segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Capítulo XII - Os Seis Processos no Homem I

I Crescimento

Temos agora material suficiente para tentar descobrir como os seis processos fundamentais, que vimos em ação no Sistema Solar, têm expressão no microcosmo do homem. Serão considerados aqui na mesma ordem que o fizemos então, começando pelo processo de crescimento original.

O processo de crescimento é aquele que, numa escala universal, cria toda a seqüência dos mundos, produzindo da unidade e potencialidade, diversificação, forma e expressão. Os agentes criadores atuam aqui na seguinte ordem: vida, matéria, forma. Um impulso ativo precipita-se dentro de um material passivo para criar algo vivo situado a meio caminho dos dois.

Como em todos os seres criados, esse processo começa no homem imediatamente após a concepção. Ele não se refere ao próprio ato da concepção, que pertence a um processo diferente, o de regeneração, e que estudaremos por último. Naquele ato misterioso, a massa intangível e invisível de um ser individual, atuando de uma dimensão de tempo desconhecida, faz com que o óvulo atraia irresistivelmente para si o esperma ativo que o fertilizará, dando-lhe vida. De onde essa marca procede e por quais meios materiais são questões que estão entre os maiores mistérios da existência. Somente mais adiante veremos que ela chega através do tempo, justamente da agonia mortal de quem está para ser concebido.

Mas, cumprido o instante da concepção, o crescimento começa. Onde previamente haviam dois elementos, macho e fêmea, não há agora mais que um: o óvulo fertilizado ou fecundado. Nessa célula única, formam-se dois pólos, um ativo e outro passivo. Uma vez que os genes polarizam-se entre si, a célula divide-se em duas, quatro, oito, dezesseis, trinta e dois e assim por diante. É um exato modelo vivo da esfera do Absoluto propagando galáxias infinitamente e que imaginamos no começo deste livro. A radiação de vida atuando sobre matéria produz a multiplicidade infinita da forma.

Por volta do oitavo dia, o óvulo agora fertilizado (vida), tendo multiplicado seu volume algumas centenas de vezes, emerge da trompa de falópio e encontra como lugar de descanso e nutrição a parede do útero (matéria), de onde extrai sustento do organismo da mãe começando a desenvolver a complexa estrutura embrionária (forma). Essa etapa dá origem à diferenciação; a massa celular quase imperceptível do óvulo divide-se nas envolturas do âmnio e do alantóide, os fluídos que estes contêm e o próprio embrião situado em seu interior. Esse processo já está bem adiantado no vigésimo oitavo dia. Análoga numa escala cósmica é a diferenciação das partes do Sistema Solar com seu Sol central e as esferas planetárias que o envolvem.

Pode ser dito do próximo estágio de crescimento que ele parece estar conectado à separação dentro do próprio embrião de aspectos vegetais, invertebrados e vertebrados que agora se estabelecem nos intestinos, tórax e cabeça respectivamente. Ao mesmo tempo, em seu reflexo transitório de planta, peixe e mamífero, esse estágio proporciona uma analogia com a criação do Mundo da Natureza. Na verdade, externamente não há nada que diferencie o embrião humano de um mês do embrião de uma rã, uma galinha ou um cavalo.

Ao final do segundo mês, o embrião, que passou pelas etapas galáctica, solar e por várias orgânicas, está no limiar da humanidade. Este é seu primeiro marco na escala da vida. O embrião é passivo e espera. E agora uma força ativa – que, para um melhor entendimento, chamaremos de hereditariedade – surge subitamente do tempo para criar a forma humana. Ainda não há nada de um homem individual nisso, como nada de individual há na urgência sexual da puberdade. Este é o nível da humanidade ou talvez da raça – a próxima etapa de diferenciação dentro da grande categoria da vida orgânica. A herança humana (vida) entrando no embrião que espera (matéria) cria o verdadeiro feto de um homem (forma).

Não é possível para nós distinguir as muitas tríades sucessivas de crescimento que gradualmente completam a criação do bebê até que ele esteja pronto para nascer. Sem dúvida, cada período entre os principais marcos da vida pode ser considerado como uma oitava de sete estágios, tal como aqueles que descrevemos individualmente. Cada uma dessas etapas envolverá a precipitação cada vez mais profunda de um princípio ativo na matéria e na forma, o próprio organismo resultante iniciando o próximo passo decrescente rumo a uma limitação organizada. Quando esse processo, seguindo o curso natural de uma oitava descendente, alcança um intervalo ou pausa, uma força ativa parece entrar vinda do exterior, dando ao feto o impulso necessário em direção à etapa seguinte de seu desenvolvimento.

Vimos como isso acontecia no primeiro marco. No segundo (130 dias), ocorre outro choque. Como se por alguma antecipação do que ele será na maturidade, quando, já como adulto, terá alcançado o máximo de poder pessoal e experiência, o feto, em seu quinto mês de gestação, adquire subitamente a marca de um ser humano individual em relação ao padrão geral da humanidade. No primeiro marco, por alguma afinidade com a puberdade, o feto tornou-se humano; no segundo, por alguma afinidade semelhante com a maturidade, torna-se individual. Veremos mais tarde como tais prefigurações podem conectar uma parte da vida com outra através do tempo.

Cada um dos processos fundamentais dá lugar a certas substâncias que lhe são características, como as matérias eliminadas ou inertes são características do processo de destruição e os venenos são característicos do processo de enfermidade. Sem ainda tentar isolá-las química ou fisicamente, podemos dizer que aquelas características do processo que agora estamos estudando são matérias finas que têm a propriedade de produzir:



multiplicação



diferenciação



organização



função e forma.



Todas essas funções reunidas e vistas no tempo parecem-nos o fenômeno geral do crescimento.

Não sabemos muito sobre a origem dessas matérias no organismo humano. Sabemos, contudo, que a glândula do timo está intimamente conectada à multiplicação celular a que nos referimos, pois, quando um girino é alimentado com seu extrato, seu tecido multiplica-se sem nova diferenciação, produzindo girinos gigantes. Sabemos que a diferenciação de funções e a percepção da forma são de algum modo estimuladas pela tireóide. Os girinos alimentados com extrato tireóideo sofrem uma metamorfose, convertendo-se em rãs tão pequenas quanto moscas. Pode ser que todas as glândulas de secreção interna, como uma de suas funções, secretem as substâncias delicadas do crescimento que atuam em seqüência para produzir o ciclo completo do desenvolvimento corporal.

Em todo caso, podemos dizer que a atividade do crescimento, lançada com todo o enorme ímpeto da natureza no início do círculo da vida, decresce gradualmente à medida que a vida prossegue. Aos dez anos, o cérebro praticamente deixa de crescer; aos doze, as proporções finais da forma são alcançadas; aos dezessete, a altura torna-se quase estacionária; e, aos vinte e dois, o peso se define. Qualquer aumento posterior é resultado da dilatação ou estiramento das células existentes e do aumento de gordura, um processo que não tem nada em comum com a multiplicação e diferenciação do crescimento.

Tomando a vida do homem como um todo, podemos dizer que a redução do crescimento está equiparada, à medida que a idade avança, ao constante aumento do declínio. A doença e a morte são as inevitáveis contrapartidas e limites do crescimento. A desintegração derrota a organização.

Mas, antes que passemos ao processo seguinte, podemos abordar o processo de crescimento de um ponto de vista mais generalizado. Como esse processo expressa-se psicológica e emocionalmente no que diz respeito à conduta e ao hábito?

Vimos que ele representa o impacto do espírito sobre a matéria, produzindo como resultado algo situado entre os dois. Assim, na vida psíquica do homem, indica o eterno compromisso, o impulso face à resistência, a necessidade encontrando o obstáculo para chegar à solução intermediária: o ponto de equilíbrio. É o modo como tudo acontece na vida da humanidade – as condutas, os costumes, os hábitos, a interminável complicação e a diversidade que parte da adaptação da ambição à circunstância, de um desejo a outros desejos. É a resultante de forças.

Tomemos um exemplo trivial. Em sua juventude, um homem aspira tornar-se um grande pintor. Seu desejo ativo encontra-se em conflito com a matéria geral ou resistência da vida: pobreza, falta de oportunidades, responsabilidades para com a família e assim por diante. Aos 40 anos, ele vê, como resultado dessas forças passivas e ativas, que se tornou um artista comercial desenhando lay-outs de propaganda. Tal é a ‘forma’ final de sua ambição. Esse processo acontece por si mesmo, assim como o crescimento ocorre, multiplicando causas e karma através da vida do homem, cada resultado sendo o início de uma nova implicação.

Assim, o processo de crescimento prossegue contínua e inevitavelmente, ainda que aos surtos revele e enfatize por sua vez cada faceta do organismo. E o homem assiste, meio fascinado e meio assustado, a mudança que ele não pode prever ou manter. Decide o bebê tornar-se criança ou a muda tornar-se uma árvore? Tudo acontece, alguma grande mola do relógio do universo é impulsionada e, com ela, quer queira quer não, ele e todas as criaturas.

É precisamente quando o homem começa a constatar essa fatalidade do crescimento que, sendo frágil, começa a enganar a si mesmo. Se o crescimento torna o corpo de um garoto o corpo de um homem e o corpo de uma garota o de uma mulher, não colocará também sabedoria nesses corpos maduros ensinando-os a guardar as coisas infantis? Parece que não é o caso. Ele trará acúmulo de experiências, mas não a digestão delas. Trará acúmulo de conhecimento, mas não desenvolvimento do ser.

Do ponto de vista do homem, a essência desse processo é que ele acontece inconsciente e involuntariamente. Um processo inconsciente e involuntário não pode possibilitar consciência e vontade. A consciência não pode ser desenvolvida inconscientemente, nem a vontade involuntariamente. Essas qualidades, incomparáveis com o crescimento de músculos e órgãos, podem ser adquiridas somente por algum outro processo muito diferente, consciente e intencional em sua origem.

É precisamente nesse ponto que a idéia de evolução – uma idéia de gênio na mente de Darwin – tornou-se enervante e enganosa em sua distorção popular. Darwin, ao descrever o surgimento de novas espécies e formas ainda mais elaboradas ao longo das eras geológicas, predominância em cada época de um reino da natureza novo e superior, sentiu e revelou o crescimento da Terra. Ele mostrou como a Terra física amadureceu, assim como o homem físico amadurece e como novas espécies foram agregadas à Terra à medida em que ela crescia, assim como novas funções são agregadas ao homem à medida em que ele cresce. Isso não tem nada que ver com a possibilidade de uma dada espécie transcender-se a si mesma e muito menos com uma dada função tornar-se consciente. Aqui, como Ouspensky coloca, uma ficha diferente foi substituída.

Aplicada ao desenvolvimento moral da humanidade, a idéia da evolução geral pode apenas ser sustentada por uma escolha bastante arbitrária de exemplos – ao comparar os métodos da Inquisição com a liberdade de imprensa nos EUA, por exemplo, e esquecendo-nos de comparar o hábito medieval dos santuários com a moderna instituição dos campos de concentração.

Hoje, a palavra evolução é usada indiscriminadamente para o processo de crescimento, para o processo de refinamento que consideraremos a seguir e para o processo de regeneração, do qual sabemos menos ainda. Está mesmo corrompida numa espécie de certificado de garantia de que todo molusco se desenvolverá até chegar a ser um Buda e que, sem qualquer esforço ou intenção, todos os homens se tornarão inevitavelmente sábios.

Isso é tão fantástico quanto acreditar que, deixando sua canoa à deriva num rio, um tripulante será inevitavelmente carregado até o cume da mais alta montanha. O processo de crescimento é na verdade um vasto rio cósmico, fluindo eternamente do Criador. Fiando-se apenas em sua corrente, há somente uma direção para a qual o homem pode ir, isto é, para baixo, pois, para inverter a correnteza, é necessário uma compreensão diferente, uma energia diferente e um esforço diferente.

II Digestão

Nesse segundo processo, a matéria passiva é posta em ação por uma força vital e por esta é elevada ou transformada num nível mais alto. Todos os processos de purificação, refinamento, cocção e destilação são dessa natureza. Nela os agentes criativos atuam na ordem: matéria, vida, forma.

Em muitos pontos, consideramos como diferentes funções da máquina humana trabalham com energia em diferentes tensões, com diferentes combustíveis, por assim dizer. É possível imaginar os sistemas digestivo, respiratório, arterial e vários nervosos, por exemplo, como que alimentados por carvão, madeira, querosene, gasolina com alto índice de octana e eletricidade respectivamente. O processo pelo qual essas energias elevadas ou os combustíveis são refinados dos materiais básicos do alimento e do ar é exatamente aquele que estamos considerando. E os estágios pelos quais isso é alcançado são perfeitamente análogos às operações de destilação e ‘escisão’ realizadas com a ajuda de pressão e catalisadores numa grande refinaria de óleo sintético, onde, começando com o carvão como matéria prima, derivados são produzidos em vários níveis até chegar ao petróleo mais refinado utilizado na aviação e cuja manufatura é o principal propósito da empresa.

Comecemos com a matéria prima dos alimentos. Tal como são tomados pelo organismo, são matéria passiva. Ao entrar na boca, submetem-se à mastigação dos maxilares e ao amaciamento da língua, combinados com a ação líquida da saliva. As enzimas na saliva e os sucos digestivos envolvem as moléculas pesadas dos alimentos, reduzindo-os a partículas cada vez mais finas. Tudo isso representa a força ativa da vida. A forma resultante é um nutriente líquido conhecido como quimo que já pode ser absorvido pelo sistema linfático.

Uma das características do processo de digestão é que ele é contínuo, isto é, o produto de um estágio torna-se matéria prima para o próximo. Assim, o alimento digerido que foi produto da primeira operação torna-se matéria passiva do segundo e, por sua vez, é modificado pela bílis e outras secreções ativas do fígado (vida). Uma série de intrincados processos químicos produz como forma ou resultado um líquido suficientemente refinado para ser diretamente absorvido na circulação venosa.

Já vimos que os diferentes sistemas do corpo e suas energias apropriadas podem ser comparados a uma oitava ascendente. De modo semelhante, as etapas sucessivas de refinamento de matérias adequadas para o uso desses sistemas podem também ser vistas como uma oitava. Assim, a comida passiva sobre o prato pode expressar-se como , o quimo resultante da primeira etapa de transformação como e o alimento ultra refinado que passa para a corrente sangüínea como mi. Aqui chegamos a um semitom e, como percebemos da disposição do Sistema Solar e da tabela de elementos, a Natureza parece dispor sempre de algum choque especial para contrabalançar a tendência declinante que tais semitons representam.

Um arranjo exatamente dessa ordem é providenciado aqui e vemos que a matéria agora passiva do sangue venoso encontra, desta vez, um princípio ativante, não de dentro do corpo, mas de fora. A corrente sangüínea, exposta pela enorme superfície dos pulmões ao ar, é subitamente vitalizada pela adição do oxigênio externo (vida) e surge como sangue refinado ou arterial (forma).

Até agora tentamos expressar os produtos das diferentes etapas de refinamento em termos fisiológicos. Mas na etapa referente à circulação do sangue arterial tal descrição mostra-se inadequada, pois sabemos que a circulação sangüínea conta com certas sensações subjetivas que teríamos de levar em conta. Um amplo fluxo sangüíneo está conectado com sensações de calor e bem-estar, um fluxo deficiente com sensações de frio e depressão. Tais sensações podem dotar de cor o conjunto da vida emocional do homem e afetar sua atitude geral face ao mundo.

Quanto mais alto ascendermos na escala de energias humanas, mais importante torna-se essa sensação subjetiva delas e menos satisfatória uma descrição puramente fisiológica. Assim, na próxima etapa, podemos dizer certamente que o sangue arterial passa através do cérebro, onde se encontra com certo princípio, que, ativando-o, pode induzir reações elétricas ou nervosas no córtex cerebral. Mas sabemos muito bem que o resultado principal dessa etapa em particular é o que nos parece subjetivamente como nosso registro de imagens, nossa associação de idéias e, em geral, o que chamamos nossos pensamentos.

Na próxima etapa, a energia é refinada ainda mais, até o nível em que ela torna-se combustível dos sistemas nervosos que controlam, por um lado, os impulsos motores e, por outro, as operações involuntárias internas do corpo, ou seja, a energia pela qual o homem se move e age.

Finalmente, uma última transformação produz as manifestações extraordinariamente sutis de energia que podemos descrever fisiologicamente em termos de funções sexuais ou, mais subjetivamente, como fonte de toda a gama de altas e criativas emoções das quais o ser humano é capaz. Além disso, não sabemos de nenhuma nova transformação normalmente efetuada pela refinaria humana.

Desses exemplos, fica claro que, a cada etapa, uma matéria prima passiva, trabalhada ou digerida por um princípio ativo já existente no corpo, produz como resultado uma substância intermediária ou refinada que, por sua vez, alimenta uma função apropriada.

Freqüentemente, pergunta-se nesse ponto: ‘Não é o tipo de alimento que ingerimos e o modo de comê-lo o que afeta a digestão?’. Certamente sim. Desse ponto de vista, o primeiro passo é comer, não por imitação, hábito ou teoria, mas em resposta à voz da inteligência instintiva. É necessário estabelecer contato com essa inteligência que já sabe tudo sobre as necessidades internas do organismo, pede seus conselhos e ouve seus sinais – seja para manter-se ou abster-se disso ou daquilo, comer à vontade ou jejuar. Sem esse contato, todas as teorias sobre dieta podem apenas servir para comprometer o apetite.

Noutra etapa de sensibilidade, é interessante tornar-se ciente da proveniência do alimento ingerido. A comida do homem é retirada do reino das plantas, como frutos e vegetais; do reino dos invertebrados, como caranguejos e ostras; do reino dos animais de sangue frio, como peixes; e do reino dos vertebrados de sangue quente, como os animais de caça ou de carne vermelha. Pode consistir dos derivados de outras formas de vida, tais como ovos, leite ou mel, ou requerer o sacrifício dessas mesmas vidas que os produzem. Tudo isso implica num fator variável de violência na obtenção de alimento humano, o qual pode ter importância considerável para a raça ou nação e, em alguns casos, para o próprio indivíduo.

Novamente, o alimento pode ser transmutado e esse fator de violência em parte compensado pela habilitação, atenção e arte de quem cozinha e pelo reconhecimento e gratidão de quem come. Seria necessária uma combinação da oração de graças antes das refeições e da consciente ‘physiologie du goût’ do gourmet para revelar plenamente esse estranho mistério do homem absorvendo e transmutando todo o reino da natureza dentro dele. O nutricionista e o vegetariano estão familiarizados apenas com a natureza celular dos alimentos e seu efeito na natureza celular do homem. Somente um eremita ou um Brillat-Savarin começa a liberar sua natureza molecular utilizando-a para sua própria melhoria.

A despeito disso, nenhum homem pode adquirir o enorme suprimento de energia necessária para a autotransformação por comer a mais ou melhor. Para isso deve voltar-se para as outras duas formas de nutrição humana – o ar e as percepções – que passam através de uma série semelhante de refinamentos, dando a cada etapa origem a novas manifestações. Embora o alimento sólido seja refinado quase que automaticamente à sua possibilidade final, a digestão dessas duas formas mais refinadas de alimento depende muito da atenção, compreensão e escolha por parte da pessoa em questão.

No caso das percepções em particular, a digestão não é automática, não está em nada assegurada pela natureza. Depende inteiramente do grau de consciência de quem a recebe. E, com o aumento dessa consciência, as percepções podem ser refinadas a tal ponto, que dêem origem a graus de êxtases que nós ordinariamente não podemos imaginar.

Passamos todo dia por certo mendigo na rua, por exemplo. Algumas vezes percebemos a face do mendigo – se é que percebemos – como uma vaga mancha na cena geral, significando não mais que um velho pedaço de jornal. A percepção chega-nos aos olhos, mas não vai mais além, deixando de dar origem a qualquer processo dentro do organismo. Noutro dia, a mesma imagem fotográfica impressionará da forma mais vívida nossa consciência. Subitamente vemos o mendigo como ele é, vemos pobreza, enfermidade, habilidades, regozijo ou desesperança escritos em sua face e subitamente nos tornaremos cientes do que o trouxe a esse ponto e o que inevitavelmente o espera.

Essa simples percepção dará origem a centenas de pensamentos, especulações e emoções. Poderá ser refinada em alimento para a mente, sentimentos e mesmo para a mais alta atividade criativa ou de cura. E essa digestão da percepção será o resultado de um aumento momentâneo da consciência por parte de quem percebe, talvez por ter-se lembrado de si.

Contudo, isso já começa a atingir um outro processo, pois a principal característica do processo de digestão é que nele tudo procede pela Natureza. Todo homem, pelo próprio direito de seu corpo humano, desfruta do uso das energias assim produzidas e, embora ele possa em muitos sentidos interferir e alterar seu rendimento normal, toda a milagrosa série de transformações caminha independentemente de sua vontade, intenção e desejo.

Assim esse refinamento natural que começa, como vimos, com matéria inerte e termina com forma não deve ser confundido com refinamento intencional, induzido pela própria vontade e aspiração do homem que começa com forma e termina com vida. Este último envolve um processo diferente e mais difícil. Mais tarde, veremos o ponto em que ele poderia começar.

III Eliminação e o Papel dos Compostos Orgânicos

Simultâneo ao processo de digestão e transformação dos alimentos, um processo de destruição e eliminação efetua-se no corpo. Esse processo atua na ordem: vida, forma, matéria. Ele é, como vimos anteriormente, o processo no qual a força de vida rompe novamente a forma, caindo em matéria inerte. Aqui cada etapa é completa em si mesma e resulta num produto particular de exclusão que já não tem utilidade no organismo. As matérias típicas da destruição fisiológica são as excreções.

A característica principal das excreções é que elas não têm possibilidades posteriores de transformação e são, portanto, expelidas através dos poros e orifícios do corpo. Algumas excreções são óbvias e tangíveis, mas sem dúvida existem muitas outras menos reconhecíveis mas igualmente importantes e que podem adotar ainda a aparência de funções construtivas.

Tentemos estudar o processo de eliminação em cada um dos níveis funcionais que classificamos previamente. Assim, a digestão, respiração, circulação sangüínea, atividade mental, o trabalho dos músculos voluntários e involuntários, as funções sexuais e as emocionais devem ter suas próprias excreções individuais. Somente se desfazendo de seus produtos de exclusão essas funções podem manter-se num estado saudável e eficiente.

Recordemos como no processo de digestão o alimento ingerido (matéria) unia-se aos sucos digestivos no corpo (vida) e era transformado em quimo, uma forma na qual ele poderia ser assimilado pelo sistema linfático

No presente processo, o mesmo princípio ativo (vida ainda) intervém primeiro e, atacando os alimentos (forma agora) mediante a mesma ruptura, separa sua porção não digerível (matéria), que é eliminada pelos intestinos. O produto dessa tríade, os excrementos, situa-se entre sua forma original como alimento e a matéria orgânica completamente fossilizada, tal como a madeira, e, ainda que não ofereça nenhuma utilidade ao organismo, pode servir todavia como elemento nutritivo para um nível diferente de criação representado pelo reino vegetal.

O que é interessante aqui, no entanto, é ver como os dois processos de digestão e eliminação estão indissoluvelmente ligados em cada etapa e que o mesmo elemento ativo atua em ambos, mas num lugar diferente, desempenhando um papel diferente. Assim:

De modo análogo, um princípio filtrante nos rins que ao mesmo tempo purifica e refina o sangue que passa através deles também separa e elimina urina. Assim como as fezes eram o produto inerte e final do alimento, podemos dizer da urina que ela é o produto inerte da água, a qual excede em densidade pela presença da uréia, fosfato de sódio e várias outras matérias de exclusão e pigmentos. Ela também pode ser de valor para o mundo das plantas.

Na etapa seguinte, o mesmo oxigênio inalado que recarrega o sangue venoso elevando-o a um estado superior, atua também como choque mecânico pelo qual a pressão de dióxido de carbono é liberada nos pulmões e dali retirada como ar exalado. Este difere do ar inalado pela perda de muito de seu oxigênio e outras matérias mais finas, por ser carbonizado e particularmente carregado de vapor de água, fatores que tendem a torná-lo inerte e sem utilidade em relação ao homem.

Chegamos novamente a um ponto em que explicações fisiológicas são insuficientes. Na etapa seguinte, a força ativa é vista mais claramente em forma de exercício e calor, que, aumentando o metabolismo, tende a demover matérias de exclusão nas células e tecidos, liberando suor como excreção.

Enquanto isso, um pouco mais além, no nível da atividade cerebral, vemos que a excreção mental está representada pela ‘imaginação’, ou seja, uma produção contínua de imagens de desperdício derivadas de percepções do passado que fluem através do cérebro e fora dele numa torrente ininterrupta e sem sentido. Assim como o alimentar-se é intermitente, a excreção de fezes também o é, mas, desde que o fluxo de percepções seja contínuo, a atividade da imaginação também será. Quando o impacto direto do mundo externo é acalmado pelo sono, ela torna-se visível para nós nos sonhos. Na verdade, o sono continua noite e dia sem interrupção e qualquer um que tenha adquirido o poder de deter o processo mais ativo do pensamento durante alguns minutos certamente pode estabelecê-lo.

É verdade que a corrente de imaginação pode ser subordinada pela vontade e habilidade para um fim específico, assim como uma queda d’água pode ser utilizada para mover uma turbina. Isso é outra história e será tratada no capítulo seguinte. Não afeta a natureza básica do fluxo, o qual é como se todos os recortes de filmes de um grande estúdio de cinema fossem reunidos aleatoriamente e o resultado rodasse continuamente noite e dia por algum projetor esquecido numa sala de projeção.

Essa matéria de exclusão do cérebro alcança uma etapa posterior por meio da eliminação pela palavra. E um certo tipo de conversa, familiar a todos e que prossegue sem rima, razão, propósito ou ciência, seguindo-se tão automaticamente após sua elaboração mental como o suor após o exercício, reconhecemos literalmente como ‘a excreção da mente’ discutida pelos primeiros racionalistas.

Com efeito, é necessário certa conversa para a saúde mental; sem divulgação dos produtos da percepção, os pensamentos tornam-se obstruídos e estagnados, dominados pelas névoas de fantasia que ela gera. O problema é que muitas pessoas eliminam por meio da fala não apenas o material que sobra da mente, mas também grande quantidade de percepções e pensamentos que não foram sequer digeridos. Imagens que poderiam ser o alimento de compreensões são absorvidas pelos olhos e expelidas pela boca sem que nenhum benefício em absoluto derivasse-se delas. Nesse caso, o termo vulgar verborréia determina não apenas uma descrição pitoresca mas também exata desse mal.

Assim, para alguns tipos, particularmente o silencioso e saturnino, mais conversa pode ser necessária para arejar e limpar suas mentes congestionadas. Enquanto isso, para o falador e jovial, a saúde mental pode ser uma questão de falar menos ou reter deles mesmos percepções e pensamentos até que estes estejam mais plenamente digeridos e compreendidos. Em ambos os casos, o papel do falar pode ser visto corretamente como o de uma excreção.

As excreções das funções internas que dependem do sistema simpático são muitas e sutis. Lágrimas de alívio fisiológico, por exemplo, talvez possam ser classificadas nessa categoria. Nesse nível, contudo, as ‘excreções’ tendem a tornar-se cada vez mais tênues e psicológicas e certamente são ‘expressas’ por meio da constante mudança nas expressões da face, olhos, gestos, posturas e tons de voz. Atividades como o canto ou a dança podem ser vistas também como um tipo de excreção psico-emocional, com seu conseqüente sentimento de limpeza e bem-estar nesse nível em particular.

Finalmente, em conexão com a função sexual e emocional, somos lembrados não tanto das excreções fisiológicas, mas nas indefiníveis comunicações de dor, angústia ou alegria e em todo o jogo da mais alta expressão humana. É errôneo tentar associar os produtos de exclusão nesse nível com substâncias tangíveis, pois eles tomam evidentemente a forma de emanações por demais sutis para análises e medidas físicas. Certas formas de riso que são meios de rejeitar impressões muito contraditórias ou difíceis de compreender para quem as recebe podem ser incluídas aqui. Mas, no geral, podemos dizer que o que é liberado como ‘sobra’, isto é, o que é passado para o mundo deve ser proporcional àquilo que está refinado internamente. Um homem só pode liberar o produto daquilo que digeriu, refinou e compreendeu, mas para isso ele tem que fazer.

Portanto, o processo de destruição, trabalhando como o descrito, é inteiramente natural e necessário e resulta na eliminação sucessiva das matérias inertes e não assimiladas, mantendo assim o corpo com vitalidade e saudável. Posteriormente, o que se aplica ao corpo todo também se aplicará a cada função separadamente, da mais alta à mais baixa. Cada função deve ser liberada de suas matérias de exclusão se ela tiver de trabalhar com toda sua capacidade, e o castigo por não o fazer pertence ao próximo processo, o de enfermidade.

Desses três processos que examinamos em alguns detalhes, já está claro que certas matérias características estão associadas em cada um. Se voltarmos agora à tabela com que dispusemos uma seleção de compostos orgânicos em oitavas descendentes de massa molecular, encontraremos uma interessante confirmação disso.58

Tomando o carbono, nitrogênio e oxigênio – bases de toda vida orgânica – como situados entre as primeiras notas de nossa primeira oitava e que esta se completa como dupla massa molecular a partir do 12 inicial do carbono, obteremos algo como isto:




dó 12 carbono


13


si 14 nitrogênio


lá 15 acetona


sol 16 oxigênio


fá 18 água


19

mi 20


ré 22 1/2


dó 24

Numa oitava descendente, haverá, como demonstrado, intervalos entre e si, ou entre carbono e nitrogênio, e entre e mi, ou logo abaixo da água. Mais tarde veremos que esses intervalos têm um significado bastante especial.

Enquanto isso, se continuarmos com oitavas posteriores na mesma proporção, toda a disposição fica melhor expressa em forma de espiral, onde cada nota pode ser vista ecoando claramente em formas mais complexas de matérias, assim:

De fato, essa idéia dos padrões repetitivos de estruturas moleculares conectados às características específicas foi reconhecida na química sintética dos anos 30. Ela induz à ‘adaptação’ de moléculas artificiais para fins específicos, sendo o primeiro exemplo de sucesso o nylon. Posteriormente, a manipulação de moléculas para combinação de qualidades conhecidas produziu os silicones, por exemplo, uma série de acabamentos especiais em que as propriedades do vidro e lubrificantes orgânicos foram engenhosamente reunidos colocando os átomos de carbono dos últimos com átomos de sílica, o elemento que fica exatamente uma oitava abaixo. A despeito de tantas experiências brilhantes, o princípio geral das oitavas moleculares não parece ter sido reconhecido e talvez fosse interessante tratar cada nota em maiores detalhes.

Supondo que comecemos com a nota sol, originalmente representada pelo oxigênio, vejamos onde soam seus harmônicos. Uma oitava abaixo encontramos o álcool metílico e duas abaixo o ácido nítrico. Contudo, na quarta oitava, essa rota torna-se mais interessante. Temos aqui a leucina (130) e a lisina (132), dois aminoácidos que são essenciais ao crescimento de proteínas como a farinha do milho que não as inclui. São inadequadas para a nutrição infantil e, como dieta exclusiva, provocam pelagra e outras enfermidades de desenvolvimento físico inadequado. Filhotes de animais não se desenvolvem quando sua única proteína é a gliadina do pão, ainda que essa mesma proteína possa manter o adulto saudável. Posteriormente, com sol na quinta oitava, encontramos o ácido mecônico (254) com que se nutrem os recém-nascidos antes do leite materno, o hormônio maternal estrogênio, a lactose do próprio leite e a famosa vitamina A do óleo de fígado de bacalhau, necessária especialmente durante a infância e a gravidez. Todas essas substâncias estão claramente associadas ao processo de crescimento.

Passando à nota , novamente não encontramos nada revelador nas primeiras três oitavas, mas na quarta temos um grupo notável formado pelo ácido butírico da manteiga (88), a alinina do ovo (89) e o ácido láctico do leite (90). Uma oitava mais e chegamos ao ácido ascórbico (176), os carboidratos e açúcares da fruta e do leite, frutose e galactose respectivamente (todos 180). Finalmente, o sexto produz o açúcar do malte e a riboflavina ou vitamina B2 (360), que se encontra ao longo de todo o sistema digestivo e que parece estar intimamente conectada à produção de enzimas cujo trabalho é dissolver as moléculas alimentares. As gorduras, açúcares e vitaminas desta nota referem-se todas evidentemente ao processo de digestão.

, a nota originalmente representada pela água (18), que continua com o ácido salicílico (138), uma base de colorante violeta e o ácido paraaminobenzóico (137), que tende a restaurar a cor dos cabelos grisalhos, tem um estranho significado. O fá da quinta oitava proporciona as cores brilhantes, alizarina alaranjada e amarela, malaquita verde e a vitamina A da qual é formada a coloração avermelhada do olho, dando sensibilidade à cor. O fá da sexta inclui os pigmentos xantofila, bilirrubina e hematina, que colorem o plasma, a bílis e o sangue, amarelo, marrom e vermelho respectivamente. Não somente as substâncias desta nota parecem estar conectadas à cor e aos colorantes, mas também, à medida que descendemos as oitavas, as mesmas cores representadas recorrem o espectro, do incolor ao violeta, azul, verde, amarelo, laranja, marrom e vermelho. À primeira vista, não nos damos conta que esse efeito especial de – ao colorir e decompor a luz branca – é um aspecto curiosamente oculto da desintegração geral, isto é, do processo cósmico de destruição.

Passando à nota mi, parece-nos encontrar agentes de um processo que não havíamos abordado em detalhes. Em mi, na quarta, quinta e sexta oitavas, encontramos uma série completa de alcalóides herbários, como eucaliptol, mentol, nicotina, timol, tanino, quinino, estricnina, láudano e acônito, os quais, desde tempos imemoriais, têm sido usados como drogas ou agentes naturais do processo de cura. também representa um processo que teremos que considerar com mais detalhes no próximo capítulo. O original está ocupado pela acetona (15). Em seguida, temos o formaldeído (30), um líquido acre irritante que aquece ou produz feridas na superfície da pele e que é usado para endurecer, preservar ou embalsamar substâncias orgânicas. Posteriormente, encontramos a uréia (60), que forma os cristais reumáticos, e o ácido acético (60), que degenera o vinho e o açúcar em vinagre. Na quarta oitava, temos o anestésico clorofórmio (119), cuja função particular é remover a consciência. O poder geral de converter coisas vivas em coisas mais resistentes, mais cristalinas, menos sensíveis e menos conscientes reconhecemos como pertencente ao processo de degeneração ou corrupção.

O primeiro si é nitrogênio 14. Sua contraparte de oitava, o etileno (28), é um gás estranho que se desprende quando a fruta está madura e decomposta, acelerando essa maturação. Duas oitavas adiante encontraremos a histamina (111) da medula óssea, de onde as células sangüíneas são geradas, e a creatinina (111), uma substância encontrada particularmente nos testículos humanos e no útero durante a gravidez e cuja produção aumenta consideravelmente neste período. No si da sexta oitava, temos a vitamina E (450), cuja ausência ocasiona esterilidade e sua abundância causa a fertilidade tanto no homem quanto na mulher. Todas essas substâncias estão intimamente conectadas ao sexo e à possibilidade de reprodução, seja nos animais ou em nível celular. Podemos assim fixar provisoriamente essa nota àquele que em outras conexões chamamos de processo de regeneração.

Ao mesmo tempo, deve ser acrescentado que muitas das substâncias orgânicas essenciais para o surgimento da descendência, tais como a testosterona masculina e o estrógeno feminino, encontram-se na nota sol, ou próximo dela, a qual associamos ao processo de crescimento. Em geral, as substâncias dessas duas notas, si e sol, interagem, combinam-se e dependem uma da outra de uma forma extraordinária, tal como seus representantes primários, o nitrogênio e o oxigênio, que se combinam e interagem para formar o ar que é a base de todo crescimento e geração orgânicos.59

Com essa reserva, parece-nos agora que seis das sete notas de nossas oitavas descendentes de compostos orgânicos podem justificadamente estar associadas aos seis processos cósmicos dos quais esses compostos são como que agentes moleculares. Podemos resumir assim nossas descobertas:

dó ?



-



si certas vitaminas: agentes de reprodução (regeneração)



lá certos venenos: agentes anestésicos (degeneração)



sol aminoácidos, etc.: agentes de crescimento



fá corantes: agentes de cor (destruição)



-



mi drogas naturais: agentes de cura



ré gorduras e açúcares: agentes de digestão

Não tocaremos aqui a nota que completa cada velha oitava e inicia uma das novas resumindo em si mesma tudo o que já estava antes e tudo o que virá depois.

Mas ficam para ser considerados os intervalos naturais entre e si e entre mi e fá, em que, como já vimos, qualquer impulso original tende a desvanecer-se ou diminuir e que na disposição cósmica são compensados pela entrada de algum impulso extra de outra escala e outro nível.

O intervalo dó-si na primeira oitava seria representado pela massa molecular 13, embora não se conheça tal substância. Na oitava seguinte, encontramos o acetileno (26), fonte de intensa luz. O elemento de massa molecular semelhante, o magnésio, também tem essa propriedade. No mesmo intervalo, em outras oitavas, temos os estranhos narcóticos derivados do mescal, papoula e cânhamo, que têm o efeito de colocar o homem em comunicação temporária com funções superiores que normalmente estão adormecidas e que na linguagem mística ‘liberam luz interior’.

As substâncias do intervalo mi-fá – benzina, cocaína, morfina e hiosciamina – parecem ter propriedades muito semelhantes tanto por proporcionar luz quanto por em alguns casos tornar o homem imune à dor ao elevar sua consciência a outro reino. O primeiro intervalo mi-fá, representado por alguma coisa mais pesada que a água, foi na verdade preenchido artificialmente pela ‘água pesada’, inventada pelo homem como um trampolim para a quebra do átomo e a liberação da energia atômica ou, mais apropriadamente, da energia eletrônica.

Tudo isso contém um forte elemento de ‘magia’, no sentido de que as leis do mundo que estamos considerando estão sendo subitamente revogadas em favor daquelas de um mundo superior. A ação das substâncias encontradas nesses intervalos é de alguma forma incomparável com a ação das substâncias pertencentes às notas entre os intervalos, da mesma forma que o nascimento e a morte são incomparáveis à vida. A ação produtora de luz do acetileno e do benzeno dá-nos um indício para a compreensão dessa incomensurabilidade.

Temos chamado essa tabela de tabela de compostos moleculares e a ação da maior parte das substâncias às quais nos referimos é molecular, ou seja, sobre a escala e tempo das moléculas e pela combinação e intervalos delas. Mas, com o acetileno e o benzeno e de modo diferente com os narcóticos, encontramos subitamente a intervenção da luz. A luz não se refere a moléculas nem à matéria em estado molecular, refere-se ao mundo dos elétrons e à matéria em estado eletrônico. Em outras palavras, os intervalos representam a intervenção da matéria em um estado superior, a partir de um mundo superior. Esse é o segredo dos intervalos em todas as escalas. Eles representam a porta de um mundo para outro.

No próximo capítulo, veremos que o processo de regeneração, que então consideraremos, está exatamente conectado com o legítimo forçar a entrada de tal porta.

58. Ver ‘Apêndice VII’, ‘Tabela de Compostos Orgânicos’.


59. Note-se também a interação e inseparabilidade das notas sol e si na oitava de tempos planetários já mencionada na seção referente aos marcos da vida humana. Ver Capítulo XI, II.

Figura 9: Tríades de Digestão e Eliminação

Figura 10: As Oitavas de Compostos Moleculares