segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Capítulo X - O Homem como Microcosmo

I Os Sistemas Anatômicos e seus Reguladores

Quando tentamos imaginar o extenso corpo do Sistema Solar como véus entrelaçados ou filamentos formados pelo rastro dos planetas, lembramo-nos de passagem dos vários sistemas do corpo humano – ósseo, linfático, arterial, nervoso e assim por diante – que nos pareceram feitos e reunidos de modo semelhante.

Essa associação não foi acidental. Quanto mais estudarmos esses sistemas, mais nos parecerá de fato que eles são redes análogas de distribuição para energias transformadas em diferentes tensões.

A estrutura humana consiste de sete ou oito sistemas reconhecíveis, sustentados por uma armação esquelética e reunida num conjunto sólido pelo tecido conectivo. Esses sistemas são unidos e harmonizados pela ação vivificante do coração, do qual depende a própria existência do organismo como indivíduo.

Cada sistema abrange o corpo inteiro e sobre cada um deles, uma das glândulas de secreção interna – que estão situadas em lugares específicos – parece governá-lo na qualidade de reguladora e transformadora. Essa glândula transforma a energia vital geral produzida pelo organismo e obtida através de alimentos, ar, luz e assim por diante, na tensão requerida para seu próprio sistema e função.

Além disso, o conjunto dessa sétupla disposição de funções humanas deve ser visualizado como estando sujeito a três distintos mas interativos controles nervosos – o cérebro-espinhal, que serve às funções conscientes, o simpático, que estimula funções inconscientes ou instintivas e o parassimpático e vago ao qual atribui-se o retardamento dessas funções instintivas e que atua, portanto, como complemento deste último. Isso nos sugere um controle para liberar impulsos nervosos ativos, um outro para liberar impulsos nervosos passivos e um terceiro ainda para liberar os impulsos mediadores do pensamento, razão ou consciência.

Na verdade, temos razões para supor que esses três controles nervosos representem a lei de três forças no corpo humano, assim como as glândulas endócrinas e seus produtos parecem refletir a lei universal das oitavas. É justamente essa sujeição de uma mescla sempre cambiante de sete ingredientes a um tríplice controle nervoso, ele mesmo em contínua permutação, o que torna o mecanismo humano uma imagem de todos os outros cosmos.

Ao mesmo tempo essa combinação cria um padrão tão sutil que sua manifestação pode ser analisada em centenas de maneiras diferentes, todas elas verdadeiras e todas elas ilusórias. Seria simples se pudéssemos dizer, por exemplo, que os nervos, como agentes da lei de três, controlam as glândulas como agentes da lei de oitavas. Mas à parte controlarem os sistemas glandulares, os próprios nervos constituem tais sistemas e são por sua vez controlados, assim como no Sistema Solar cada planeta age tanto como força mediadora da lei de três quanto como simples nota na lei de oitavas.

Em outras palavras, as três forças e os sete aspectos implicam diferentes modos de olhar o mesmo fenômeno. Com nossas mentes usuais somos incapazes de perceber os dois princípios em operação de uma só vez, assim como o olho humano não pode focalizar num mesmo momento a superfície de um espelho e um objeto distante refletido nesse espelho. Fôssemos capazes de compreender simultaneamente a lei de três e a lei de oitavas, certamente compreenderíamos o Sistema Solar ou o organismo humano na íntegra. Não podemos simplificar mentalmente a interação dessas duas leis, posto que um cosmos vivo é o mais simples modelo de sua união.

Pela mesma razão, nunca poderemos realmente obter êxito ao separá-las. Nem qualquer tentativa para descrever em detalhes – no corpo humano, digamos – a operação de primeiramente uma lei e a seguir a outra, poderá ser logicamente satisfatória. As duas explicações sempre parecerão sobrepor-se e sempre parecerão contraditórias e inconsistentes à mente lógica.

De qualquer forma temos que tentar. Comecemos do ponto de vista da lei de oitavas. Cada um dos vários sistemas e sua glândula regente será visto agora como dotando o homem de um conjunto especial de qualidades e capacidades. Em virtude do sistema ósseo ele é uma criatura ereta e articulada, em virtude do sistema linfático pode digerir e assimilar, em virtude do sistema pulmonar ele respira, pelo arterial aquece-se a si mesmo, em virtude do cérebro-espinhal ele vê, pensa e age e ainda por um outro sistema ele está sujeito à emoção e à consciência. Esses são de fato os reinos da natureza dentro dele.

Retornando à nossa analogia eletrônica, vemos que as energias usadas nos diferentes sistemas ou circuitos variam tanto em pressão quanto em índice de fluxo. No sistema linfático, por exemplo, o índice de fluxo é muito alto e constante, mas a pressão é extremamente baixa. O canal linfático central de uma vaca, quando puncionado, produz 95 litros de linfa por dia, mas essa substância é tão diluída e de ação tão moderada que somente nessas quantidades pode render o trabalho relativamente simples de distribuição de nutrientes e eliminação de toxinas. Em outras palavras, a amperagem é alta mas a voltagem muito baixa.

Isso é contrastante com a energia produzida no homem pelas emoções de temor religioso, amor, ódio extremo e assim por diante. O fluxo aqui é tão pequeno que passam-se semanas, meses e até anos sem que um homem possa dar-se conta de nada mais que um gotejar ocasional e insignificante. Por outro lado, quando a energia transformada dessa forma torna-se disponível, seu poder é enorme. Pode fazê-lo fundar uma ordem monástica ou cometer um assassinato. A amperagem é baixa mas a voltagem extraordinariamente alta.

Considerando agora que essas diferentes glândulas sejam de fato adaptadores ou transformadores da energia geral criada pelo organismo, qual a relação entre elas? Estarão dispostas numa ordem definida? Podemos ver uma escala regular de tensões produzidas entre elas?

Uma pista inesperada surge de sua disposição. Se, tomando o coração como centro, traçarmos um diagrama esquemático do corpo humano onde estão marcadas as várias glândulas, veremos que todas descansam sobre uma espiral regular semelhante àquela que representa a linha de força ou crescimento em muitos fenômenos naturais.48 Assim como uma galáxia parecia ser uma espiral de sóis em expansão e o sistema solar uma espiral de planetas em expansão, também o corpo humano transmite a impressão de uma espiral de funções em expansão.

O sol e fonte dessa espiral é o coração. Daí desdobra-se através do timo, do pâncreas, das tireóides e paratireóides, do plexo solar onde têm efeito as supra-renais, da pituitária anterior e posterior com sua circunvolução final através das glândulas sexuais até chegar ao corpo pineal, a última e mais avançada possibilidade do organismo.

Se retrocedermos à diferenciação primária do embrião humano em três camadas germinais durante sua primeira quinzena de existência, poderemos ver realmente essa espiral em sua forma original. As três camadas germinais que se desenvolvem da primeira multiplicação das células enrolam-se umas sobre as outras. Da camada germinal que forma a bobina interna (endoderme) desenvolvem-se as funções conectadas com as três primeiras glândulas mencionadas, chamadas crescimento, digestão e respiração; da que forma a bobina intermediária (mesoderme) desenvolvem-se as funções conectadas com as próximas três, chamadas circulação sangüínea e movimentos voluntário e involuntário. Da camada germinal que forma a bobina externa (ectoderme) desenvolvem-se as funções conectadas com as últimas três chamadas mente, emoção e reprodução.

Se adicionarmos a essa ordem o que sabemos sobre as funções das diferentes glândulas e sistemas que elas controlam, obteremos a seguinte tabela:

Glândula: Timo / Função: Crescimento / Sistema:?

Glândula: Pâncreas / Função: Digestão, Assimilação de alimentos / Sistema: Linfático

Glândula: Tireóide / Função: Respiração, Combustão de ar / Sistema: Pulmonar


Glândula: Paratireóide / Função: Circulação sangüínea, crescimento de tecidos conectivo / Sistema:Arterial, Tecido

Glândula: Supra renal / Função: Movimento externo, luta e fuga / Sistema: Cérebro-espinhal e Músculos voluntários

Glândula: Pituitária posterior / Função:Reflexos internos, Sensação Física / Sistema: Simpático e Músculos involuntários

Glândula: Pituitária anterior/ Função: Mente e razão, estrutura óssea / Sistema: Córtex cerebral e esquelético


Glândula: Gônadas/ Função: Reprodução, Criação, Emoção Superior / Sistema: Genital

Glândula: Pineal / Função: ? / Sistema: ?

As funções controladas pelas glândulas dão nessa ordem a forte impressão de estarem graduadas do grosso ao fino, do material ao imaterial. Todas as funções que estamos acostumados a considerar como físicas situam-se no princípio e aquelas que consideramos psíquicas situam-se no final. Traduzindo para nossa terminologia elétrica, diríamos na evidência de sua produção que os transformadores parecem estar dispostos em ordem crescente em voltagem e em ordem decrescente em amperagem.

Se retomarmos as categorias de velocidade de difusão que elaboramos no Capítulo 6, veremos uma correspondência ainda mais surpreendente confirmando essa ordem.

O timo, controlando o crescimento, parece trabalhar com a energia da Categoria VIII, que chamamos vegetal ou celular; o pâncreas, controlando a digestão e assimilação dos alimentos, com a energia da Categoria VII, que chamamos de invertebrados ou líquidos; a tireóide, controlando respiração e movimento, com a energia da Categoria VI que chamamos dos vertebrados ou muscular; a paratireóide, controlando a circulação sangüínea, com a energia da Categoria V, que chamamos animal ou sangüineamente aquecida.

Continuando essa ascensão, deduziríamos que os dois lóbulos da pituitária, controlando por um lado sensações físicas e reflexos e por outro a mente e a razão, trabalha com a energia das Categorias III e II, que chamamos planetária ou magnética. As gônadas, controlando reprodução e criação em geral devem desse modo trabalhar com energia da Categoria I, solar ou luminosa, relacionada com a velocidade da luz. Enquanto que a pineal, se funcionasse de todo, trabalharia com a energia da Categoria 0, energia galáctica, mais rápida que a luz e da qual não temos sequer um conhecimento teórico.49

Nesse sentido, podemos ao menos hipoteticamente calcular a velocidade dos processos característicos de cada função e a relação matemática de uma com a outra. Se, como já sabemos cientificamente, a corrente sangüínea influenciada pela paratireóide corre através das veias do homem a um metro por segundo e os impulsos cérebro-espinhais influenciados pelas supra-renais faíscam através de seus nervos a 100 metros por segundo, teremos então que imaginar os dois lóbulos da pituitária levando a cabo sua comunicação a 10 e 1000 quilômetros por segundo, o que quer que isso possa significar. Tudo que podemos comprovar por experiência é que a mente, fortalecida pela pituitária anterior, pode ‘estar presente’ em qualquer lugar, em qualquer local ou tempo imagináveis, instantaneamente, ou seja, sem intervalo mensurável.

Ainda de acordo com essa idéia, o verdadeiro sexo, sua compreensão peculiar e experiência, seria cem vezes mais rápido que a mente. E a percepção da desconhecida função final cem vezes mais rápida ainda.

Há outro aspecto notável dessa cadeia de transformadores de energia dentro do corpo humano. A ordem deles ecoa de forma espantosa a disposição dos planetas no sistema solar – mas com a seqüência de tensões ao contrário. O que está mais próximo ao centro é menor, mais fino e sob maior pressão no Sistema Solar; mas é maior, mais grosso e sob menos pressão no sistema humano. No primeiro caso a amperagem aumenta em direção à circunferência; no segundo, a voltagem é que aumenta. Isso parece estranho até que nos lembremos com referencia ao rádio da idéia óbvia de que o alcance do receptor está em proporção inversa à potência da estação emissora.

E nesse ponto as imensas implicações da correspondência entre esses dois sistemas de transformadores, começam a ficar evidentes. Com certeza as glândulas endócrinas são precisamente esses receptores de influências planetárias e cuja existência supusemos anteriormente.

Talvez fosse mais exato dizer que a intrincada antena dos grandes plexos nervosos – o cervical, o cardíaco, o solar, o lombar e o sacro – constitua o aparato sensitivo para tal transmissão planetária enquanto que as glândulas endócrinas através das quais aquela se produz, como um alto-falante ou a tela de uma tevê produzem o mecanismo pelo qual tais impulsos invisíveis manifestam-se como movimento e ação físicos.

Em todo caso, de acordo com sua distância do coração, as glândulas obedecem as mesmas leis que os planetas obedecem de acordo com a distância do Sol. Criados do mesmo projeto, um responde ao outro. E cada glândula revela-se como um instrumento sensitivo que não apenas transforma a energia humana na tensão requerida para sua função, mas também está sintonizada a um instrumento similar numa escala cósmica cuja orientação obedece.

II Tipos: Endócrinos e Astrológicos

Temos agora uma base para estudar a possibilidade de que os planetas possam reger diferentes órgãos e por extensão, os tipos em que têm domínio esses órgãos receptivos.

Em outras palavras, quer gostemos ou não, vemo-nos obrigados a reconsiderar de um ponto de vista novo e científico as propostas gerais da astrologia, há muito descartada como ciência exata justamente pela falta de comprovação científica.

A tradição das astrologias grega, árabe e medieval, inseparáveis da tradição paralela da alquimia, acreditava que todas as criaturas na Terra respondiam a certas emanações não definidas das estrelas fixas, do Sol, dos planetas e da Lua. Essa resposta acontecia em virtude das afinidades, ou seja, diferentes criaturas continham em proporções variáveis, substâncias ou matérias semelhantes àquelas características das diferentes esferas celestiais e cuja potência aumentava e diminuía de acordo com o aumento e redução de seus arquétipos. Essas afinidades eram muito complicadas. Supunha-se que todos os metais, por exemplo tivessem uma afinidade geral com Saturno, ao passo que o cobre tinha uma sensibilidade atribuída a Vênus, assim como o ferro com Marte e assim por diante.

Acreditava-se que o homem contivesse dentro dele todas as afinidades e essas afinidades distintas estabeleciam-se em diferentes órgãos e partes, embora sua localização exata variasse consideravelmente de um período a outro. Disso seguiu-se que um homem que tivesse um órgão ou parte altamente desenvolvida, cujo centro de gravidade fosse ali, desfrutava por assim dizer de uma afinidade especial ou sensibilidade pelo planeta correspondente. Ele seria daquele tipo.

De fato, em nossa história foram feitas muitas tentativas no intuito de distinguir e catalogar diferentes tipos de homens, desde o sistema oriental e medieval de castas, passando pelas diferentes ‘ordens’ dentro da Igreja Católica Romana até as classificações sangüíneas e endócrinas nos dias de hoje.

Ainda que nunca essa idéia tenha sido tão plenamente desenvolvida como no ensinamento astrológico da Idade Média, a idéia geral da regência de diferentes órgãos por diferentes planetas gerou algumas tentativas interessantes para descrever os assim chamados tipos planetários.50 É um tributo surpreendente às escolas alquímico-astrológicas entre os séculos XIII e XVII, não obstante o fato de que todo o restante de seu sistema tenha há muito se perdido, que os termos que elas usaram em conexão a isso tenham passado a uso geral, provavelmente evocando ainda aos homens comuns a melhor idéia possível dos tipos sem uma preparação especial.

Tais palavras: lunático, mercurial, venéreo, marcial, jovial e saturnino, derivadas das afinidades entre o homem e o Sistema Solar, conectam cada tipo a seu planeta correspondente. Originalmente, lunático referia-se àquele tipo dominado pela função que tivesse afinidade com a Lua e somente mais tarde começou a referir-se especialmente a pessoas anormais desse tipo.

De modo semelhante, a palavra venéreo referia-se em geral àqueles com afinidade por Vênus. Todas as outras palavras mantiveram surpreendentemente seu significado. Portanto, com essas duas leves modificações, trataremos de estudar os tipos humanos sob esses nomes, os melhores disponíveis para nós.

Antes que o façamos, todavia, seria bom esclarecer as limitações e falhas que a astrologia teria que admitir, mesmo em seu próprio campo. Em primeiro lugar, ela nunca foi capaz de sugerir como as influências planetárias eram comunicadas, por quais meios elas exerceriam seu poder sobre as criaturas terrestres. Se todas as nossas deduções sobre os campos magnéticos estiverem corretas, começaremos então a preencher esse hiato particular. Novamente, o fato de que os planetas Urano e Netuno não tivessem sido ainda descobertos tornou necessário atribuir certos efeitos desconcertantes e fenômenos aos planetas conhecidos onde, ainda que por critérios astrológicos, eles não se adaptam. Aqui outra vez as modernas descobertas astronômicas parecem mais esclarecer do que contradizer os principais argumentos da astrologia.

Mais relevante ainda é o fato de que a astrologia tenha sido desviada de seu original estudo objetivo de correspondências e tendências em detrimento de prognósticos e adivinhações. Dessa forma, sem tornar-se necessariamente falsa ela negligenciou inevitavelmente sua pretensão de ser uma ciência exata. A combinação de influências e afinidades que ela admitia era tão elaborada, mutável e sutil que nenhum homem poderia deduzir o resultado correto exclusivamente por cálculos. Ele nunca poderia saber com certeza se não tinha omitido algum fator importante outivesse estimado erroneamente a importância relativa dos que conhecesse.

Nisso, ao mesmo tempo, a astrologia encontrou-se simplesmente na mesma posição que os diagnósticos médicos hoje em dia. Assim como um sábio clínico geral frente a um novo paciente, de alguma forma inexplicável coordena todo seu estudo teórico e toda sua experiência prática em incontáveis casos num súbito reconhecimento intuitivo da enfermidade, pode-se admitir também que o astrólogo sábio pode adquirir certamente um genuíno ‘sentimento de futuro’. Ao reconhecer os fatores que trabalham no presente, ele pode antecipar o que está por vir, assim como um médico que dá para um paciente com uma doença fatal, mais tempo para viver. Tanto o diagnóstico médico quanto o prognóstico astrológico, se finalmente forem algo, são artes e não ciências e assim não nos dizem respeito de imediato.

Se tentarmos rever as principais teorias astrológicas à luz das idéias modernas e livres da superstição acumulada, disporemos da seguinte proposição:

Cada glândula endócrina ou seu associado plexo nervoso é sensível ao magnetismo de um determinado planeta. Esse magnetismo em particular será mais forte naturalmente quando o planeta estiver no zênite, brilhando verticalmente através da mínima espessura da atmosfera, exatamente como a luz e o calor solares são mais fortes ao meio dia. Quanto mais baixo no céu ele se encontre e mais agudo o ângulo pelo qual sua influência deva passar através da camada de ar, mais fraco será seu efeito, assim como o Sol da manhã e o da tarde. Quando completamente abaixo do horizonte seu efeito será sentido apenas numa forma difusa, muito modificada pelo magnetismo peculiar da Terra. A altura de um dado planeta no céu será assim uma medida exata do grau de estímulo comunicado à glândula correspondente num dado momento.

Cada glândula tem três aspectos, conectados aos três sistemas nervosos. Desde que alguns aspectos tornam-se ativos antes que outros, enquanto alguns não estão nem mesmo ativados no homem comum, parece correto imaginar esses aspectos postos em ação em diferentes momentos de acordo com o estímulo planetário então operante. O primeiro e mais elementar aspecto e que de um modo geral está conectado com a hereditariedade é posto em ação através da combinação de cromossomos no ovo no momento crítico da concepção e determinado pela disposição dos planetas nesse instante. Essa combinação decide exatamente o que – à parte os infinitos recursos da raça – o homem por vir herdará de seus pais e ancestrais.

O segundo aspecto, que provavelmente é mais responsável pelo que comumente reconhecemos como seu tipo individual é posto em ação também no momento crítico do nascimento, quando o bebê, subitamente removido do isolamento do ventre da mãe é exposto pela primeira vez ao ar e às radiações diretas do sol e dos planetas. Nesse momento, as glândulas em seu segundo aspecto recebem cada uma um ímpeto exato e diferente que tanto as coloca em operação quanto fixam sua aproximação da vida.

Se imaginarmos um grupo de sete fotômetros fotográficos, cada um sensível à luz de um diferente planeta e os fizermos registrar permanentemente as imagens gravadas do momento em que são retirados da sala escura, obteremos certa visão dessa ‘ação’ da máquina humana no nascimento. Em outra figura podemos imaginar um cofre com segredo em combinações de sete cilindros diferentes, todos em movimento contínuo a diferentes velocidades. Num determinado momento, o do nascimento, a ‘fechadura’ é aberta. A combinação registrada naquele momento irá daí para a frente fornecer a chave permanente para o cofre, a única que lhe possibilitará abrir-se e ter seu conteúdo examinado.

Esse parece ser o trabalho das diferentes glândulas e das funções associadas a elas. Pela segunda ação elas recebem de seus planetas regentes no momento do nascimento a forma distinta, cor, tamanho, velocidade de reação e assim outras qualidades internas e externas da pessoa em particular são supostamente determinadas.

O terceiro aspecto potencial das glândulas pode então ser posto em ação num momento posterior da vida cuja data exata é difícil determinar, já que esse terceiro aspecto deve estar conectado com funções humanas potenciais desenvolvidas pelo crescimento de uma alma.

Podemos dizer assim que os três aspectos das glândulas determinam: o primeiro a essência hereditária, o segundo a essência individual e o terceiro a quintessência, princípio oculto e potencial da unidade.

Por ora, ignoraremos o primeiro e terceiro aspectos e nos concentraremos no segundo aspecto das glândulas, lançado e calibrado pelo estímulo planetário no momento do nascimento e sobre o qual depende a natureza física do homem como indivíduo, isto é, o que comumente reconhecemos como seu tipo.

É verdade que a maioria dos estudos dos tipos durante o último século estava baseada numa tríplice divisão. William Sheldon, um antropólogo americano que fotografou 4000 universitários na tentativa de conectar temperamento e medida física, parece ter encontrado três componentes principais na forma corporal que se combinariam de 76 maneiras diferentes. Esses componentes estavam ligados ao histórico da cabeça, tórax e intestino, derivados das camadas ectodérmica, mesodérmica e endodérmica respectivamente.50a

Mas como vimos há pouco, parece impossível estudar as coisas de forma usual pelas leis de três e de oitavas simultaneamente. Devemos escolher uma ou outra como base de classificação. Nesse livro nos concentraremos mais na sutil divisão em sete tipos baseada na endocrinologia do que na tríplice divisão baseada nos três ‘andares’ do corpo. As duas classificações não se contradizem, simplesmente dependem de ‘focos’ diferentes.

Organizemos então o material disponível pela psicologia e fisiologia modernas sobre a natureza e função dos diferentes tipos endócrinos e vejamos o quanto concordam ou diferem das antigas descrições astrológicas. Ao mesmo tempo deve ser lembrado que não há tipos puros, já que em cada homem todas as glândulas devem funcionar e ele é incapaz de viver se uma delas for destruída. Além disso, cada glândula afeta e é afetada pelas outras sendo na prática impossível ‘isolar’ o efeito de qualquer uma delas.

Se estudarmos os assim chamados ‘tipos’ isso significará apenas que tentaremos encontrar casos extremos ou até patológicos de dominância de uma ou outra glândula no sentido de determinar sua natureza particular. Ainda assim, haverá algo insípido e irreal em tais descrições, assim como há na investigação estatística sobre um ‘homem médio’. Ambas relembram-nos aquilo que conhecemos omitindo ao mesmo tempo tudo que é vivo e interessante sobre eles.

Quaisquer que sejam as descrições de tipos endócrinos, elas são irreais e descartáveis, pois por sua própria natureza exageram na perfeição e normalidade. Num homem ‘perfeito’, a ação da glândulas seria exatamente equilibrada e quanto mais próximo um homem esteja desse equilíbrio, menos possível classificá-lo como um tipo. O organismo ideal seria uma síntese de todos os tipos, mas tais homens já desfrutariam de poderes extraordinários e eles não parecem ser produzidos por acidente. As definições seguintes devem dessa forma ser consideradas como ‘caricaturas glandulares’.

Considerando as glândulas na ordem de nossa espiral e nossa tabela, começaremos com o timo, que forma uma grande massa esparramada sobre a traquéia, nas imediações do coração. Muito pouco é conhecido dessa glândula, exceto que ela desempenha uma parte importante no crescimento do organismo na infância e que na maioria dos casos tende a atrofiar-se depois da adolescência – com relação aparente à intervenção ‘apaixonada’ do sexo e das supra-renais. Suas células são idênticas às células linfáticas e provavelmente ajudam a promover um alto abastecimento de linfa requerido pela grande velocidade dos processos de metabolismo na infância. Nesse aspecto ela é certamente a mais ‘primitiva’ das glândulas.

Esse tipo, conhecido dos endocrinologistas por sua pele rosada, dentes e ossos delicados e seu ar especial de bela fragilidade é simplesmente uma descrição de Peter Pan, a criança crescida. Até onde podemos ver, o timo, tão estreitamente associado ao coração e localizado no centro de nossa espiral, é a glândula que incita o meio de crescimento. Quando o crescimento é completado, sua primeira tarefa está concluída. A possibilidade de uma função potencial posterior, normalmente não realizada, será discutida mais tarde. Esse tipo não é usualmente descrito em literatura astrológica, embora tentativas ocasionais para distinguir um tipo solar sejam sugestivas e recordem-nos que a localização e função do timo sinaliza-o como um regulador desse indiferenciado impulso de vida que só pode derivar do Sol.

A próxima glândula, o pâncreas, está associada ao sistema linfático e juntamente com o fígado controla a digestão dos alimentos. Isso representa a natureza ‘úmida’ do homem, que num capítulo anterior observamos estar particularmente sujeita à atração da Lua. Uma parte do pâncreas segrega insulina, promovendo o armazenamento de açúcar e atuando em contrapartida às supra-renais que dirigem sua súbita combustão, decorrente de demandas urgentes e altamente emotivas. Portanto, ela tende a abater ou extinguir o ‘fogo’ da atividade supra-renal. Ainda que a endocrinologia moderna não distinga um tipo pancreático tão claramente quanto distingue aqueles produzidos por outras glândulas, pessoas com essa predominância terão formas carnais fartas e arredondadas (‘cara de lua’) pela abundância de linfa. Serão passivas, caprichosas e introspectivas – todas essas características opostas àquelas dos apaixonados, vigorosos e violentos tipos supra-renais. De fato, aproximar-se-ão das descrições do tipo melancólico ou lunar, que estavam associadas ao elemento aquoso e suas conseqüentes características de fluidez e instabilidade.

A seguir, na ordem ascendente de acordo com o refinamento ou voltagem da energia utilizada, temos a glândula tireóide, situada na garganta abaixo do pomo de Adão. Essa glândula controla a combustão do ar que se respira e como a caldeira de uma locomotiva a vapor, regula o calor produzido e consequentemente a velocidade de todo o mecanismo. Quanto mais intensamente atue a tireóide, mais inquieta e nervosa será a aparência. O elemento pesado iodo, freqüentemente mencionado em conexão a essa glândula é como o peso sustentado sobre a chave dessa caldeira para prevenir que esta se abra e o mecanismo se desgaste.

Em endocrinologia o tipo tireóideo é descrito como de corpo delgado e pele clara, cabelo grosso, olhos e dentes brilhantes, percepção rápida e caráter voluntarioso, impulsivo com tendência a crises explosivas, impaciente, insone e inesgotável. Em outras palavras, o velho tipo aéreo, sangüíneo ou mercurial, ao qual essa descrição moderna corresponde estreitamente.51

No que se refere ao efeito do próximo grupo de glândulas, as pequenas paratireóides que estão situadas na tireóide e agem como seu par ou complemento, a endocrinologia tem muito pouco material. Sabe-se apenas que sua ação contra a tireóides (que produz movimento e volatilidade) é alcançada mediante a promoção do metabolismo do cálcio como elemento estabilizador e do fósforo como elemento mediador. Com as paratireóides subdesenvolvidas o indivíduo torna-se patologicamente nervoso, inquieto e hipersensível aos mínimos estímulos, inclusive a luz. As paratireóides acentuam a vida passiva e vegetativa, produzem firmeza e tonicidade muscular e nervosa – uma calma sensível e uma passividade calorosa. Seu campo é aquele da ‘carne e sangue’, estruturação dos tecidos e aumento de seu volume. Na velha astrologia esse é o tipo venusiano, o papel feminino do crescimento na inatividade.

As glândulas supra-renais, que utilizam energia do próximo poder superior, são duas pequenas cápsulas localizadas sobre os rins. Consistem de duas partes, o coração ou medula que segrega um hormônio que produz todos os fenômenos conectados com o medo e a fuga; e a cobertura ou córtex que segrega outro hormônio que dá surgimento às manifestações de ira e combatividade. Ambas, provavelmente por intermédio de seu elemento-chave, o potássio, criam uma elevação generalizada do tônus e sensibilidade no organismo. São as glândulas da ‘paixão’ e nesses diferentes modos expressam o impulso fundamental de auto-preservação. O tipo supra-renal tem a pele morena ou sardenta, possuindo muitos pelos na face e no corpo e freqüentemente com cabelos de uma cor incomum – negros entre os escandinavos, loiros entre os latinos e avermelhados entre os outros povos. Possui dentes afiados e o contorno do couro capilar baixo, sendo vigoroso, enérgico e apaixonado – o tradicional guerreiro, pequeno, feroz e marcial.

As próximas duas glândulas, como a tireóide e as paratireóides, formam um par que controla qualidades complementares equilibrando-se reciprocamente. Juntas elas formam os dois lóbulos da pituitária, um pequeno órgão do tamanho de um caroço de cereja colocado numa caixa óssea atrás do osso do nariz. O primeiro lóbulo, de nosso ponto de vista, é o da pituitária posterior. Essa glândula, em cuja ação o sódio desempenha um papel chave, controla os músculos involuntários da parte interna e instintiva do organismo, particularmente os intestinos, vesícula e útero. Regula também a produção do leite para a amamentação e em geral é a glândula de qualidades mais maternais. Esse tipo é baixo, arredondado, robusto, de cabeça grande e tendência a engordar e pouco cabelo no corpo. Tende à periodicidade, aparecendo tal inconstância nas crises de temperamento e atividades, além de estar dotado naturalmente de uma inclinação à poesia e à música. Tais pessoas são alegres, animadas e tolerantes – os Falstaffs, clássico tipo jovial.

A pituitária anterior promove traços masculinos tão claramente quanto a posteriorcom os femininos. Essa glândula está intimamente conectada por um lado com o sistema ósseo e por outro com o pensamento abstrato e a razão. Sua secreção exagerada resulta num crescimento anormal dos ossos grandes e particularmente articulações e extremidades tais como mãos, pés e mandíbulas (acromegalia). O tipo pituitário anterior é grande de ossos, com formas bem desenvolvidas, músculos fortes e firmes, cabeça alongada, face austera, nariz proeminente, mandíbula quadrada, maçãs do rosto marcantes e dentes grandes. Com uma mente compreensiva, habilidade para aprender e capacidade de autocontrole e domínio sobre o ambiente. Esse, na antiga nomenclatura é o tipo fleumático ou saturnino.

Portanto, as seis primeiras glândulas dispõem-se em três pares – contendo cada par um elemento masculino e outro feminino, ambos complementares e antagônicos. As supra-renais e o pâncreas ou Marte contra a Lua; a tireóide e as paratireóides ou Mercúrio contra Vênus; e a pituitária anterior e a posterior ou Saturno contra Júpiter, formam entre elas um conjunto hexagonal completo e perfeitamente equilibrado. Assim como no dispositivo que mantém as válvulas de rádio em equilíbrio, a incessante tensão entre cada par mantém o organismo todo em equilíbrio vital.

Quando chegamos às gônadas ou glândulas sexuais que ocupam a mesma posição em nossa espiral que Urano no Sistema Solar, podemos compreender porque seu papel tem dado origem a tanta confusão. Cada uma das outras glândulas afeta o sexo. Emprestam-lhe sua cor e tentam passar elas mesmas por sexo. No sentido de ser compreendido em sua pureza, o sexo deve ser separado da sensualidade venusiana das paratireóides, da paixão marcial das supra-renais, da afeição maternal da pituitária posterior e da maestria saturnina do lóbulo anterior. O sexo deve ser algo diferente de tudo isso e ainda mais fundamental. Deve estar conectado ao princípio essencial dos dois sexos e seu poder conjunto de criação. Isso incluirá todas as emoções mais profundas que surgem dessa interação e à parte gerar filhos do corpo, deve inspirar música, poesia, artes e toda a aspiração do homem para criar em imitação ao seu Criador.

A última glândula sobre nossa espiral, como Netuno que é o último maior planeta no céu, é o misterioso corpo pineal, encerrado no ponto focal do cérebro e conectado ao mais delicado sistema psíquico do homem. Sozinha entre as glândulas, é mais una que dupla em sua forma e disso alguns fisiólogos e estudiosos como Descartes, por exemplo, deduziram que era o lugar em que a unidade ou equilíbrio era alcançado e que esse era o último assento da alma. Numa frase de Leonardo da Vinci, era o órgão do ‘senso comum’, isto é, de um sentido comum a todas as funções e seres, o que lhes revelaria sua unidade.

A glândula pineal é um tecido em forma de cone cujas células nervosas contêm pigmentos similares aos da retina e que usualmente fossiliza-se depois da adolescência através dos depósitos de sais de cálcio. À medida que esse processo avança, os músculos relativos se desgastam e são reabastecidos com gordura. Praticamente nada é conhecido ou suposto sobre as funções da glândula pineal e por enquanto podemos apenas dizer que tudo indica que essas funções são potenciais e até o momento irrealizadas.

Isso completa a série de receptores planetários pelos quais as diferentes funções do corpo são sustentadas e reguladas. E se alegarmos que as descrições de seus tipos relativos aproximam-se da adivinhação então devemos admitir que não são nada mais que tentativas de aproximação da natureza das diferentes energias por um estudo empírico de suas manifestações. Isso em essência é insatisfatório, assim como seria tentar expressar a natureza de um cão detalhando sua forma, cor, a maneira em que cresce seu pelo e assim por diante. Uma verdadeira compreensão das glândulas pode ser desenvolvida apenas no estudo direto da sua ação individual em nós mesmos. Mas num livro, pela sua própria natureza, esse método está excluído.



III A Corrente Sangüínea como Índice do Ser do Homem

O coração é o sol do corpo e a corrente sangüínea, como a radiação do sol no sistema solar, estende-se a cada uma de suas partes. Nenhuma parte do corpo é demasiadamente remota para não ser aquecida e vitalizada por ele. Difunde-se nos órgãos endócrinos assim como a luz e o calor do Sol sobre os planetas, suprindo-os de vida e unindo-os como um todo.

A radiação solar tem dois aspectos. Primeiramente ela leva aos planetas luz, calor, raios ultravioleta e outras radiações provenientes do Sol, centro de seu sistema. Em segundo lugar, refletem-se em cada um deles – de acordo com seu tamanho, atmosfera, superfície, velocidade de rotação e assim por diante – agindo como veículo para suas influências individuais. Quando avistamos Vênus ou Júpiter no céu é a luz refletida do Sol que nos alcança. Não há outra luz no Sistema Solar. Mas essa luz refletida converte-se na portadora de ritmos e vibrações peculiares do refletor. Assim, a luz do Sol não apenas nos alcança diretamente mas também por intermédio de cada planeta em particular e mesmo quando vemos a lua crescente nos braços da lua nova é que há reflexo da Terra para a Lua e novamente desta para a Terra. A radiação solar forma uma espécie de circulação imensa que não somente une cada parte do Sistema Solar com o centro como também cada parte com cada uma das outras partes. É o meio pelo qual o Sol influencia os planetas e estes influenciam-se uns aos outros.

A corrente sangüínea cumpre a mesma função no corpo. Levando vida e calor, hidrogênio, carbono, nitrogênio e oxigênio, ela é bombeada do coração ao couro capilar e às pontas dos dedos. Livre, plena e onipresente, a circulação sinaliza a saúde do organismo. Onde a circulação é diminuída ou eliminada, a doença e a enfermidade inevitavelmente manifestam-se.

A corrente sangüínea é a difusora de energia central para todos os órgãos. Ao mesmo tempo, passando de um órgão para outro, conduz as secreções de cada um deles para o organismo todo. Por ela são conduzidas formas concentradas de energia, desde os centros de produção até os órgãos de armazenamento como o fígado e o baço. Por ela essas mesmas energias também são difundidas quando alguma emergência requer seu uso.

Cada glândula endócrina segrega na corrente sangüínea seu hormônio específico num fluxo rítmico em maior ou menor volume. As proporções desses diferentes hormônios levadas em suspensão pela corrente sangüínea fazem de um homem num dado momento o que ele é – pensativo, simpático, apaixonado, ativo, sensual e assim por diante. De modo mais generalizado, a proporção média de sua corrente sangüínea, durante um longo período determina suas tendências e características mais permanentes, moldando neste sentido os diferentes aspectos de seu físico. Ao mesmo tempo, de momento a momento ele mesmo afeta a composição e mediante a condução de seu interesse e atenção nesta ou naquela manifestação, acentua ou restringe suas tendências naturais.

Posteriormente, a ordem na qual as glândulas difundem sua influência na corrente sangüínea segue uma seqüência definida similar àquela em que como já vimos, os planetas fazem soar suas notas características na corrente do tempo. Assim, os produtos digeridos do pâncreas servem as paratireóides na nutrição dos tecidos; essa nutrição dos tecidos requer a aeração que se faz possível graças à tireóide; a velocidade de respiração por sua vez afeta o vigor do pensamento e determinação gerados na pituitária anterior; o pensamento e a determinação traduzem-se na atividade passional das supra-renais; tal atividade requer um trabalho correspondente dos órgãos internos da pituitária posterior e esse trabalho instintivo por sua vez demanda mais produtos de digestão do pâncreas.

É inútil procurar causa e efeito nessa seqüência. O conjunto segue uma inevitável e contínua cadeia de ação e reação. A alimentação produz movimento, o movimento produz ambição, esta produz a ação passional e a exaustão de tal ação a fome por alimentos novamente. Esta é a vida do homem no nível da corrente sangüínea.

Mas se as artérias unem as glândulas reguladoras das funções humanas de um modo, devemos lembrar também que estão igualmente conectadas e unidas em três outras maneiras pelos três sistemas nervosos. De fato esses três sistemas nervosos provavelmente estão conectados às três diferentes partes ou aspectos de cada glândula a que já nos referimos. Alguns desses aspectos secundários e terciários das glândulas já estão em operação mas geralmente não são reconhecidos, como a atuação da tireóide na armazenagem de memória musical e verbal, por exemplo. Outros aspectos da glândula pineal continuam desconhecidos porque são potenciais, só entrando em atividade nos estados superiores de consciência. Em todo caso, se o rendimento bruto das glândulas é distribuído pela corrente sangüínea, devemos estar certos que conexões muito mais delicadas e inalcançáveis são ou poderiam ser afetadas por esses três sistemas nervosos.

Portanto, o sistema arterial e os três sistemas nervosos parecem ter a mesma relação entre si que na filosofia medieval tinham terra, água, fogo e ar. Água, ar e fogo representavam os veículos das três forças criadoras enquanto que a terra representava o veículo no qual nenhuma delas havia atuado ou ainda o veículo pertencente a uma série inferior.

Mudemos nosso enfoque e consideremos o papel combinado dos três sistemas nervosos como a intervenção de um tríplice poder criador de um nível superior – isto é, acima do nível da corrente sangüínea.

Assim como a corrente sangüínea, os três sistemas nervosos alcançam todas as partes do corpo e conectam todas as glândulas. Mas têm diferentes rotas. O sistema cérebro-espinhal está confinado principalmente ao córtex cerebral e à medula espinhal, de onde se ramifica para todos os membros dentro do campo de sensação e controle do homem. O sistema simpático consiste de um grande número de ramificações separadas e plexos diretamente conectados às vértebras individuais com algum órgão voluntário correspondente. O vago, por outro lado, é um nervo único que origina-se na base do cérebro e depois de passar pelos plexos cardíaco, gástrico e sexual, reúne-se à base da espinha dorsal.

Esses dois últimos sistemas recordam-nos o circuito elétrico de um carro ou aeroplano, onde cada instrumento está individualmente conectado com a fonte positiva de força, embora o pólo negativo de todos os seus circuitos possa ser completado simultaneamente mediante a estrutura de aço. Nessa imagem, o sistema cérebro-espinhal representaria o motorista ou piloto que introduziria ação ao mecanismo, mas só naqueles lugares em que os controles estivessem situados.

Qual a relação real entre esses três sistemas e qual sua relação potencial? Em primeiro lugar devemos supor que trabalhem com três energias diferentes em três velocidades distintas. O mais lento é o sistema cérebro-espinhal que só pode trabalhar tão rapidamente quanto podemos pensar. O que segue em maior velocidade é o sistema simpático que permite aos complicados processos instintivos de digestão, nutrição celular e etc. serem conduzidos muito mais rapidamente do que podemos seguí-los com nossa atenção mental. O mais rápido de todos seria o parassimpático ou sistema vago, que conduz os impulsos incalculavelmente rápidos da intuição, auto-preservação e sexo. Esse último sistema, contudo, trabalha usualmente com apenas uma fração de seu poder e do ponto de vista de suas potencialidades podemos quase considerá-lo como não utilizado.

De acordo com nossa tabela de velocidades de difusão, as três energias em questão pertencem respectivamente à Categoria III (de 1/3 a 30 km por segundo), Categoria II (30 a 3000 km por segundo) e Categoria I (de 3000 a 30.000 km por segundo).

Já vimos que onde quer que essas três forças interajam elas podem se manifestar em seis diferentes combinações ou ordens. Assim, esses três sistemas nervosos, combinando-se de diferentes maneiras, sujeitam o corpo humano aos seis processos cósmicos que já discutimos anteriormente. Alguns desses processos resultantes da dominância do pensamento ou do instinto, ou seja, do sistema cérebro-espinhal ou do simpático, são familiares para nós na vida cotidiana. Outros, produzidos pela dominância do sistema vago, trabalhando com sua própria energia, são desconhecidos para nós ou muito raros. Ocorrem somente quando a classe mais elevada de emoção torna-se a força motivadora de todo o organismo.

Há, contudo, outra possibilidade ainda que nos diz respeito. Há de fato uma sétupla combinação de forças, normalmente incompreensível mas teoricamente possível e que eleva o cosmos no qual ela ocorre em conexão direta ao que está acima. Nessa combinação todas as três forças trabalham simultaneamente em todas as partes.

De modo comum os três sistemas nervosos operam mais ou menos independentemente e em seqüência, por assim dizer, estando suas diferentes energias confinadas às funções para as quais são mais apropriados. E quando pequenas quantidades dessas energias infiltram-se de um sistema para o outro – como quando um homem tenta pensar encontrando-se pleno de excitação instintiva ou por outro lado quando tenta raciocinar acerca de alguma emoção profunda – apenas maus resultados são produzidos.

Ainda assim esses três sistemas estão dispostos de tal modo que em certas circunstâncias e num ponto particular do cérebro uma conexão poderia ser criada entre eles. Nesse caso, todas as três energias correriam livremente através dos três sistemas. Com que resultado? Pela circulação geral da energia intelectual um homem tornar-se-ia consciente em todas as suas funções. Pela circulação geral da energia instintiva, todas as suas funções atuariam para sua melhor vantagem e em harmonia. Pela circulação geral da energia emocional todas as suas funções trabalhariam com a intensidade do medo ou do amor.

Tal condição, na qual os processos instintivos fossem tão conscientes quanto o pensar, na qual o pensar fosse tão rápido quanto a atração e no qual razão, emoção e ação se combinassem tão harmoniosamente quanto respirar e dormir é inimaginável neste momento. Podemos dizer apenas que a máquina humana é de fato projetada para tornar isso possível.

(48) Para maiores detalhes referentes a essas espirais em muitas escalas diferentes, ver de J. Bell Pettigrew, “Design in Nature”, especialmente a página 633 e as seguintes.


(49) Ver Apêndice VI, “Tabela de Funções Humanas”.


(50) Por exemplo, Robert Fludd: “De Naturae Simia”, pág. 627 e seguintes (Livro III, “De Planetorum Dispositionibus et Naturibus”). Frankfurt 1618.


(50a) William Sheldon, “The Varieties of Human Phsyque” e “The Varieties of Temperament”.


(51) A maior parte das descrições de tipos endócrinos baseia-se em Louis Berman, “The Glands of Personality”.