segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Capítulo III - O Sistema Solar

I O Longo Corpo do Sistema Solar






Tal como concebido pelo homem, o Sistema Solar consiste de uma grande esfera radiante ao redor da qual, a intervalos harmonicamente crescentes, tal como as ondas formadas por uma pedra atirada na água, encontram-se as órbitas nas quais giram outras esferas menores e não radiantes. Como a pedra ao chocar-se com a água, essa esfera central radiante, ou sol, parece ser a fonte de energia pela qual o fenômeno todo é criado. Com o diâmetro de talvez um décimo de milésimo de seu sistema inteiro, ele está quase que exatamente na mesma relação com seu vasto campo de influência que o óvulo humano para o corpo que vai crescer a partir dele. Como em ambos os casos o menor dá origem ao maior, a concentração ou intensidade de energia também deve ser de ordem semelhante.

As órbitas concêntricas das esferas dependentes ou planetas estão harmonicamente relacionadas de acordo com uma lei chamada Lei de Bode. Tomando o desenvolvimento geométrico 0,3,6,12, 24,48,96,192 e adicionando 4 a cada valor, alcançaremos uma série que representa aproximadamente as distâncias relativas das órbitas planetárias do Sol.

Os planetas variam de tamanho entre si, crescendo em geral a partir do menor, Mercúrio, mais próximo do centro, até o maior, Júpiter, a meio caminho entre o centro e a circunferência, e diminuindo novamente até o planeta mais exterior conhecido, Plutão, um pouco maior que Mercúrio.



Quanto mais remotos os planetas, mais lentas serão suas velocidades aparentes, que diminuirão dos 50 km por segundo de Mercúrio até os 5 km por segundo de Netuno. Essa é novamente uma característica da redução de impulsos enviados de uma fonte central à medida que nos distanciamos mais. Um modelo muito bom desse processo é oferecido pela roda “catarina” de foguetes, da qual se desprendem luzes que se curvam para trás, distanciando-se da direção do foguete, isto é, as fagulhas perdem velocidade orbital quanto mais distantes são projetadas.



É digno de nota que a velocidade orbital dos planetas está em proporção inversa à raiz quadrada de sua distância do Sol. Já que a intensidade da luz diminui em proporção inversa ao quadrado de sua distância, podemos acrescentar que a velocidade orbital dos planetas é proporcional ao quadrado do quadrado da intensidade de luz solar que chega até eles. Como células, homens e aparentemente qualquer outra criatura viva, sua velocidade depende do estímulo que recebem.



Na roda “catarina”, as luzes são projetadas para fora, originadas do centro. A maioria das teorias concorda que, da mesma forma, os planetas nasceram ou se desprenderam certa vez do próprio corpo do Sol, filhos da tensão criada pela passagem próxima de uma outra estrela, talvez. No flash infinitesimal de tempo solar que abrange todo o período conhecido de estudo dos céus pelo homem, não há traço de que um movimento centrípeto tenha-se manifestado. Mas isso não surpreende. Se a origem dos planetas teve lugar há vários milhares de milhões de anos, um movimento para fora seria apenas de dois ou três quilômetros por século.



Podemos dizer apenas que a estrutura total do Sistema Solar, assim como a das nebulosas espirais, sugere tal expansão a partir do centro. Isso implica não apenas no distanciamento dos planetas, mas também no crescimento e na expansão do próprio Sol. Apenas um sol mais quente e maior, isto é, um sol cuja matéria se elevasse a uma incandescência e rarefação muito maiores que as do nosso, poderia sustentar e vivificar seus satélites a uma distância maior. Num gigante como Antares, um milhão de vezes mais rarefeito que nosso sol, cujo diâmetro radiante abraçaria toda a órbita da Terra, podemos ver o traço de um sistema mais velho e desenvolvido. Lá a vida e o calor central não ocupam mais um ponto astronômico particular, mas já cresceram a ponto de envolver a maior parte de seu domínio. É a diferença entre a consciência humana, confinada por um lado a um simples órgão e por outro abrangendo todo o corpo e funções de um homem. Mais tarde, reconheceremos como mais desenvolvida esta última.





Se o movimento em direção ao exterior do Sistema Solar é imperceptível para o homem em razão de seu padrão de tempo, seu movimento circular é claro e calculável. O eixo do sistema, isto é, o próprio Sol, completa sua rotação em menos de um mês. Quando alcança a órbita de Mercúrio, a velocidade do impulso circular cai para três meses; quando alcança a de Vênus, tal velocidade atinge oito meses; na Terra, doze meses; e assim em proporção decrescente, até que, na órbita de Netuno, levará nada menos que 164 anos para completar uma revolução. A Terceira Lei de Kepler é a expressão formal dessa redução.


O que de fato estamos tentando descrever dessa forma complicada é simplesmente a relação entre espaço e tempo. Estamos tentando descrever as mudanças trazidas sobre uma seção que gradualmente se move através da terceira dimensão ou extensão de um corpo maior, o Sistema Solar. Assim o faria uma célula na corrente sangüínea que, vendo apenas uma seção do corpo humano, tentaria analisar os movimentos aparentes das seções transversais de artérias e nervos cujas diferentes velocidades dependeriam do ângulo pelo qual atravessassem o plano dessa célula.



Como dissemos no início, essas descrições referem-se ao Sistema Solar ‘tal como concebido pelo homem’. Como poderíamos imaginar, então, não apenas sua seção, mas o corpo inteiro do Sistema Solar?


A unidade e o padrão de um corpo humano existem numa dimensão superior àquela do presente da célula,
onde o que é visto como passado e futuro coexiste como um ser humano único. Da mesma forma, a unidade
do Sistema Solar, o plano ou modelo de seu corpo, deve existir na dimensão seguinte, além do universo
presente do homem. Nosso problema então seria tentar visualizar o passado e o futuro do Sistema Solar
como algo coexistente e sólido. Temos de imaginar o Sistema Solar tal como ele veria a si mesmo, assim
como, para compreender a unidade e padrão de um homem, a célula deve tentar imaginar como o homem vê
a si mesmo ou como outros homens o vêem.

Calculamos que o ‘momento de percepção’ do Sol é de 80 anos. Quando consideramos nossa habitual visão seccional dele, pensamos na ondulação formada na superfície de um lago por uma pedra jogada. Agora devemos pensar na pedra afundando nas profundezas do lago e nas ondas correspondentes movendo-se para fora do corpo sólido da água. Melhor ainda, visualizemos nossa roda catarina não apenas desprendendo luzes, mas, ao mesmo tempo, projetando-se para a frente o bastante para que possamos ver a massa incandescente num relance.


Qual seria, antes de mais nada, a proporção desse vórtice de fogo em que nosso modelo se transformou?


Astrônomos, calculando a diferença entre a velocidade média que constelações diretamente acima da eclíptica parecem aproximar-se de nós e a velocidade média que as diretamente abaixo parecem retroceder, estimam que todo o Sistema Solar dirija-se a Vega a aproximadamente 20 km por segundo. O fato é que, em 80 anos, deixando atrás de si toda a radiação de seu sistema, o Sol avança no espaço a cerca de 50 bilhões de km. O diâmetro da órbita de Netuno é de aproximadamente 10 bilhões de km. De modo que a esfera de radiação, a massa incandescente ou o ‘corpo’ do nosso Sistema Solar, em 80 anos, é uma figura cerca de cinco vezes mais alongada do que larga na proporção de uma figura humana em pé. Esta é a silhueta de nosso corpo solar.


Lembremos que o ‘momento de percepção’ de um ser comparável olhando para baixo, por sobre o Sistema Solar, é de 80 anos. Surgirá então para esse ser uma figura extraordinariamente complexa e bela. Os caminhos planetários, convertidos em múltiplas espirais de várias tensões e diâmetros, tornam-se agora uma série de véus iridescentes cobrindo o longo filamento branco e quente do Sol, cada qual cintilando com sua própria cor característica e brilho num conjunto emaranhado em todas as partes por uma fina teia de aranha tecida pelas excêntricas trajetórias de inumeráveis asteróides e cometas, resplandecendo com certo sentido de calor vivo e vibrando com uma música incrivelmente sutil e harmoniosa.


Esta não é uma figura fantástica em qualquer de seus detalhes. A largura da órbita do planeta determinará o tamanho de cada véu envolvente: o diâmetro do planeta, a grossura ou sutileza do filamento do qual está tecido; a curvatura relativa do planeta, seu índice de refração ou cor, o número e distância de suas luas, variadas texturas, tais como a da seda, da lã ou do algodão; a densidade e grau da atmosfera, seu brilho ou luminosidade, enquanto que as velocidades de rotação planetária farão com que a totalidade de véus emita uma emanação viva ou magnética.


Na verdade, nenhum material análogo pode sugerir a multiplicidade de manifestações e impressões que poderíamos muito penosamente imaginar somente uma a uma, mas lá elas seriam simultaneamente aparentes. Sabemos a respeito de nosso próprio nível que, quando tal multiplicidade de impressões é gerada simultaneamente, deparamo-nos com um fenômeno que desafia todos os nossos esforços para uma análise exata, ou seja, o fenômeno da vida. Quem prossegue o bastante para desenvolver esse exercício em exata analogia, não pode escapar à conclusão de que ali, num mundo onde o momento de percepção é de 80 anos, o Sistema Solar é, de uma forma incompreensível para nós, um corpo vivo.


Vendo a incrível magnitude e significado que se agrega mesmo ao mais simples e elementar fenômeno de tamanho e curvatura quando traduzido a essa escala de tempo, vemo-nos totalmente incapacitados para sequer imaginar uma possível aparência desse Sol tetradimensional, já que mesmo o nosso tridimensional cega-nos com seu brilho. E podemos apenas supor que, de alguma forma, ele represente a força vital mais íntima de tal Ser Solar, incompreensível mesmo para um observador colocado na mesma escala, tal como a consciência de um homem é para outro.


Já falamos de outros sistemas, como o de Antares, no qual o brilho solar central já envolveu um volume maior que aquele ocupado pelo nosso Sol. E falamos também da inevitável conclusão, a partir da idéia de um Sistema Solar em expansão, de que nosso Sol deve estar-se tornando mais quente, mais brilhante e mais radiante.


De fato, essa diferença no grau de radiação de um sol central pode ser a principal distinção entre os milhares de sistemas solares que compõem a Via Láctea. Todos esses sistemas, para serem capazes de desenvolvimento, devem possuir um complexo de elementos e planetas, assim como os homens, que, para serem capazes de evoluir, devem possuir uma totalidade de elementos, órgãos e funções. O único fator que permanece variável e improvável é, por um lado, a intensidade e penetração de sua luz central e, por outro, a intensidade e penetração da consciência central.


Todos os homens são semelhantes em seu padrão e constituição, assim como muito provavelmente o são todos os sóis. O que distingue os homens é seu nível de consciência. O que distingue os sóis é seu grau de radiação.


Na verdade, quanto mais estudarmos a questão, mais tornar-se-á claro o fato de que luz e consciência obedecem exatamente às mesmas leis, crescendo ou diminuindo exatamente da mesma forma. Podemos até dizer que são o mesmo fenômeno visto em escalas diferentes.


Este é certamente o único fator variável no universo, o único fator que pode mudar em resposta ao trabalho individual, esforço e compreensão do cosmos individual. No que diz respeito à sua constituição, nem o homem nem o Sol podem fazer nada, porque cada ser está configurado como é pelo modelo do universo, o qual assegura que cada um receberá no início o necessário para o autodesenvolvimento, ou seja, a iluminação e a radiação graduais do cosmos individual pela luz ou a consciência auto-gerada dependem totalmente do próprio ser individual. Nisso ele deverá fazer tudo.


Além do mais, o todo pode tornar-se consciente somente se uma de suas partes tornar-se mais consciente. Se repentinamente sou mais consciente do meu pé, também ele tornar-se-á mais consciente dele mesmo, começando por registrar todos os tipos de sensações novas e movimentos dos quais nem ele nem eu havíamos nos dado conta. Se uma simples célula do meu corpo é galvanizada a um estado de alerta por alguma ameaça terrível em sua própria escala, também eu me torno consciente da dor. Da mesma forma, o aumento de brilho do sol deve estar conectado a uma crescente absorção e transformação de luz pelos planetas, isto é, à sua aquisição gradual de brilho. Para que um homem seja plenamente consciente, todas as suas partes devem tornar-se plenamente conscientes. Para que um sol torne-se plenamente radiante, todas as suas partes devem tornar-se radiantes. Para que o Absoluto lembre-se de si, todos os seres devem lembrar-se de si.


Àqueles que perguntam qual é o propósito do universo, podemos responder: - A tarefa do universo e de cada ser dentro dele, do sol à célula, é tornar-se mais consciente.


II O Sistema Solar como Transformador


A figura que descrevemos como uma rede de véus entrelaçados certamente sugerirá a diferentes profissionais diferentes analogias de acordo com suas áreas de conhecimento. Para o fisiologista, por exemplo, recairia a interpenetração dos vários sistemas do corpo humano: muscular, arterial, linfático, nervoso e assim por diante, cada qual constituído por fibras ou canais de diferentes tamanhos e portador de um tipo diferente de energia.


Uma das analogias mais proveitosas ao presente propósito de nosso estudo é aquela que ocorreria talvez ao técnico eletricista. Despojando-se nossa figura de suas manifestações sensíveis e reduzindo-a simplesmente a uma projeção geométrica de espirais sobre papel, ele a reconheceria como o diagrama de um transformador polifásico. O universo de esferas voadoras do mecânico deixou como traço no tempo um universo de bobinas para o eletricista, criadas, pensaria ele, para nenhum outro propósito senão a transmissão e transformação de energia solar.


Para benefício dos leigos, lembremos que a eletricidade tem duas medidas, corrente (ampère) e pressão (voltagem), sendo que o transformador é um aparelho que muda a relação entre esses dois fatores. De uma forma muito geral, quanto mais pesada for a máquina a ser operada, maior amperagem será necessária. Para suprir demandas tão variadas de uma só fonte de força, o transformador aumenta às custas da pressão ou vice-versa. Isso é feito ao passar-se a corrente por um condutor que tenha certo número de voltas, o que permitirá que uma corrente de acordo seja induzida por um carretel vizinho com maior ou menor número de voltas. Se o número de voltas do carretel secundário for maior do que o primeiro, a amperagem ou corrente se reduzirá e a voltagem ou pressão será aumentada; quando menor, produzir-se-á o efeito oposto.


De modo prático, a corrente ou amperagem está limitada pela composição e espessura do fio condutor. Assim, se desejarmos levar certa energia disponível a fios mais delicados, deveremos transformá-la a uma voltagem maior e a uma amperagem menor.


Observando nosso diagrama de rotas dos corpos maiores do Sistema Solar à luz dessas idéias, reconhecemos claramente o arame grosso e primário do Sol como que cercado por oito carretéis secundários formados pelos planetas. Observamos também que a grossura desses ‘fios’ planetários varia de um décimo (Júpiter) a um tricentésimo (Mercúrio) da grossura do principal, o solar. Num esquema ou diagrama que abranja 80 anos, contaremos com toda classe de voltas, desde meia a nada menos que trezentas. Temos aqui, na verdade, todos os fatores e componentes de um enorme transformador para receber a corrente numa dada tensão e elevá-la distribuindo-a em oito diferentes voltagens. O modelo é completo se considerarmos o isolamento dos fios por uma fina película não condutora de atmosfera planetária.


Um transformador construído no mundo humano segundo as especificações desse diagrama cósmico distribuiria correntes em oito tensões diferentes e oito diferentes classes de fluxo. Baseado no número de voltas dado pelos carretéis de condução planetária, no espaço de oitenta anos, seríamos capazes de calcular seu rendimento relativo. Suponhamos que a corrente produzida pelo carretel de Netuno a partir da força originária do Sol fosse de 1 volt de pressão e 10.000 ampères de corrente. Então o rendimento de Júpiter seria de 14 volts e 770 ampères, da Terra seria de aproximadamente 170 volts e 60 ampères, de Mercúrio 700 volts e 15 ampères, e assim por diante.17 Um dos efeitos do aumento de amperagem no mundo planetário, visto por nossa percepção, seria o crescimento da vibração, isto é, a rotação mais rápida do planeta sobre seu próprio eixo.



Se um transformador semelhante estivesse corretamente ligado com material da mesma condutividade, a seção transversal de arame adequado para cada bobina seria proporcional à amperagem que ele conduziria. De fato, as seções transversais dos planetas aproximam-se desse requisito a uma margem de apenas dez vezes. Mas suponhamos que seus núcleos internos, como muito provavelmente seja o caso, sejam de diferentes metais, cada qual com sua própria condutividade. Suponhamos ainda que aqueles cuja seção fosse menor do que esperávamos, tal como Netuno, fossem de metais de alta condutividade e aqueles cuja seção fosse maior, tal como Júpiter, de metais de baixa condutividade. Com uma atribuição judiciosa desses metais - prata para Netuno, ouro para Urano, antimônio para Saturno, bismuto para Júpiter, cobre para Marte, ferro para a Terra, estrôncio para Vênus e bronze para Mercúrio -, nosso aparente erro seria compensado e essa grande máquina certamente seria avaliada em todas as suas dimensões. Os carretéis planetários, ao que parece, estão especialmente elaborados para atuarem como transformadores de energia solar da forma descrita apenas se considerarmos que variam em sua condutividade da mesma maneira que ocorre com os metais.17


Pode ser objetado e admitido que os metais foram escolhidos arbitrariamente para produzir tal resultado. Infelizmente, como os planetas não são radiantes, a ciência moderna não tem meios de verificar sua composição. Notifiquemos de passagem que recentes teorias supõem que a maior parte da Terra ou barisfera seja, de fato, formada de ferro comprimido. Temos ainda a atribuição tradicional dos planetas fornecida pela astrologia, mas ela tem variado em diferentes períodos e está construída a partir do conhecimento de poucos metais, não sendo, portanto, de muita utilidade para nós neste estudo. Assim, no presente, devemos reportar esses cálculos ao campo da especulação sugestiva.


Mais importante, de nosso ponto de vista, é o princípio de que uma corrente elétrica passa ao longo de um fio, produzindo um campo magnético de força movendo-se em sentido horário ao redor do fio quando visto da direção através da qual a corrente se move. Em outras palavras, o campo magnético gira quando a corrente é movida para frente, assim como um saca-rolha gira quando perfura uma rolha.


Se tentarmos traduzir essa concepção do mundo de espirais vista no tempo do Sol para o mundo de esferas giratórias vistas no tempo do homem, compreenderemos como é que todos os corpos em rotação no universo criam e estão rodeados por um campo magnético. Sua própria rotação, como acabamos de ver, é uma indicação de que eles são seções de uma linha através da qual uma tremenda corrente está passando noutra dimensão. Compreenderemos também que a velocidade de movimento de um planeta ao longo de sua órbita representa de forma reconhecível a velocidade de fluxo dessa grande corrente. Como já vimos, essa velocidade de órbita é um efeito direto da intensidade de luz solar disponível, isto é, ela é induzida pela energia central do Sol.







Assim, todos os planetas estão cercados por campos magnéticos. A seção do fio ao redor do qual o campo magnético gira será representada pelo equador do planeta, ao passo que o pólo norte do planeta representará a direção de movimento do planeta no tempo, isto é, a direção da grande corrente que o conduz. Desse modo, a atração do pólo norte de um planeta pode ser vista como a atração do futuro, a atração da direção para a qual o planeta está indo com todos os seus habitantes, enquanto que o efeito repelente do pólo sul representa a repulsão do passado, a repulsão da direção da qual o planeta com todos os seus habitantes veio. Para todos os seres, o futuro é o pólo positivo do tempo e o passado o negativo. Nada podem fazer a não ser serem atraídos por um e repelidos por outro.


Esses campos magnéticos planetários sobrepõem-se e interagem com o efeito combinado de todos, produzindo constantes mudanças menores no campo individual de cada um. Na prática, somente o campo magnético da Terra tem sido estudado em detalhes, juntamente como os efeitos dos campos magnéticos do Sol e da Lua sobre ele. É sabido, por exemplo, que a influência magnética do Sol sobre a Terra é aproximadamente doze vezes mais forte que a da Lua, um campo de 60.000 ampères contra outro de 5.000.18 As influências magnéticas dos planetas ainda não foram medidas individualmente ou distinguidas, ainda que a existência de tal influência tenha sido reconhecida cientificamente em conexão com o efeito de diferentes configurações planetárias na receptividade de transmissões radiofônicas em ondas curtas.


No caso do Sol, sua influência magnética é menos perceptível à nossa percepção pela influência mais forte das vibrações que sentimos como luz e calor e que são muito mais características dele. No entanto, essa influência magnética é bastante distinta da luz. Medições do retardamento entre distúrbios magnéticos observados na superfície do Sol e tempestades magnéticas sentidas como efeito na atmosfera da Terra demonstram que essa influência viaja a uma velocidade muito diferente. Enquanto a luz do Sol nos alcança em sete minutos, influências magnéticas dessa mesma fonte levam de um a dois dias para serem sentidas aqui. Enquanto a luz viaja a 300.000 km por segundo, as ondas magnéticas viajam a apenas 600 km por segundo, ou seja, são 500 vezes mais lentas.


Qual é o efeito dessa influência magnética? Talvez o fenômeno mais óbvio e belo que resulta dela é o da aurora boreal ou Luzes Setentrionais. Isso é interessante, porque, na aurora boreal, vemos a luz pura - que em si mesma é invisível - pela primeira vez dotada de forma. Essa forma muda constantemente, substituindo e transformando a si mesma, criando cortinas ou esferas reverberantes ou campos de pulsação de brilho no céu nórdico. A aurora boreal é quase que completamente insubstancial e é resultado do magnetismo atuando diretamente nos céus livres de hidrogênio. Nela vemos claramente o efeito de um campo magnético como forma e mudanças nesse campo como mudanças na forma. O mesmo fenômeno ocorre quando colocamos um ímã sob uma folha de papel coberta com limalhas de ferro e ele dá a essa massa até então disforme a forma visível de seu próprio campo. De fato, é um princípio geral que influência magnética atuando sobre matéria dá origem à forma visível.


Dissemos que, no caso do Sol, ainda que sua influência magnética seja enorme, ela é reduzida pela influência muito mais rápida da luz, que, de nosso ponto de vista, é mais característica dele. Mas a lua e os planetas não emitem luz própria. Assim, no caso deles, a influência magnética é sua emanação característica. A influência magnética da lua e a dos planetas, quando combinadas, devem criar forma sobre a Terra, assim como a influência magnética da Terra deve, por sua vez, criar forma em todos os outros planetas.


De tudo isso, muitas idéias interessantes sobre o papel do magnetismo surgem. Se estudarmos as formas diferentes de energia que conhecemos, veremos que cada uma tem um campo de ação definido que depende de sua origem e velocidade. A luz, que viaja a 300.000 km por segundo, é limitada pelo campo da Galáxia. O som, que viaja a um terço de km por segundo, é produzido pelo fenômeno da Natureza e é limitado pelo campo da Terra. Entre luz e som, encontra-se essa terceira forma de energia, a magnética, que, viajando a 600 km por segundo, pode ser considerada como emergente dos planetas e limitada pelo campo do Sistema Solar.


Luz, magnetismo e som constituem uma clara hierarquia de energias, características do sol, dos planetas e da natureza, respectivamente. Eles representam os meios pelos quais esses cosmos atuam sobre nós, sendo que o primeiro dota-nos de vida, o segundo de forma e o terceiro de sensação.




A imagem do universo que se forma gradualmente perante o eletricista é a de bobinas dentro de bobinas, transformando energia de uma fonte superior para suas próprias necessidades e capacidades. A vasta bobina do Sol deve transformar sua energia incandescente da fonte ainda mais superior da Via Láctea. Por indução, a Via Láctea deve produzir corrente no Sol, este nos planetas, a Terra na lua que a circunda, e o sábio sabedoria no discípulo que fielmente gira ao redor dele.


Aquele ao redor do qual outras criaturas giram concede-lhes luz e vida. Aquele que gira é, por sua vez, agraciado por magnetismo e forma. Por esse magnetismo, ambos participam em dar forma a outros e em serem dotados de forma por outros. Todo magnetismo afeta os demais magnetismos. Todas as formas criam outras formas. Do primeiro cosmos ao último elétron, o universo inteiro é um complexo de bobinas dentro de outras bobinas, espirais dentro de espirais e campos magnéticos dentro de campos magnéticos. Nesse aspecto, cada criatura transforma uma simples força à tensão exata requerida para guiar uma galáxia, homem ou átomo. Quando sua resistência diminui com o aumento da idade, por essa mesma tensão, ela é fundida, a forma de seu campo magnético é dissipada e ela morre.



III A Interação do Sol e dos Planetas


Certas observações talvez devessem ser feitas aqui. Referem-se ao princípio geral da analogia que temos usado tão livremente. Não devemos deduzir das evidencias acima que o Sistema Solar é um transformador de corrente elétrica nem que os planetas realmente são feitos de antimônio, bismuto, ferro e assim por diante, embora esses elementos possam de fato fazer parte de suas composições. O que é proposto é que as leis que numa escala permitem a construção de um transformador são as mesmas que em outra escala produzem o Sistema Solar. Os planetas podem não estar transformando energia elétrica tal como conhecemos de altas voltagens e baixas amperagens, mas eles estão transformando alguma energia desconhecida de modo comparável.


Similarmente, ainda que os planetas não sejam necessariamente compostos pelos mencionados metais, muito provavelmente são feitos de substâncias que, de alguma forma, mantêm entre si a mesma relação que esses metais, assim como as notas dó, ré, mi, fá, sol, lá, si mantêm-se na mesma relação, quer estejam uma oitava acima ou abaixo. As leis são universais, os mecanismos com os quais trabalham são similares em muitas escalas, mas a materialização das leis, os constituintes e os produtos dos mecanismos irão variar de acordo com os elementos disponíveis no nível que considerarmos. Assim, uma mola é o mesmo mecanismo obedecendo à mesma lei, quer seja aplicado para movimentar os ponteiros de um relógio de pulso ou para propelir a flecha de um arco. Mas ela é feita de material diferente e usada para um propósito diferente.


Deve-se também compreender que toda analogia, mesmo a mais exata e esclarecedora, é incompleta. Explica apenas um aspecto do fenômeno e pode deixar de fora outro ângulo tão ou mais importante. Em particular, a aptidão da analogia, extraída da operação mecânica das leis em magnetismo ou em Física, não deve deixar-nos esquecer que o Sistema Solar fornece em todas as suas partes indícios de vida e inteligência. Estamos lidando não com bobinas ou ondas, mas com seres vivos de poder e natureza incompreensíveis para nós, ainda que possamos conceber sua existência e seu possível aspecto.


Mantendo isso em mente, devemos tentar chegar a uma concepção clara desses seres superiores ao propor várias analogias diferentes, cada qual devendo acrescentar algo à nossa compreensão. Assim, ao relembrarmos nossa imagem do transformador e tudo o que nos foi mostrado sobre a natureza e função dos planetas em relação ao Sol, não podemos ainda nos dar por satisfeitos.


Podemos também, por exemplo, ver os véus planetários ao redor do longo corpo do Sistema Solar como várias lentes prismáticas, cada qual com um índice de refração diferente, o que os capacitaria a refletir cores individuais da luz branca do Sol. Tais índices de refração dependeriam da velocidade de rotação do planeta particular em seu eixo, exatamente da mesma forma que a velocidade de vibração dos elétrons determina cores perceptíveis pelo homem. Entre a velocidade de rotação dos planetas - uma ou duas vezes por dia - e a freqüência eletrônica que produz cor (1015 vibrações por segundo), encontram-se sessenta e três oitavas. Se voltarmos à nossa tabela de tempos cósmicos, notaremos que o mesmo número de oitavas encontra-se entre o tempo do elétron e o tempo de um planeta típico, a Terra. Isso quer dizer que a vibração de elétrons que dá origem à cor tem seu exato paralelo na escala planetária pelo movimento que medimos como rotação.


Se considerarmos cada planeta como um refletor colorido no céu, tingindo a cena com esta ou aquela cor especificamente, estaremos de fato apenas imaginando como para um cosmos o Sistema Solar deve parecer bem maior que os planetas, assim como um homem é bem maior que os elétrons. Podemos compreender muito bem o efeito disso observando um palco de teatro onde as luzes da ribalta projetam uma luz branca sobre os atores enquanto os projetores coloridos das coxias tingem as sombras com vermelho de um lado e com verde ou púrpura do outro. Tal é o efeito relativo do Sol e dos planetas.


Supondo que os atores estejam sobre a Terra ou em qualquer outra parte do Sistema Solar, então as luzes brancas e as coloridas estarão mudando constantemente sua posição relativa e produzindo novos efeitos a cada momento. A luz branca do Sol brilhará da coxia esquerda, enquanto que as da ribalta alternarão vermelho e verde, combinando-se para preencher o palco com um leve matiz amarelado. As permutações serão intermináveis e seus efeitos passarão de um a outro à medida que as próprias luzes evoluírem sobre o palco. Lembrando-nos das visitas ao teatro na nossa infância, cada mudança sugerirá seu próprio estado emocional, a mesma cena e caracteres que sob uma luz vermelha nos parecerão terríveis e sangrentos, sob uma luz verde parecerão estranhos e misteriosos, sob uma azul espirituais e sublimes e sob uma amarela reais e cordialmente bondosos. É evidente que, por si mesmas, as luzes não têm emoções, na verdade fazem efeito em função de outras leis. Ainda assim, o efeito que elas criam nos seres humanos é emocional e parece-nos que sua influência seja dessa ordem. Assim, dá-se com os planetas.


Deve ser enfatizado, contudo, que os planetas são apenas refletores, apenas transformadores. Não produzem luz própria, meramente emprestam à luz do Sol um certo ‘humor’ ou cor. Não produzem corrente própria, somente adaptam a corrente que o Sol lhes provê para este ou aquele uso particular.


Uma compreensão melhor do papel dos planetas pode ser alcançada ao olhá-los como funções do Sistema Solar. Assim como a digestão, a respiração, o movimento voluntário, a razão e outras são funções do cosmos do homem, também Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e os demais planetas podem ser funções do cosmos do Sistema Solar. Entre si, dotam o Sol com todas as funções, fazendo dele um ser cósmico completo que possui todas as possibilidades.


As implicações disso se tornam mais claras à luz de um princípio muito importante que rege as relações entre os cosmos. Cada cosmos contém seis pares de órgãos-chave, como que baterias pelas quais recebe influências e energia de cosmos superiores. O princípio em questão diz que as funções de um cosmos inferior derivam-se dos órgãos de um cosmos superior.


No homem, por exemplo, esses órgãos ou baterias estão representados pelas glândulas endócrinas e as secreções dessas glândulas, ao penetrarem as células, criam as funções destas últimas. Avançando para cosmos superiores, por outro lado, vemos que todas as funções respiratórias de todos os homens, animais, pássaros, peixes e plantas constituem juntas um simples órgão para a Natureza. Todas as funções motoras de todas as criaturas móveis constituem juntas outro órgão para a Natureza e assim por diante.


Finalmente, tomando Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno como funções do Sistema Solar e lembrando os milhões de sóis e sistemas que compõem a Via Láctea, temos de pensar que todos os possíveis Mercúrios juntos constituam um órgão de nossa galáxia, todas as possíveis Terras juntas, um segundo órgão galáctico e assim com os demais planetas.



Nesse sentido, a anatomia e a fisiologia de cada cosmos estão tecidas na anatomia e fisiologia de cada um dos outros cosmos. Os órgãos físicos de um cosmos maior determinam a própria natureza das funções que os menores desfrutam.


Desse modo, enquanto que para o Sistema Solar e tudo que há nele o Sol é a única fonte de toda energia e vida, os planetas o agraciam com forma, cor, expressão e função. Essas forças interagem, fundem-se e separam-se em combinações variáveis através de todo o campo de influência solar. Todavia, falta um fator para a criação de todo o variado e intrincado fenômeno da natureza com o qual nos familiarizamos, isto é, matéria ou Terra.

(17) Ver Tabelas Planetárias - Apêndice IV (a) e (b).

(18) Sydney Chapman, “The Earth Magnetism” pg. 76.




Figura 2 : O Sistema Solar

(a) Bobinas primária e secundária

(b) Parte do Sistema Solar no Tempo


Figura 3