segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Capítulo IV - Sol, Planetas e Terra

I Os Três Fatores de Causalidade


De acordo com vários sistemas antigos de filosofia, todo fenômeno que existe, a partir dos deuses e em ordem decrescente, surge da interação de três forças. Uma delas é descrita como de natureza ativa ou criativa, a segunda como passiva ou material e a terceira como mediadora ou formadora.

Na filosofia cristã, essas três forças estão expressas pelas três pessoas da Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo -, que criam o universo. Na alquimia medieval, todas as coisas eram vistas como mesclas variantes do sal, do enxofre e do mercúrio. No Sankhya indiano, um papel análogo é conferido aos três gunas - Rajas, Tamas e Satva. No hinduísmo, as forças são outra vez personificadas como Shiva, Parvati e Vishnu e, na China, elas adquiriram um aspecto metafísico na interação Yin e Yang supervisionados pelo Tao.

Em todos esses sistemas, a natureza das três forças era universal, isto é, considerava-se que elas penetravam tudo, em todo lugar e em cada escala, do mundo dos micróbios ao mundo das estrelas e do efeito da luz ao do pensamento ou respiração. Na filosofia moderna, não existe tal idéia geral de três forças, ainda que alguns exemplos sejam reconhecidos, como o próton, o neutron e o elétron da física atômica ou os reatores, reagentes e catalisadores de vários processos químicos.

Se considerarmos as três forças do ponto de vista da física, teremos de dizer que a força ativa é a de longitude de onda mais curta e vibração mais rápida e a força passiva a de longitude de onda mais extensa e vibração média. A oitava de cores, por exemplo, estende-se do azul (com uma longitude de onda ao redor de 4000 unidades angström)18a ao vermelho (cerca de 8000). Mas, como sabemos, as possibilidades do vermelho e do azul são muito limitadas e toda riqueza infinita de cores que vemos depende da presença de uma cor intermediária: o amarelo, bastante diferente e a meio caminho (cerca de 5750 unidades angström) entre as outras duas cores. Esta é a base dos três processos de cor em impressão. No que diz respeito ao fenômeno da cor, podemos chamar o azul de força ativa, o vermelho de passiva e o amarelo de força intermediária. Todas as cores possíveis provêm da combinação dessas três.

O mesmo exemplo demonstra outro aspecto dessa lei, a saber: as características das três forças dependem não dos fenômenos por meio dos quais se manifestam, mas de sua relação umas com as outras. A longitude de onda do vermelho, por exemplo, é passiva em relação ao fenômeno da cor, mas é ativa em relação ao fenômeno do calor que pertence à oitava abaixo. Assim, todos os objetos e energias que existem no mundo estão constantemente mudando de lugar do ponto de vista da lei de três, atuando como instrumentos ora ativos, ora passivos ou intermediários. É exatamente esse fluxo e mudança constante o que torna a lei de três tão evasiva à nossa percepção, fazendo-se necessário tomar cada exemplo separadamente, à parte de todos os outros.

Um exemplo mais geral, todavia, pode explicar melhor a idéia. Pense em comércio, por exemplo. O homem existe no mundo e existem também todos os objetos que ele desenvolve ou manufatura a partir dos materiais que o cercam, seus bens. O homem é ativo e os bens passivos. Mas só com essas duas forças pouco intercâmbio poderia haver e foi necessário que uma terceira força que capacitasse as outras duas fosse inventada para trabalharem todas juntas num número infinito de combinações. Essa terceira força é o dinheiro. A tríade homem, bens e dinheiro dá origem à atividade geral do comércio.

Esse exemplo nos traz outro aspecto muito interessante da lei de três forças. O dinheiro é invisível e, com o crescimento do comércio e o desenvolvimento de transações bancárias, o dinheiro tende a tornar-se ainda mais invisível, mais abstrato e corresponder cada vez menos a qualquer realidade tangível. Isso faz eco às explicações da lei de três dadas por antigas filosofias que sempre enfatizaram que a entrada do terceiro princípio permanece invisível para o homem em seu nível usual de percepção. O terceiro princípio representa o desconhecido, o irreconhecível determinante em cada situação.

Em alguns casos, ele pode ser apenas fisicamente invisível, assim como muitos processos químicos envolvendo a interação do ácido ativo e do alcalóide passivo são possíveis somente com a presença invisível da umidade. Ou, novamente, o método de ação pode ser invisível, assim como o método de ação dos catalisadores em química e das enzimas em fisiologia permanece invisível. Em outros casos, essa invisibilidade é mais sutil. Um homem decide elevar-se a um nível superior de consciência. Sua vontade, desejo e esforços ativos são lançados contra a inércia passiva de sua máquina física com todas as suas tendências congênitas e hábitos adquiridos. Essas duas forças confrontam-se sem resultado até que ele possa atrair a intervenção de uma terceira força decisiva - a ajuda de uma escola esotérica e de um conhecimento de escola. Essa ajuda e esse conhecimento são literalmente invisíveis.

Ainda que dinheiro, ar, catalisadores, enzimas e escola produzam grandes mudanças naquilo com o qual venham a entrar em contato, eles mesmos continuam não afetados e irredutíveis. Não podem perder sua virtude ou serem gastos. É uma característica do terceiro princípio que ele seja sempre imutável, invisível e irreconhecível, não podendo ser comandado ou manipulado pelos outros dois fatores. Em relação a eles, seu papel será sempre misterioso.

A invisibilidade é como que um disfarce desse mistério e ele pode ser de vários tipos diferentes. Algumas coisas são invisíveis para nós porque estão muito distantes, como as galáxias, outras porque estão muito próximas, como o interior de nossa mente, algumas porque são muito grandes, como a Terra, outras por serem muito pequenas, como uma célula, algumas porque são muito rarefeitas, como o ar, outras por serem muito densas, como o interior de uma rocha, algumas por serem muito rápidas, como a bala disparada de um rifle, e outras ainda porque são muito lentas, como a formação de uma civilização.

Ainda assim, esses diferentes tipos de invisibilidade não são acidentais. Eles colocam as coisas às quais se referem numa relação bastante especial com o homem, para quem são particularmente passíveis de atuar como terceira força. Assim, para alcançar o que deseja, ele deve aprender a considerar a terceira força e, para considerá-la, deve aprender a considerar o invisível.

Tocamos teoricamente a idéia dos três fatores ou três princípios no desenvolvimento da multiplicidade a partir do Absoluto. Qualquer análise que tentemos fazer das forças que criam e mantêm os mundos galácticos também é igualmente filosófica. Vemos e compreendemos muito pouco nesse nível e quaisquer que sejam as idéias que cheguem até nós, elas pertencem mais ao domínio da especulação metafísica do que ao dos fenômenos físicos suscetíveis de estudo e prova.

Na escala particular que estamos por considerar - a da criação e manutenção da vida na Terra -, três nítidos fatores físicos tornam-se todavia aparentes à mente acostumada a pensar dessa forma.

Todos os fenômenos da vida reconhecíveis por nós sobre a Terra são produto do Sol, da Terra e dos Planetas. O Sol provê a força de vida, a Terra os materiais e os Planetas a forma. Sem esses três elementos, nenhum ser vivo poderia existir. Além disso, esses três elementos são de níveis variáveis de energia. O Sol, como já sabemos, é mais radiante e mais ativo, a Terra é mais inerte e passiva, enquanto que os Planetas situam-se entre ambos, distribuindo e refletindo como uma terceira força mediadora.

Um diagrama extraordinário dessa idéia pode ser encontrado na fachada de muitas catedrais góticas da França, onde a rosácea representa o sol, os cinco vitrais inferiores ocupados por arcanjos representam os planetas e a vida sobre a Terra é representada pelos ricos entalhes de figuras e cenas ao redor do pórtico, esculpidos na própria rocha sobre a qual o conjunto está construído.19 Não poderia haver melhor representação da origem da vida tal como a conhecemos, fruto de tríplices e celestiais criadores.

Mas, antes de prosseguir, tornemos mais claro qual é o significado de Sol, Planetas e Terra nesse sentido geral. Por Sol, entenda-se todas as suas emanações, incluindo-se aquelas recebidas como calor, luz, raios ultra-violeta e outras irradiações ainda desconhecidas, assim como a sua função de sustentar toda a Terra em lugar e órbita apropriados. Por Planetas, entenda-se efeitos combinados dos movimentos, magnetismo e reflexos dos principais corpos planetários tomados como um todo. Por Terra, entenda-se o material básico comumente disponível na superfície de nosso mundo destituído de vida e forma, ou seja, os elementos químicos do hidrogênio ao chumbo em seu estado desorganizado.

De imediato, algo nos chama a atenção a respeito dessa classificação. A invisibilidade da terceira força que mencionamos continua verdadeira. Ainda que a vida orgânica seja geralmente reconhecida como um produto da Terra e do Sol, o papel igualmente essencial e determinante dos planetas permaneceu ignorado e passou despercebido por séculos. Mas temos agora um indício para esse papel. Sendo o Sol a fonte de vida e energia e a Terra a mina de matéria-prima, coloquemos como hipótese que os planetas sejam os criadores de forma e de função. O resultado é o Mundo da Natureza.

Tal pode ser a tríplice causa geral do fenômeno da vida na Terra. Mas só isso não explica para nós a qualidade completamente diferente de variados aspectos dessa vida, todos os contrastantes, contraditórios e complementares processos cujo resultado total surge para nós como o mundo no qual os homens vivem.

Se voltarmos ao exemplo dos homens, bens e dinheiro, perceberemos que essas três forças podem combinar-se de maneiras muito diferentes, produzindo diferentes resultados. O dinheiro pode servir aos homens e possibilitar que eles desfrutem o benefício dos bens. Por outro lado, pode acontecer que os homens comecem a servir ao dinheiro e a sacrificar os bens que previamente desfrutaram apenas para adquiri-lo. Outras vezes, pode também acontecer que o dinheiro perca seu valor e os próprios bens passem a governar a vida dos homens e a cumprir o papel do dinheiro. Cada uma dessas interações das três forças produz um estado diferente de sociedade com possibilidades e resultados diferentes, alguns melhores, outros piores, e outros ainda distintos somente em sua natureza, sem melhoria ou degeneração.

Empreenderemos agora algo próximo a uma análise dos diferentes modos em que o Sol, os Planetas e a Terra podem combinar-se, assim como de seus conseqüentes efeitos na vida terrestre.


II Os Seis Processos na Natureza


Em sua influência sobre o mundo da natureza, o Sol, os Planetas e a Terra interagem em seis diferentes combinações para criar seis possíveis categorias de processos:


Sol: Terra: Planetas

Sol: Planetas: Terra

Terra: Sol: Planetas

Terra: Planetas: Sol

Planetas: Sol: Terra

Planetas: Terra: Sol


O efeito variável dos mesmos constituintes, combinando-se em diferentes ordens, pode ser explicado tomando-se o exemplo de uma chama de gás, água e uma chaleira. A chama de gás pode ser aplicada à água na chaleira para produzir água quente. Por outro lado, a água pode ser despejada da chaleira para apagar a chama. Uma chama também poderia ser colocada dentro da chaleira tampada e esta posta a flutuar na água para formar uma embarcação rudimentar movida a propulsão a jato.

O princípio de que seis processos cósmicos universalmente aplicáveis devem resultar da interação de três forças foi plenamente reconhecido pela alquimia do século XVII cuja teoria e prática estava baseada nas seis operações alquímicas - coagulação, dissolução, sublimação, putrefação, separação e transmutação - resultantes das diferentes reações de sal, enxofre e mercúrio.

Similarmente, as seis maneiras com que o Sol, os Planetas e a Terra combinam-se referem-se à natureza mais fundamental dos processos e cada categoria pode incluir um vasto número de fenômenos diferentes que normalmente parecem não ter nada em comum. Tomemo-los na ordem.


(a) Sol: Terra: Planetas - Processo de concepção, crescimento e multiplicação.


Aqui a influência do Sol inspira a Terra com vida, sendo que esta será dotada de forma pelos Planetas.20 O princípio de vida intervém e organiza os elementos químicos inertes para produzir uma criatura viva que é revestida com forma individual e qualidades. Este é o processo universal de crescimento, multiplicação e propagação.

Todos os homens têm vida e isso eles devem ao Sol. Todos os homens são compostos de carbono, oxigênio, nitrogênio, hidrogênio e pequenas quantidades de cálcio, iodo, fósforo, etc. Isso eles devem à Terra. Todos os homens têm uma forma distinta, cor, tamanho, velocidade de reação e outras qualidades externas e internas, e estas eles devem aos planetas.21 O mesmo pode ser dito de animais, pássaros, peixes, insetos, plantas e todos os outros seres vivos.

O processo pelo qual esses fatores se combinam para criar toda a multiplicidade de vida sobre a Terra é devido a essa primeira ordem de forças. Essa ordem pode ser vista mais claramente ao estudarmos a concepção e embriologia dos seres vivos. Dos primeiros elementos visíveis - a semente e o ovo -, podemos dizer pouco mais que aquilo que representam: vida. Combinados, eles começam a organizar matéria. Por fim, e só gradualmente, o resultado adquire forma.

Posteriormente, o embrião conduzirá ao crescimento do bebê, o bebê à criança, a criança ao homem, este a uma outra concepção e assim por diante. Esse processo tem a característica de efetuar-se em cadeia, de ser contínuo, uma fase conduzindo inevitavelmente a outra.


(b) Sol: Planetas: Terra - Processo de decadência, desintegração, destruição e eliminação.


Nesta segunda ordem, a influência do Sol anula o trabalho formativo dos planetas para reduzir organismos vivos de volta à Terra. A própria força de vida desfaz a forma, permitindo que seus elementos químicos constituintes desintegrem-se. Arranque uma planta viva e exponha-a aos raios de sol. Num tempo comparativamente curto, seu carbono e oxigênio serão liberados no ar e seu nitrogênio e sais minerais diluídos na terra. Todos os processos de incineração, oxidação, apodrecimento, decadência e eliminação procedem em geral da mesma ordem de forças.

Esse processo é complementar ao primeiro e deve servir exatamente de contrapeso ao estado saudável de qualquer organismo. Numa escala geral, o crescimento só pode avançar no mesmo ritmo da deterioração. Um agricultor sabe que o nitrogênio liberado na deterioração de matéria vegetal desse ano é essencial ao crescimento da safra do próximo ano. ‘Pó ao pó e cinzas às cinzas’ - a inevitável desintegração nesse segundo processo da matéria temporariamente incorporada a uma forma pelo primeiro.

Assim, as cinzas não poderão mais se desintegrar. Esse processo resulta numa parada cósmica, quietude e imobilidade.


(c) Terra: Sol: Planetas - Processo de transformação, refinamento e purificação.


A ação da vida sobre a Terra a longo prazo é a transformação gradual e o refinamento da superfície desta. A matéria inorgânica é gradualmente transformada em orgânica, esta em animal e assim por diante. As rochas são desgastadas pelo vento, chuva e geadas. Os leitos de lava vulcânica em 300 anos tornam-se férteis vinhedos. O solo converte-se num tecido de plantas e o tecido de plantas no movimento e sensação dos animais. A lei natural ‘Comer e ser comido’ rege a transformação de matéria que processa a terceira combinação - Terra: Sol: Planetas. A matéria inerte é trabalhada pela força da vida e elevada à forma.

Analisemos um exemplo específico. Tomemos uma rocha como amostra. O calor solar e o esfriamento desintegram-na, os efeitos dos planetas que consideramos como ciclos climáticos e meteorológicos imprimem suas marcas nos leitos do solo em disposição e tamanhos diferentes. Esses leitos do solo, no próximo estágio de transformação, serão eles mesmos tomados como matéria inerte ou terra; o Sol, agindo por fotossíntese, transforma o solo em tecido vegetal, enquanto que a ação dos planetas determina tanto a forma em que o tecido vegetal cresce quanto a cor que assume.

Esse processo pode ser visto novamente como complementar ao processo de crescimento, mas de uma forma diferente. À semelhança do exemplo anterior, esta também é uma reação em cadeia, uma etapa conduzindo naturalmente a outra, ainda que dentro de limites definidos.

(d) Planetas: Sol: Terra - Processo de enfermidade, rebelião, corrupção e crime.


Nesse processo, a forma é desligada de sua subordinação natural e, sobrepondo-se ao espírito, reduz o todo a matéria morta.

Respondendo irregularmente ao estímulo de um planeta, um órgão particular ou um grupo de células num ser vivo exagera sua função na harmonia geral assumindo um papel dominante. A proliferação descontrolada de células cancerosas e o domínio exagerado ou deficiência das glândulas tireóides produzindo neuróticos ou retardados mentais são exemplos na patologia humana. Gradualmente, tal domínio subjuga a força unificante da vida derivada do Sol e reduz, primeiramente, o tecido e, a seguir, o corpo todo a seus constituintes inertes ou terra.

Considerando a vida na Terra como um todo, uma situação comparável seria que um dos reinos da natureza, saindo de seu papel, destruísse o equilíbrio geral. A humanidade, por exemplo, estimulada a atividades patológicas por influência planetária, declara periodicamente guerra aos reinos vegetal e animal, reduzindo a um deserto esta ou aquela área da Terra.

Tal processo, iniciado pela reação desequilibrada de influência planetária, representa a rebelião de uma parte contra o todo, do órgão contra o corpo, do indivíduo contra a sociedade. Nesse sentido, ele representa crime. E como veneno engendra mais veneno e crime mais crime, ele é contínuo e autoperpetuante.


(e) Terra: Planetas: Sol - Processo de adaptação, cura, renovação e invenção.


O quinto processo representa a redescoberta do espírito pela matéria por intermédio de uma forma apropriada. A matéria inerte, assumindo com a ajuda planetária novas formas adaptáveis a circunstâncias mutáveis, atrai para si a intervenção de forças solares.

O trabalho desta ordem é mais claro em sua contra-atividade à enfermidade e ao crime. Curar implica que a matéria inerte ou venenos produzidos pelo último processo devem ser eliminados e os tecidos devem ordenarem-se uma vez mais em seus lugares e formas correspondentes, permitindo a circulação renovada de sangue vital.

Onde desertos estavam formados, a própria areia começa a assumir com o tempo qualidades orgânicas e descobrir formas adequadas às novas condições, tais como o cacto e a vegetação rasteira. Isso torna possível a presença de insetos, os insetos a de pássaros e assim por diante, até que a influência solar seja mais uma vez capaz de revestir o deserto com toda a plenitude de vida.

Na escala de assuntos humanos, esse processo significa a criação pelo homem de uma nova forma, na qual leis naturais possam operar, isto é, invenção ou descoberta. Mas cada invenção permanece isolada, cada cura é um fim em si mesma. Toda operação desse processo representa um esforço autônomo e isolado.

Em geral, esse processo é o antídoto do processo de enfermidade. Ele gera normalidade e prepara o caminho para a regeneração.


(f) Planetas: Terra: Sol - Processo de regeneração, recriação, mudança de natureza e arte.


Nesse último processo, a forma dando ordem à matéria torna-se ela mesma vida ou espírito. A criatura iguala-se ao criador e cria a si mesma. Os planetas não são senão as formas ou reflexos da influência solar. Mas, de algum modo, eles também podem aspirar a ser sóis e, em Júpiter e Saturno, vemos essa transformação já bastante avançada. O planeta, organizando a terra ou matéria disponível, imitando seu sol, torna-se ele também um sol para seus próprios satélites e sistema.

No mundo dos homens, vemos que grandes artistas, poetas ou músicos lutam para organizar seu material, seja pintura, pedra ou palavra, e numa ordem que imita a da criação cósmica. Ao criar uma ordem semelhante àquela criada por um poder superior, eles adquirem em menor escala a natureza daquele poder. Os santos e grandes mestres, disseminando a luz da verdade na escuridão da ignorância e mantendo de acordo com leis cósmicas os discípulos que giram ao seu redor e deles dependem, igualam-se à fonte de luz solar e eles mesmos a alcançam.

Mas esse processo difere dos outros no sentido de que, olhado pelo ponto de vista da forma, ele não acontece. Aqui a forma toma por si mesma a iniciativa da criação, encarregando-se de dominar a matéria ou elevá-la ao nível do espírito. É o processo de aniquilamento da lei da gravidade. Por ela, um ser muda sua natureza. É o processo de fazer o impossível.

Podemos resumir os processos assim:


(a) Sol: Terra: Planetas: ou Vida: Matéria: Forma:

Encarnação, crescimento, multiplicação, elaboração.

(b) Sol: Planetas: Terra: ou Vida: Forma: Matéria:

Decadência, desintegração, destruição, eliminação.

(c) Terra: Sol: Planetas: ou Matéria: Vida: Forma:

Transformação, refinamento, purificação, digestão.

(d) Planetas: Sol: Terra: ou Forma: Vida: Matéria:

Enfermidade, rebelião, corrupção, crime.

(e) Terra: Planetas: Sol: ou Matéria: Forma: Vida:

Adaptação, invenção, cura, renovação.

(f) Planetas: Terra: Sol: ou Forma: Matéria: Vida:

Regeneração, recriação, mudança de natureza, arte.


Todos os fenômenos na Terra, conhecidos e desconhecidos, pertencem a um ou outro desses seis processos. Não há outros, e outros não são possíveis.


III Os Quatro Estados da Matéria


De certo modo, as descrições anteriores foram necessariamente filosóficas. Devemos agora seguir adiante para examinar como essas três forças combinam-se para produzir os seis aspectos dos fenômenos naturais.

O Sol é a fonte de vida. Dito de outro modo, significa que é a única fonte de radiação eletrônica, isto é, luz, calor, raios ultravioleta e outros. Somente o Sol distribui matéria em estado eletrônico. Outros objetos que parecem fazê-lo apenas tomam emprestado o que é derivado do Sol, seja refletindo-o, como fazem os planetas, ou liberando algo temporariamente armazenado, como uma brasa a arder ou uma lâmpada de azeite. Este é o estado mais rápido da matéria, no qual ela pode percorrer não menos que 300.000 km por segundo.

Os planetas não possuem nem fornecem matéria em estado eletrônico. Sua porção superior é sua atmosfera, que, sendo gasosa, está constituída de matéria em estado molecular. Evidentemente, as atmosferas de diferentes planetas não são da mesma composição ou densidade daquela que nos é familiar na Terra. Sem dúvida, há razões para crer que, num nível ou noutro, quase todos os planetas têm atmosferas. A de Vênus consiste em grande parte de dióxido de carbono, a de Marte de vapor de água e a de Júpiter de amônia e metano.

Essas atmosferas transformam e refletem a luz do Sol em um nível molecular, produzindo mudanças correspondentes na atmosfera da Terra, isto é, nas condições moleculares daqui. Portanto, podemos dizer que os planetas controlam a matéria em estado molecular. A matéria nesse estado é muito mais lenta que a matéria em estado eletrônico e podemos julgar sua ordem de velocidade como sendo a mesma de um movimento molecular típico, o do som. O som percorre o ar a uma razão de 320 metros por segundo, ou seja, um milhão de vezes mais lento que a luz.

Finalmente, a Terra, no sentido em que a tomamos, uma mina de matérias-primas, consiste de matéria em estado mineral. Tal matéria carece de movimento próprio e é inerte.

Agora podemos ver como o Sol, Planetas e Terra combinam-se para produzir a Natureza ou vida orgânica. Significa que a matéria em estado eletrônico, matéria em estado molecular e matéria em estado mineral combinam-se para produzir matéria em estado celular. Toda a vida orgânica na Terra, toda a matéria celular está constituída, num aspecto, de elétrons ou de matéria em estado eletrônico, em outro aspecto, de moléculas ou matéria em estado molecular e, num terceiro ainda, de minerais ou de matéria em estado mineral. Nos homens, animais e plantas, esses três estados da matéria estão, por assim dizer, sobrepostos para formar um quarto ou o estado ‘natural’ da matéria.

Isso explica como todos os seres vivos que conhecemos contêm em si mesmos três ou quatro incomensuráveis estados e velocidades de matéria. Em virtude de sua estrutura eletrônica, participam da natureza do Sol; em virtude de sua estrutura molecular, participam da natureza dos planetas; e, em virtude de sua estrutura mineral, participam da natureza da Terra.

Mas as várias formas de vida orgânica contêm diferentes proporções de matéria nesses três estados. Evidentemente, uma tartaruga, com sua dura e pesada carapaça, contém uma proporção maior de matéria mineral - sílica e cálcio - que o cão, por exemplo. De modo semelhante, o cão - em cuja vida o olfato tem tão grande papel - deve conter uma proporção maior de matéria em estado molecular que a tartaruga. Portanto, como mais adiante diremos, o homem, cujas potencialidades estão baseadas na recepção e interpretação de impressões criadas pela luz, deve conter uma maior proporção de matéria em estado eletrônico que qualquer um dos outros dois.

O fato de que os quatro possíveis estados da matéria estejam tão intimamente conectados com diferentes velocidades nos dá um índice sobre que tipo de vida, se é que há alguma, podemos encontrar em diferentes partes do Sistema Solar. Excetuando-se seu movimento orbital, derivado provavelmente de algum impulso criador central que se aplica a todo o sistema, todos os planetas e todas as diferentes partes de sua superfície movem-se a diferentes velocidades, dependendo da sua velocidade de rotação. Tal velocidade de rotação parece, por sua vez, estar intimamente relacionada com o grau de ‘evolução’ do planeta individual. Os planetas mais densos e pequenos, que não têm luas ou têm apenas algumas, giram mais lentamente, e os planetas maiores e mais rarefeitos, que suportam um maior número de luas e que estão mais próximos à emissão de sua própria radiação, giram muito mais rápido.

A rotação, como sabemos por milhares de invenções humanas, é na realidade um método universal de separar matérias distintas, de separar o grosseiro do refinado. Existem duas maneiras de induzir essa separação por rotação. Uma delas é aplicar força de rotação ou pressão no centro e assim as matérias mais densas voarão para fora por força centrífuga. A outra é criar um vácuo giratório no centro para que as matérias mais densas voem para dentro por força centrípeta. Já que na prática é extremamente difícil competir com a grande força centrípeta ou gravitacional da Terra, praticamente todos os métodos artificiais de separação - dos separadores de creme para a frente - são centrífugos.

Um dos poucos exemplos de separação centrípeta é um redemoinho, onde uma temporária fração de baixa pressão faz com que as folhas e os ramos voem no centro, enquanto a poeira voa num anel mais externo. Além desse anel de poeira, há apenas ar em movimento. Nesse segundo método, matérias pesadas são levadas a gravitar no centro, enquanto as outras se colocam numa série de camadas de acordo com sua densidade. Quanto maior a velocidade de rotação, mais perfeita será a separação.

É exatamente dessa forma que os planetas funcionam como vácuos ou lagos de baixa pressão no grande campo de força solar. Também neles a rotação ocasiona separação de matérias. Um planeta ou satélite que não tem nenhuma rotação, como Mercúrio ou a Lua, não é nada mais que uma sólida e homogênea esfera de pedra. Com o começo da rotação, a matéria molecular começa a separar-se da matéria mineral e voa para a superfície para criar o início da atmosfera. Enquanto isso, entre as duas, uma outra camada de matéria em estado celular passa a distinguir-se com o tempo. Assim como para o homem a separação de seus diferentes aspectos - físico, mental e emocional - e seu conseqüente reconhecimento deles e relação uns com os outros é um sinal de aumento de consciência e controle, também para os planetas a crescente separação de matérias resultantes da rotação deve ser olhada como um critério de desenvolvimento.

Seria, portanto, bastante natural que a velocidade superficial derivada da rotação estivesse intimamente conectada ao estado da matéria e de formas de vida que se encontrassem nos vários planetas. Em linguagem corrente, quando falamos de ‘vida’, queremos dizer matéria em estado celular. A existência desse estado da matéria provavelmente só é possível dentro de limites definidos de velocidade de superfície, da mesma forma que um cano de metal esfregado na manga de uma camisa a certa velocidade atrairá magneticamente pequenos pedaços de papel, acomodando-os em determinada forma, mas não quando esfregada numa outra velocidade.

Consideremos a situação na Terra, que tem um diâmetro de 12.800 km e gira ao redor de seu eixo em um dia. No equador, sua superfície move-se a aproximadamente 28 km por minuto ao redor de seu eixo; nos trópicos de Câncer e Capricórnio, a 25 km aproximadamente;, na latitude da Europa, a aproximadamente 23; e no Círculo Ártico, a apenas 11 km por minuto. Partes da Terra, movendo-se mais lentamente que 10 km por minuto, quer seja próximo aos pólos ou dentro de seu interior, não mostram praticamente qualquer vida celular, mas apenas matéria em estado mineral. Enquanto isso, a parte da Terra que se move a uma velocidade maior que 28 km por minuto, ou seja, as maiores alturas da atmosfera acima do equador, não nos mostra vida celular, mas apenas matéria em estado molecular. Assim, em relação à Terra, a vida celular ou orgânica só é encontrada nas regiões onde a velocidade de rotação acha-se entre 28 e 10 km por minuto. E, dentro desses limites, quanto maior o movimento de rotação, mais ricas, elaboradas, densas e variadas as formas de vida orgânica; quanto mais lento o movimento de rotação, mais pobres e esparsas tais formas.

Certamente, o ângulo dos raios de sol, a distribuição de umidade e as correntes marinhas de calor também são fatores de grande importância. Ao mesmo tempo, é difícil acreditar que essas diferenças em velocidade do movimento de superfície não sejam uma causa primária da enorme variação de formas de vida em diferentes latitudes. E, se aplicarmos esse princípio aos outros planetas e partes dos planetas na busca de um indício de possibilidades de vida neles, os resultados serão no mínimo reveladores.

Nos corpos que não têm rotação alguma, dos quais Mercúrio e Lua são os melhores exemplos, não vemos sinais nem de vida orgânica nem de atmosfera. Eles estão constituídos apenas de matéria em estado mineral.

Marte tem um período de rotação muito próximo ao de 24 horas da Terra, assim como muito provavelmente Vênus também o tenha. Vênus, aproximadamente do mesmo tamanho que a Terra e cuja velocidade de superfície parece ser similar, tem na verdade uma atmosfera nebulosa, indicando muita matéria em estado molecular, mas só esse fato não permite que afirmemos haver ali qualquer presença de vida. Em Marte, que é menor que a Terra, as velocidades superficiais são consideravelmente mais lentas. No equador de Marte, a velocidade de superfície é quase equivalente à da Terra em 60o de latitude, isto é, na Baía de Hudson ou no Norte da Sibéria, enquanto que as velocidades mais distantes de seus trópicos são semelhantes às do Círculo Ártico terrestre.

Assim, não é de surpreender - tendo nosso princípio geral em mente - que a atmosfera de Marte seja muito rudimentar e rarefeita, enquanto que as famosas manchas verdes que variam com as estações e que poderiam muito bem ser produzidas por líquen ou musgo estejam confinadas a seu equador. Líquen e musgo formam na verdade a vegetação característica da região da Terra com uma velocidade superficial semelhante.

No equador de Júpiter, por outro lado, a velocidade superficial é de cerca de 700 km por minuto, ou seja, vinte e cinco vezes mais rápida que a velocidade superficial mais rápida da Terra. Se há uma conexão entre as pequenas diferenças de velocidade na Terra e a crescente diversidade, riqueza e proliferação de vida perto do equador, então é óbvio que, com uma velocidade como esta, a diversidade caleidoscópica e intercambial de formas seria tal, que elas não poderiam em absoluto estar confinadas dentro de processos celulares. Corresponderiam mais ao que conhecemos da velocidade, variedade e potência de fenômenos moleculares na Terra.

Isso confere o que na verdade sabemos da superfície de Júpiter, que parece estar constituída de um oceano gasoso vasto e constantemente agitado. Esse oceano gasoso, se nossa teoria estiver correta, não é tão inerte para a vida orgânica tal como a conhecemos, mas, pelo contrário, seria talvez o refúgio de formas e manifestações de vida excessivamente velozes para estarem confinadas aos corpos celulares que nos são tão familiares. Para encontrar um paralelo com possíveis formas de vida em Júpiter, teríamos de pensar em perfumes, sons, música e essências, ou seja, fenômenos moleculares, porém dotados de individualidade e inteligência.

Os únicos lugares de Júpiter onde poderiam ser encontradas velocidades de rotação semelhantes às da superfície da Terra e onde a vida celular seria absolutamente possível seriam aqueles próximos aos pólos ou a muitos profundos milhares de quilômetros de seu interior gasoso. As condições dos planetas externos assemelham-se provavelmente às de Júpiter.

A imagem que resulta de tudo isso parece ser a dos planetas como campos de baixa pressão, onde a matéria em seus quatro estados é depositada em ordem, isto é, a que está em estado mineral no centro, a de estado celular na seguinte, a de estado molecular em terceiro e a que está em estado eletrônico mais externamente; e também que esses quatro estados de matéria existem e são produzidos por categorias definidas de velocidade de rotação.

Se for assim, a velocidade de rotação parece ser certamente um índice do ‘desenvolvimento’ de um planeta. E podemos dizer - na busca de vida orgânica em qualquer parte do Sistema Solar - que certos planetas não parecem haver progredido até um ponto em que a vida celular seja possível, enquanto que outros, pelo contrário, desenvolveram um tal estágio, que todas as formas de vida foram completamente transcendidas. Todos estão em diferentes estágios de desenvolvimento, ainda que todos sejam igualmente necessários a todo o Sistema, assim como dos ossos, sangue e cérebro podemos dizer que se encontram em diferentes etapas de desenvolvimento, embora sejam igualmente essenciais à existência de todo homem.

Isso nos dá um indício tanto da natureza do desenvolvimento dos planetas quanto da natureza do desenvolvimento dos seres que vivem sobre eles. Já vimos como todos os seres vivos são literalmente criados da matéria do Sol, dos planetas e da Terra. Todos contêm matéria eletrônica ou solar, a matéria que nas antigas filosofias era descrita como divina e que pode ser isolada com maior ou menor segurança. Primeiro os elétrons são isolados pela influência dos planetas em moléculas e estas, por sua vez, convertidas pela natureza da Terra em formas minerais.

Qualquer processo de melhoramento ou regeneração de formas naturais ou humanas deve consistir na liberação cada vez maior da matéria do corpo do estado mineral para o molecular e, finalmente, do estado molecular para o eletrônico. Tal liberação será acompanhada por um aumento da velocidade do organismo - um processo, considerando a regeneração da Natureza em seu sentido mais amplo, teoricamente só é limitado quando toda a matéria desse organismo é liberada em estado eletrônico. Em tal condição, ela poderia supostamente viajar a 300.000 km por segundo e, assim como a luz, existir em todas as partes do Sistema Solar simultaneamente.

Agora pode ser compreendido como tal liberação atua contrária a todo crescimento usual e certamente ao processo todo da criação, que consiste exatamente na limitação da energia solar ou divina dentro de formas ainda mais múltiplas e complexas. Por isso foi dito que o processo de regeneração está contra a natureza e contra a criação, a despeito do fato de que ele implica o retorno da matéria a um estado mais veloz ou divino.


(19) Notavelmente Chartres; os cinco planetas conhecidos eram Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.

(18a) O angström não é usado com freqüência hoje em dia. Foi substituído pelo namômetro (nm), que é dez vezes maior; 1 nm = 10 angströns. (N. do T.)

(20) O mecanismo dessa conexão será tratado no Capítulo 10, Parte II.

(21) O mecanismo dessa conexão será tratado no Capítulo 10, Parte II.