar.

É um efeito mais conhecido na influência da lua sobre as marés. Ela atrai as grandes massas líquidas dos oceanos como se aplicasse um freio à rotação da Terra. Seu efeito real, como o Abade Moreaux37b tinha pressuposto, é reduzir infinitesimamente o peso dos objetos colocados imediatamente abaixo dela. Liberado de um décimo de milésimo de sua massa, o oceano eleva-se a um metro sob a ação direta da lua. Os múltiplos fenômenos das marés resultam disto.

Contudo, o que passou despercebido nos tempos modernos é que não somente os oceanos mas todos os líquidos estão sujeitos a essa ação. O efeito da Lua da maré atua igualmente tanto sobre os líquidos incorporados à matéria orgânica quanto sobre aqueles que não estão. E de fato o efeito é evidentemente muito mais forte, já que os minúsculos capilares através dos quais os líquidos orgânicos se movem, dividem-se em massas tão pequenas que obedecem mais a leis moleculares que leis mecânicas, sendo assim infinitamente mais sensíveis que as grandes quantidades de água com as quais estamos mais familiarizados.

Nessa escala molecular o efeito de atração ou levitação da lua é muito aparente e sem dúvida fornece uma base para muitas tradições populares, tais como a crença de que o crescimento das plantas efetua-se à noite e particularmente em noites enluaradas. O cientista Svante Arrhenius mostrou estatisticamente que a ovulação humana segue o período dos 27.3 dias em que a Lua completa seu circuito sideral no céu (mais ainda que no rápido período de suas fases). Em anos recentes observações meticulosas estabeleceram ritmos sexuais semelhantes em caranguejos, larvas, ostras, conchas e ouriços do mar com variações correspondentes em sua suculência. A máxima contenção de água de melões, abóboras e algas marinhas coincide com a lua cheia, assim como as melhores pescarias nas regiões de pesca de East Anglian e Milford Haven.38 Por outro lado, os contratos do mogno cubano têm uma cláusula lunar que assegura que a madeira seja cortada no momento de mínima liquidez e máximo enrigecimento.

Note-se que a maioria desses exemplos são obtidos de organismos cujo conteúdo de água é excepcionalmente alto. Mas desde que toda a Natureza é em sua essência úmida, a influência da lua sobre ela varia apenas em graus. Onde quer que haja líquido há movimento lunar. O Mundo da Natureza, engendrado pelo Sol, feito da Terra e dotado de forma pelos planetas, é dotado de movimento pela Lua.

Desse modo a Lua toma seu lugar natural entre os corpos celestes em sua hierarquia de influência na matéria sobre a Terra. Já vimos como do Sol pode ser dito que controla ou influencia a matéria em estado eletrônico ou radiante e dos planetas que controlam ou influenciam a matéria em estado molecular ou gasoso e como a Terra – através da força conhecida como gravidade – controla e influencia a matéria em estado mineral ou sólido. A influência da Lua – metade planeta menor, metade satélite da Terra – tem assim efeito natural em matérias no estado intermediário entre o molecular e o mineral, entre o gasoso e o sólido, ou seja, sobre a matéria em estado líquido.

E desde que o organismo humano está constituído por 72% de água, por extensão seus movimentos e tensões não lhes são próprios, mas sim um resultado imperceptível da grande niveladora de pesos da Terra. Em outras palavras podemos dizer que a lua, equilibrando a atração da Terra, mantém todos os líquidos orgânicos em suspensão. Sem seu suporte, todos os organismos úmidos se achatariam, sugados pela gravidade terrestre. Se um homem mantém-se ereto, com sua coluna de sangue e linfa erguida do chão, é a lua que torna isso possível. Se ele levanta seu braço, é a lua que permite a ele vencer a força de gravidade, assim como o peso do relógio permite que o contrapeso se levante.

Os dois grandes sistemas dos líquidos no corpo – o sangüíneo e o linfático – têm, contudo, uma diferença fundamental. O sistema sangüíneo tem um bombeador: o coração, que se mantém em constante circulação contra a atração terrestre e lunar. E o coração é fortalecido pelo Sol. O sistema linfático não tem tal dispositivo. Por si mesmo é um sistema estagnado, mantido em suspensão pela Lua e comunicando-se com os outros somente por osmose. Ainda que na condição de limpar o corpo e livrá-lo de toxinas, ele deve circular. Essa circulação só é possível pelo movimento constante de todas as partes do corpo agindo como incontáveis bombeadores vasculares em todos os estágios de seu trabalho.

Assim, a linfa, elevada pela lua demanda movimento. E se não há movimento por uma extensão considerável de tempo, o acúmulo de toxinas produz uma irritação muscular que torna-se insuportável. Tal irritação é ativada pelo movimento que renova a circulação linfática. Deste modo, podemos dizer que a Lua induz movimento no homem, quer ele queira ou não.

Ele deve mover-se. Mas ele tem uma escolha, quer esse movimento seja deliberado, intencional e útil às suas metas ou involuntário, despretensioso e improdutivo.

Já dissemos que o Sol controla a força de vida, a semente vital do homem e que os planetas controlam suas diferentes funções. Podemos dizer que sua vida pertence ao Sol e seu tipo ou essência aos planetas. Assim, quando o movimento do homem serve para preservar ou manter a vida, ou novamente, quando é uma expressão natural de uma ou outra função, ele é – já que não plenamente intencional – útil de qualquer modo. Movimento desse tipo é legítimo e produtivo, resultado de uma combinação de estímulos lunares e solares ou lunares e planetários. Em vidas ocupadas por muito movimento de trabalho físico, destreza e habilidade, esportes e dança, a indução ao movimento pela Lua é proveitosamente utilizado. O ímpeto da linfa é utilizado então para vantagem ou deleite do indivíduo em questão.

Mas infelizmente não é esse o caso de grande número de pessoas ociosas e sedentárias na vida moderna. Desde que suas vidas não contenham quase que nenhum movimento intencional, elas estão completamente ocupadas com movimentos não-intencionais e despretensiosos, movimentos totalmente controlados pela oscilação da Lua.

Só um homem que já começou a estudar-se a si mesmo perceberá que espaço imenso tais movimentos de fundo nervoso, agitações, gestos mecânicos das mãos e dos braços, mudanças de posição corporal, tensões no rosto e queixo, tamborilar dos dedos ou pés pertencem a essa categoria, assim como o jogo mecânico dos músculos faciais que em muitas pessoas produz incessantemente sorrisos, franzir de sobrancelhas e caretas de toda espécie sem a mínima emoção correspondente. Pode-se dizer literalmente daqueles que não utilizam um esforço físico intencional que emprega a energia motora de forma normal e correta, que nunca estão quietos.

É difícil acreditar. No entanto, requer não mais que um simples experimento de tentar permanecer imóvel em qualquer posição, mesmo a mais confortável, por cinco minutos para provar que este é um fato literal. Quase toda a vida de vigília e sono de muitos habitantes das cidades está ocupada por movimentos involuntários, inconscientes e completamente sem objetivo. Isso é o que significa estar sob o poder da lua. Um homem ou mulher cujo mecanismo físico esteve em movimento involuntário por, digamos, doze horas, estará tão exausto que não terá energia para aquelas coisas que do ponto de vista de sua natureza real desejaria e gostaria de fazer.

Assim, temos a estranha situação de que a Lua rege o que não tem propósito consciente no homem, o que acontece mecanicamente. E se podemos alegar que o poder sobre a mecanicidade não é de todo um poder, isso apenas atesta o estranho fato de que a mecanicidade sempre permanece invisível para o homem governado por ela – e quanto maior seu poder sobre ele, mais invisível ela permanece.

Uma parte considerável de movimentos involuntários e sem objetivo toma a forma de hábitos, ou seja, de movimentos, ação ou reação realizados originalmente por determinada razão que, boa ou má repete-se ad infinitum muito depois de a razão original ser esquecida e as circunstâncias terem mudado. Os impulsos linfáticos e o corpo aliviam-se movimentando-se, como já foi ensinado uma vez. Novamente podemos dizer que grande parte da vida humana é entregue à realização dos hábitos e que toda ela está sob a influência da Lua.

Um hábito característico, estendendo-se gradualmente a todos os aspectos da vida de um homem, torna-se sua debilidade principal. Por exemplo, um homem tem por um lado a tendência de ser tímido e por outro uma tendência à meticulosidade ao lidar com pequenas tarefas. Quando garoto, adquire o hábito de querer terminar o que está fazendo antes de encontrar-se com outras pessoas. Gradualmente, começa a parecer correto e inevitável para ele completar a tarefa mais trivial antes de comparecer a um encontro. Mais tarde, mesmo se não houver tarefa que o atrase, ele inventa uma. Finalmente acontece que ele literalmente nunca mantém um compromisso.

Uma debilidade principal desse tipo pode arruinar a vida de um homem, traz-lhe dificuldades intermináveis, impede-o de cumprir tudo quanto tente fazer. O curioso é que para o próprio homem a debilidade pode permanecer completamente desconhecida e invisível. Cada situação parecerá um caso à parte e inevitável, nunca lhe ocorrendo o fato de que poderia agir de outra forma.

Dessa maneira, a debilidade é construída sobre o hábito, o hábito sobre a ação involuntária e a ação involuntária sobre movimentos sem propósito. E a causa original de toda essa seqüência é a influência aparentemente inocente da Lua sobre a matéria líquida. Por essa razão o caminho do desenvolvimento da consciência é algumas vezes descrito como ‘escapar do poder da Lua’.

Pois o lunatismotodo da debilidade principal reside precisamente em sua mecanicidade, na natureza automática de sua manifestação. Uma vez vista, sua natureza muda. E com a introdução de consciência e controle surge a possibilidade de usar intencionalmente seu traço para servir a uma meta definida. Onde isso ocorre a ‘debilidade principal’ pode ser gradualmente transformada em ‘força principal’, a ‘capacidade especial’ pela qual o indivíduo se distingue e só através da qual poderá alcançar seu objetivo e servir.

Até onde lhe concerne ser liquido, o homem faz o que a lua dita. Dele poderíamos dizer que é lunático, não fossem outras e mais raras matérias e energias nele independentes dessa influência. Assim como a luz não está sujeita à gravidade, também as funções da razão e da emoção, trabalhando com energias mais elétricas que líquidas não precisam seguir o fluxo lunar. Até onde o centro de gravidade do ser de um homem resida nelas ele é independente da lua. Até onde seja sangue e linfa será apenas sua criatura. Selene, como a lenda grega proclamava, está enamorada de Endimião mas, à diferença de Pã,ele sóé parcialmente dela. Se ele despertasse do encanto de sono a que Zeus o submeteu tornando-se consciente, deixaria de ser dela por completo.


II A Lua como Imã


Uma função muito diferente da lua requer atenção. Vimos que o peso e a distância da lua têm grande significado do ponto de vista da Terra. Mas vários fatos curiosos sobre seu peso e distância podem ser explicados somente quando supomos uma relação igualmente íntima com o Sol.

É bem conhecido que em certos eclipses totais o disco da Lua coincide exatamente com o do Sol, obscurecendo totalmente sua superfície mas deixando visível a coroa de fogo que o circunda. Esse fato é tão conhecido que ninguém o considera extraordinário. Mas fosse a lua poucos quilômetros maior ou menor e milhares de quilômetros mais próxima ou distante essa coincidência exata não ocorreria. Apesar de toda a imensa extensão em tamanho e distância aparentemente possível para um satélite, este ponto particular foi escolhido. Tal combinação de tamanho e distância deve ter evidentemente algum significado, um foco em algum campo de força não percebido.

Em outras palavras, se imaginássemos que um raio convergente de luz emanada do Sol estivesse focado no ponto central da Terra, a Lua estaria colocada exatamente para cortar esse raio de luz em certas circunstâncias recorrentes às quais chamamos eclipses. Nos termos de nossa analogia elétrica do Sistema Solar como uma série de transformadores, isso significaria que uma das funções da Lua seria modificar de alguma forma a influência constante do Sol numa corrente interrompida. O princípio é semelhante àquele utilizado numa campainha elétrica onde um imã e uma mola são usados para acionar e suspender uma corrente contínua e por meio de um rotor ou lâmina atraídos por eles, produzir uma oscilação mecânica que escutamos na forma de som.

Investigando ainda mais, vemos que a seqüência de tais eclipses ou cortes de corrente solar são bastante regulares, repetindo-se em períodos de 18 anos e 11 dias e que os antigos chamavam Saros. Nele, um total de 28 eclipses do Sol são observados numa ou noutra parte do mundo. Assim, o mecanismo da Lua parece interromper a radiação solar numa freqüência de aproximadamente 120 ciclos nos 80 anos que calculamos como um momento de percepção para o Sol. Correspondendo esses 80 anos do tempo do Sol aos 1/30 avos de segundos do tempo de percepção do homem,39 isso eqüivaleria a uma freqüência de quatro quilociclos.

Outro fato pouco notado reforça essa idéia da Lua como produtor-interruptor da corrente solar. Quando consideramos o movimento da Terra vemos que a velocidade da rotação lunar ao redor dela em 27,3 dias é exatamente a velocidade da rotação do Sol em seu próprio eixo em 25,3 dias. Quer essa engrenagem seja motivada por algum mecanismo invisível ou por influência fotoelétrica, o efeito é como se o Sol rodeasse a Lua em sua órbita como dois dentes de uma roda em diâmetros iguais que sempre se opõem e engrenam do mesmo lado. Novamente é impossível acreditar que tal coincidência de velocidades seja acidental e só podemos supor que ainda que a Lua esteja agregada ao campo da Terra, ela também é parte de um mecanismo solar para produzir a força alternante requerida.

Em relação à freqüência interruptora da Lua (4 quilociclos), as radiações solares são sem dúvida de uma freqüência muito maior. Portanto, o efeito da Lua é produzir pulsações de correntes de alta freqüência. Na teoria elétrica usual isto daria origem a uma corrente alternativa em qualquer circuito adjacente sintonizado com a freqüência na qual as pulsações ocorressem. A Terra pode ser considerada como sendo tal circuito.

Supondo que nossa análise esteja correta, qual é o propósito ou efeito da criação de uma corrente de alta freqüência no campo da Terra? As implicações plenas dessa questão encontram-se muito acima de nós. Mas há um efeito específico associado com correntes de alta freqüência que é sugestivo de nosso ponto de vista. É o fenômeno conhecido pelos eletricistas como ‘efeito de superfície’. Se uma corrente direta de baixa freqüência for passada por um fio, ela corre uniformemente ao longo de toda seção, assim como a água passando por um tubo. Mas quanto mais alta a freqüência mais a corrente tende a manter-se próxima à superfície do fio e nas altas radiofreqüências é quase que inteiramente conduzida pela superfície. Da mesma forma a água passando por um cano espiralado tende a manter-se nos lados da circunferência deixando um vórtice no centro.

Um dos resultados da criação de um efeito de alta freqüênciapela lua poderia ser então o de manter a energia solar transformada flutuando no tempo ao longo da superfície da Terra, isto é, fluindo através daquela parte da Terra coberta pelo mundo da Natureza e pela vida orgânica. Logo, quer pensemos eletricamente no fenômeno como ‘efeito superfície’ ou mecanicamente como a tendência centrífuga da água num tubo em espiral, tal efeito seria produzir uma atração para o exterior, um efeito de levitação na superfície de nosso condutor.

Partindo de um ponto de vista diferente, chegamos outra vez à mesma concepção da Lua como sustentáculo da vida orgânica, o que mantém as coisas vivas eretas sobre a superfície da Terra. É como o operador invisível de um teatro de marionetes mantendo os fios que animam os bonecos. Ela é, como vimos antes, o grande imã da Natureza, exercendo uma influência magnética sobre ela três vezes mais potentedo que todos os planetas juntos.

Contudo, antes de seguir adiante, talvez fosse melhor considerar a questão do magnetismo em geral e em particular a curiosa dificuldade de esse estudo manter-se atualizado com outros avanços científicos.

A moderna ciência magnética começou no século XVI e foi sistematizada em 1600 por William Gilbert que considerou a Terra como um grande ou arquetípico imã e estudou todos os outros imãs menores como ‘terellas’ ou terras em miniatura. Para enfatizar a qualidade viva do magnetismo ele colocou como subtítulo de seu livro ‘Uma Nova Fisiologia’. Todos os pesquisadores anteriores certamente olhavam o magnetismo como um princípio universal de atração e repulsão, acompanhado em toda escala pelo fenômeno de fluxo e refluxo. Em 1766, Mesmer publicou uma tese em Viena, declarando que “existe uma influência mútua entre Corpos Celestes, a Terra e os Corpos Animados”, por meio de “um fluído contínuo distribuído universalmente... de uma natureza incomparavelmente rara”. À “propriedade do corpo animal que o traz à influência dos corpos celestes e a ação recíproca daqueles que o circundam” ele chamou “magnetismo animal”.

Cinqüenta anos mais tarde, Faraday percebeu que uma corrente elétrica passando através de um fio produz um campo magnético de força, o eletromagnetismo. Ao mesmo tempo isso foi considerado um fenômeno molecular, dependendo do abrandamento ou polarização semelhante de todos os átomos dentro do metal em questão.

Daí em diante, duas formas de magnetismo, o terrestre e o metálico, ocuparam exclusivamente a atenção dos pesquisadores e os dois outros aspectos reconhecidos anteriormente, o magnetismo planetário e o magnetismo animal, foram rejeitados ou ignorados.

Podemos agora insistir na reconsideração dos magnetismos planetário e animal como fenômenos semelhantes com bases exatas nas próprias descobertas de Faraday. Como já vimos anteriormente, as trajetórias dos planetas no tempo podem ser vistas como ‘fios’ carregados de uma corrente provocada pelo Sol e portanto circundados por um campo magnético tal como a Terra o é. Outra vez, como agora sabemos da fisiologia animal, os ‘fios’ dos nervos contém impulsos elétricos e também devem produzir campos magnéticos pequenos e grandes.

A rejeição do magnetismo animal e planetário é devida ao hábito – baseado num mal entendido do método científico – de negar o que não pode ainda ser medido por instrumentos mecânicos. Por exemplo, o fenômeno da atração e repulsão pessoal entre tipos e sexos diferentes é algo que todo indivíduo observa diariamente e mede por si. Talvez seja certamente a coisa mais conhecida em toda a sua experiência. Essa é uma percepção direta do magnetismo animal. A cada encontro de olhar entre duas pessoas, elas podem sentir e estudar a proximidade de um circuito magnético. Até porque nenhum instrumento que se conheça possa medir esse circuito ou o grau dessa atração e repulsão, ela é tacitamente ignorada. Pela mesma razão o magnetismo planetário foi também ignorado. Um novo estudo científico desses ‘fenômenos esquecidos’ pode ser esperado num futuro próximo.

Enquanto isso, continuaremos a tratar a esses magnetismos , o animal e o planetário como estando sujeitos às mesmas leis que o magnetismo terrestre e metálico, mesmo que estes permaneçam imensuráveis.

A Lua é assim o grande imã de toda a Natureza. Ela sustenta os milhões de campos magnéticos separados que animam todos os corpos individuais vivos sobre a Terra, o que os distingue dos que são inertes. Todo organismo vivo, dotado de vida pelo Sol, constitui tal campo magnético individual e efêmero. Dele podemos dizer que possui um corpo magnético em adição àquele físico. E são tais corpos magnéticos os que tanto são produzidos como influenciados pela ação magnética da Lua, ainda que recebam forma e variedade pelo magnetismo menor e sempre cambiante dos planetas.

No caso do homem, esse campo ou corpo magnético tem aspectos muito interessantes. É ele que, estudado por Kilner e Bagnall através de projeções de tinturas de cianina, apresenta-se como uma espécie de aura que estende-se a duas ou três polegadas em todas as direções fora de seu corpo físico. Como esperávamos, tem uma afinidade particular pelos corpos líquidos, em especial pelo sangue arterial que é, por seu alto teor de ferro, o veículo do magnetismo, mais forte naqueles indivíduos que têm um rico e abundante fluxo sangüíneo e mais tênue nos delgados e anêmicos. Está assim intimamente conectado com o estado de saúde, tanto do corpo como um todo quanto de suas partes separadas.

É com esse corpo magnético que um homem é sensível aos estados físicos de outros, sentindo imediatamente simpatia por uns e aversão por outros. É também o meio de ‘simpatia’, ou seja, a compreensão ou o ‘sentir’ o sofrimento físico de outro, sua necessidade ou bem-estar, embora essa capacidade não deva ser confundida com compreensão emocional,esta muito mais rápida e penetrante.

A íntima conexão entre o campo magnético e a corrente sangüínea torna-se um fator importante na cura. À parte o indivíduo ter o poder de concentrar sua atenção num lugar determinado, algumas pessoas têm a capacidade natural de ‘suavizar’ ou polarizar o campo magnético de outras. Quando esse poder é genuíno temos os ‘curadores pela fé’ ou ‘curadores psíquicos’. Em alguns lugares onde muita força magnética foi concentrada por longo tempo, tais como certos centros de peregrinação, é possível que essa ‘suavização’ do corpo magnético possa ser feita impessoalmente e um certo sentido de bem-estar especial e até mesmo ‘milagres’ físicos sejam produzidos em pessoas sensíveis. Em outros casos, ação no corpo magnético de outros pode tomar a forma de mesmerismo ou hipnotismo.

Em seu estado normal, o campo magnético é fluído e nebuloso, abarcando todo o corpo físico, sendo talvez mais concentrado ainda ao redor do coração. A atenção mantida tem o poder de concentrá-lo e através disso aumentar o fluxo sangüíneo num lugar específico. Mas também existe a possibilidade de que algum choque terrível ou uma violência de natureza emocional, particularmente no momento da morte, possa ‘congelá-lo’ permanente ou semi- permanentemente numa dada forma. Nesse caso ele pode reter sua forma ou campo mesmo depois da desintegração do corpo vivo que lhe deu origem. É esta possibilidade que está no fundo das histórias de fantasmas, espectros, aparições e na lenda da existência independente de um sósia.

No entanto, tanto no que diz respeito aos fenômenos anormais quanto nos normais conectados com o campo magnético, é mais importante lembrarmos que este último é um fenômeno puramente mecânico. Nada conectado ao corpo magnético e em geral nada sujeito à influência da Lua tem qualquer conexão com o desenvolvimento psíquico ou com a consciência.


III A Lua como Fruto da Terra


Uma das principais características da Lua, como já apontamos anteriormente, é a de que lá nada acontece. Os modernos telescópios trazem a visão do homem tão próxima da Lua quanto os foguetes equipados com câmeras o afastam da Terra. Em outras palavras, o homem pode agora estudar a Terra e a Lua de distâncias iguais. Na realidade, iluminada pela luz ofuscante de um Sol e que não se tornou difusa pela atmosfera, a superfície da Lua é revelada quase tão vívida quanto uma paisagem terrestre vista de um aeroplano transcontinental.

Embora estude-a ano após ano, o observador percebe com um crescente senso se horror que ali nada se modifica. As mesmas cadeias denteadas de montanhas, iluminadas por um branco brilhante contra intensas sombras negras, as mesmas crateras de trinta quilômetros como gotículas salpicadas numa jarra de leite congelado por toda a eternidade, os mesmos desertos intermináveis de cinza vulcânica ora com a temperatura da água fervente sob um sol vertical ora a 80o C abaixo de zero quando passam no interior da sombra – tudo exatamente idêntico hoje, amanhã, no tempo de César e daqui a mil anos. Não apenas nada há ali que cresça, como também não há estações, ventos, geada ou gelo. Apenas uma coluna isolada e silenciosa de pó quando um meteorito se choca. Um dia cegante e uma noite negra de azeviche, petrificada pelo frio do espaço exterior. Tal é a extensão de sua variação. Por mais estranho que possa parecer, a descrição mais precisa que se poderia dar das condições na Lua é encontrada em certas descrições medievais do inferno. Só estas dão uma idéia do fogo eterno, frio eterno e impossibilidade de melhorias. Estamos tão acostumados ao constante fluxo e transitoriedade do mundo da Natureza que é quase impossível para nós concebermos em termos usuais um mundo onde o tempo não traga mudanças.

Tudo isso é característico de um mundo no qual faltam as primeiras oitavas das matérias que discutimos no último capítulo. Se fosse possível estabelecer uma tabela de elementos lunares, talvez ela começasse abaixo do oxigênio, onde as principais matérias da vida orgânica se desvanecem. Em todo caso, tais matérias só podem ocorrer ‘aprisionadas’ na forma de sais minerais ou metais.

A única espécie de mudança que parece ocorrer na lua e que pode ser possivelmente a primeira preparação para a vida lá a incontáveis erasdaqui é uma tendência para a poeira originada pelos meteoros que caem e rochas fragmentadas dirigindo-se para uma única região onde parecem estar preenchendo as crateras mortas e criando, com imensurável lentidão, uma planícievasta de limo em pó.40 Isso é de fato o começo de uma corrente, a massa de poeira lunar sendo dragada pela Terra assim como a massa de água terrestre é arrastada pela Lua.

Estudamos anteriormente a conexão entre rotação e separação de matérias em diferentes estados que podem dar origem à atmosfera e à vida orgânica. A lua não tem rotação e é, como supomos, constituída de um corpo onde nenhuma força separativa foi ainda produzida, uma massa homogênea e sólida de matéria em estado mineral.

Que possibilidade tem a Lua de adquirir rotação e com o tempo gerar ar e vida? Ela está crescendo de fato? Em resposta a isso podemos apresentar quatro fatos. No momento a Lua está a uma distância de 30 vezes o diâmetro de sua progenitora, a Terra. Ela não tem rotação. Mercúrio está a 42 vezes o diâmetro de seu progenitor, o Sol. Ele não tem rotação.41 Vênus está a 77 vezes o diâmetro de seu progenitor, o Sol, já tendo começado seu movimento de rotação. Todos os planetas mais distantes têm rotação e em geral, quanto mais distante eles estiverem, mais rápido o farão. Enquanto isso, certamente a Lua e provavelmente todos os planetas, estão distanciando-se lentamente de suas luminárias.

Assim, parece extremamente provável que um planeta ou satélite desprendendo-se originariamente do corpo de seu progenitor adquira o poder de rotação e consequentemente, de vida independente por si mesmo apenas à medida em que já estiver emancipado numaconsequentemente distância definida de sua fonte. Nesse cálculo a Lua terá de estar o dobro da distância em que se encontra agora da Terra antes que possa começar seu movimento de rotação e gerar vida. De fato, ela está a meio caminho entre a concepção e o nascimento como um planeta independente.

Se ela é então a filha da Terra, que espécie de filha ela é? Buscando uma analogia humana, teríamos que retroceder à meninice, infância e mesmo ao nascimento para descobrir qualquer paralelo. O fruto está não somente inato como nem mesmo vivificado. É como o embrião ou forma de um mundo futuro que não tem nem vida nem movimento próprio.

Para um observador familiarizado com os seres humanos vivos e seus incessantes movimentos e humores, intermináveis jogos de expressão, tom, postura e tudo mais e que de alguma forma estivesseainda capacitado para observar um feto inanimado no ventre de sua mãe, tal feto parecer-lhe-ia inerte e imutável. Poderia dizer que nada estaria acontecendo com ele e que carecia de possibilidades. Ainda que seu padrão interno de mudança fosse muito mais rápido que o dos homens e mulheres que esse observador conhecesse, ao feto faltariam completamente as vibrações exteriores da personalidade associadas aos seres humanos. Tal pode ser o estágio do desenvolvimento da lua da Terra.

Mas se for assim, como a lua é nutrida? Um embrião depende para sua própria existência de sua participação na corrente sangüínea da mãe até que nasça como organismo independente. Dela recebe a nutrição necessária a seu crescimento. A esfera desguarnecida da Lua não está capacitada ainda para transformar luz solar direta. Até que adquira atmosfera e vida própria, ela deve receber essa energia pré digerida da Terra.

Vimos as variadas influências da Lua sobre a Terra. Qual é a influência correspondente da Terra sobre a Lua? O que passa da mãe para a filha? Mais uma vez o fenômeno que tão diversamente descrevemos como atração lunar, seu efeito de alçar ou sugar, sua criação de uma corrente centrífuga para fora da Terra nos ajudará a responder a questão. Todas estas são maneiras simples de descrever o efeito de certo fluxo da Terra para a Lua,assim como o fluxo de sangue da mãe para a criança ainda não nascida.

A Lua alça ou suga toda a criação orgânica da superfície da Terra. Mas seu poder de atração não pára aí. Há razões para suspeitar que no momento em que os organismos morrem e seus elementos retornam ao seio da Terra, essa atração é de alguma forma completada e um circuito magnético completado. Quando o operador de marionetes libera seus bonecos, eles caem no palco, tornando-se fragmentos inertes de gesso e tecido. Algo retorna deles para ele. É o movimento, sua ilusão de vida, sua alma de boneca.

Tudo o que foi deduzido do papel da Lua leva-nos a crer que é exatamente essa tensão elétrica que constitui a diferença entre a matéria viva e a morta o que fornece a corrente necessária para a existência da Lua. Todo organismo vivo, dotado de vida pelo Sol, constitui um campo magnético individual e efêmero. Quando ele morre e seu poder de transformar a força de vida solar é removido, sua tensão magnética é liberada. A liberação a toda hora e a todo momento de milhões de tais campos magnéticos, grandes e pequenos, sobre a superfícietoda da Terra induzirá uma corrente enorme e um condutor adjacente. Já que não há evidências de que essa energia seja usada outra vez na Terra – posto que uma próxima geração de seres vivos sempre surge de uma nova energia solar – temos que supor que ela seja mandada para algum lugar.

De fato, a corrente magnética liberada pela morte de criaturas vivas, voa para o nível mais baixo da ionosfera, reconhecidamente o nível onde o magnetismo lunar tem efeito.42

Une-se aí a corrente magnética geral que conecta a Terra e a Lua. Cálculos baseados no retardamento entre os distúrbios magnéticos na superfície do Sol e repercussões na atmosfera têm demonstrado que as influências magnéticas viajam a 700 quilômetros por segundo.43 Em dez minutos, o que faz a diferença entre um corpo vivo e um morto, voltou à Lua que o sustentou durante a vida.

Essa corrente magnética é a linha de vida da Lua, o cordão umbilical que a conecta com sua mãe, a Terra.


(37a) Sabe-se atualmente que Júpiter mantém catorze luas em sua órbita, fato científico desconhecido à época da primeira edição deste livro. (N. do T.)

(37b) Abade Moreaux, “Le Ciel et l’Universe” pág. 196.

(38) Svante Arrenhius, H. Munro Fox, Miss Semmens, Madame E. Kolisko, Mrs. Savage e Hodgson, C. P. Rickford e outras autoridades citadas por Robert Eisler, “The Royal Art of Astrology” págs. 138-145.

(39) Ver Capítulo 2, III, ‘Os tempos do Universo’.

(40) Fred Hoyle, “The Nature of the Universe”, pg. 11.

(41) A assim chamada rotação de Mercúrio no curso de sua revolução ao redor do Sol é simplesmente resultado de ele manter uma relação fixa com o Sol. É um movimento emprestado, não uma rotação no sentido de movimento planetário independente.

(42) “The Earth’s Magnetism” por Sydney Chapman, pág. 77.

  1. Ib. Págs. 114-5.