segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Capítulo XI - O Homem no Tempo


I A Desaceleração do Tempo do Homem




Um de nossos principais erros é pensarmos que a velocidade do tempo do homem é sempre a mesma. Consideramos que uma hora na infância tenha o mesmo valor que uma hora na velhice. Essa é uma visão bastante errada, e por uma razão que podemos discutir agora.


O homem inicia sua existência como uma célula única, o óvulo, no momento em que este é fertilizado pelo espermatozóide. Portanto, ele começa sua jornada na escala de tempo de uma grande célula, a qual, conforme calculamos em nosso estudo dos tempos do universo,52 não é menos do que mil vezes mais rápida do que aquela pela qual o homem adulto mede e percebe o tempo. A incrível velocidade dos processos de multiplicação e diferenciação nos dias seguintes à concepção dá pleno suporte a essa idéia.


Apenas próximo à última etapa de sua vida, quando já se aproxima da morte e pode examinar um ciclo completo de experiência humana, é que a percepção de um homem alcança a amplitude e a compreensão que, pode-se dizer, são características totalmente humanas.


Assim, entre a concepção e a morte, a vida do homem move-se cada vez mais rapidamente até que, no final, as horas e os minutos passam por ele mil vezes mais rápido do que no momento de sua concepção. Isso significa que, conforme a vida segue adiante, cada vez menos acontece para ele a cada hora. Sua percepção estende-se sobre um período progressivamente maior, mas, na verdade, esse período maior nada mais é do que uma ilusão, já que pode conter não mais do que continha a fração infinitesimal de um segundo de sua primeira sensação.


Ele julga controlar o tempo ao medir sua passagem em anos, mas o tempo o engana colocando cada vez menos dentro desses anos. Assim, quando ele olha para sua vida passada e tenta calculá-la pela escala de aniversários, ele está estranhamente encurtando sua existência, assim como um homem olhando para um quadro que ilusoriamente se distancia dele. Recorrendo a uma outra imagem, podemos dizer que o homem mergulha no tempo como objetos sólidos mergulham no ar – ou seja, ganhando tempo, passando cada vez mais rápido à medida que cai.


Agora o tempo de vida de um óvulo é, como também reconhecemos anteriormente, de um mês lunar; toda a duração da vida de um homem é aproximadamente um milhar desses meses. Para conduzir sua vida dentro de uma perspectiva verdadeira, teríamos que estabelecer uma escala de um a mil e dividi-la numa progressão logarítmica, em vez da familiar progressão aritmética.53 Divisões iguais em escala logarítmica obedecem à ordem 1, 10, 100, 1000 – em contraste à 1, 2, 3 e 4 da aritmética e à 1, 2, 4 e 8 da geométrica.


Esses limites de um e mil meses, na verdade, lembram-nos dos dois outros pontos intermediários. O homem nasce dez meses lunares após sua concepção e aceita-se normalmente que sua infância termine após cem meses lunares (7 anos). Esses são nitidamente pontos-chave em sua vida. Assim temos agora nossa escala delimitada em 1, 10, 100, 1000, dessa forma, dividindo a jornada completa do homem em três partes logaritmicamente iguais – gestação, infância e maturidade.


Quanto mais pensamos nesses três períodos, mais uma espécie de semelhança surge entre eles, como se os últimos fossem ecos do primeiro, como se uma melodia ecoasse uma oitava abaixo e, então, duas oitavas abaixo. Durante o período da gestação, o corpo físico é gradualmente formado e finalmente lançado numa existência independente em um meio diferente: o ar. Na infância, a personalidade é formada sobre as bases do corpo físico e essa combinação é lançada à existência independente no mundo dos homens. Na maturidade, o organismo psicofísico assim criado rende suas várias possibilidades e, quando estas são completadas, ele é lançado na eternidade.


A natureza e as possibilidades da água mudam completamente em dois pontos: quando ela passa de vapor para líquido e quando passa de líquido para sólido. Da mesma maneira, o nascimento e o final da infância marcam os dois pontos críticos na vida do homem quando, por alguma intervenção cósmica, toda a natureza e possibilidades de seu ser são transformadas. Nesses momentos, a alma revela-se e manifesta-se de uma forma nova e mais concreta.


Consideremos nossa escala logarítmica da vida do homem baseada nos pontos fixos – 1, 10, 100 e 1000 meses – que separam os três períodos fundamentais de sua existência e vamos dispô-la numa forma circular. Esse círculo representará o ‘grande conjunto’ da vida do homem, medido não de acordo com seus cálculos usuais, mas de acordo com a velocidade em que os processos vitais realmente trabalham nele. Será uma escala de seu tempo verdadeiro ou orgânico, diferente da escala geral fornecida por um calendário anual. No topo do círculo, a concepção e a morte ocuparão o mesmo ponto. Mais tarde, poderemos compreender que o que parecia um círculo pode ser visto mais verdadeiramente como sendo a seção transversal de uma espiral.


Por conveniência, dividamos novamente cada um de nossos três períodos fundamentais em três. Os nove marcos principais na vida do homem assim obtidos estarão mais ou menos a 2, 41/2 , 10, 20, 44, 100, 200, 440 e 1000 meses a partir da concepção. Ou seja, a 2 e 41/2 meses da vida pré-natal, no nascimento, e então aos 10 meses, aos 23/4 anos e 7, 15, 35 e 76 anos. Os períodos entre esses marcos serão de igual duração em nossa escala de tempo orgânico.


Uma reflexão posterior mostra que esses pontos correspondem realmente a certos estágios definidos no desenvolvimento humano. É perto dos dois meses de existência uterina que o feto torna-se completamente humano em forma e estrutura, tendo definitivamente delineados várias partes e órgãos. Aos quatro meses e meio surgem indícios de vida e ele adquire movimento involuntário e circulação sangüínea individual. O nascimento é marcado pelo início da respiração. Aos dez meses a criança começa a engatinhar e geralmente adquire controle sobre movimentos voluntários. Aos dois anos e três quartos ela começa a falar frases completas, a referir-se a si mesma como “eu” e a desenvolver processos intelectuais simples. Essa é a preparação para o momento próximo aos sete anos, em que se atinge o que a Igreja chamou de ‘idade da razão’, e com ela a completa digestão mental das impressões. Os quinze anos marcam a puberdade e o início da função sexual. Os trinta e cinco anos são tradicionalmente considerados como a plenitude da vida, marcados pelo equilíbrio momentâneo de todas as forças e, de acordo com alguns, pela possibilidade do surgimento de funções completamente novas, potenciais mas não desenvolvidas em homens comuns.54 Setenta e seis anos representam o término normal da duração da vida de um homem, sua morte e o início de qualquer nova existência que possa segui-la.


Se esses pontos estiverem divididos corretamente em dias a partir da concepção e ainda uma outra divisão dos períodos intermediários mais sutil for feita, começarão a surgir algumas correspondências muito interessantes. O primeiro marco principal é equivalente ao ciclo Lunar a partir do começo de nossa escala. O segundo marco é assinalado pela complementação de um ciclo menor de Mercúrio.55 O terceiro marco ou nascimento ocorre em dez ciclos lunares; o quarto num ciclo menor de Vênus. Cem ciclos lunares evidenciam o sexto marco. O sétimo marco é sinalizado por um ciclo maior de Marte, o oitavo por um de Saturno, enquanto que a conclusão de um ciclo de Urano coincide aproximadamente com o nono marco, ou a morte.


Para o novo organismo, parece que o tempo começa literalmente na concepção. Mais correto ainda é dizer que todos os tempos começam, ou seja, o organismo conta o tempo de cada planeta a partir do momento exato em que o tempo começa para ele – o momento da concepção. Ali ele começa, não como o tipo individual discutido no último capítulo, mas simplesmente como um novo representante da humanidade. Onde os planetas estavam, como brilhavam, representa sua normalidade, o ponto de partida da corrida da vida. E como cada planeta, de acordo com seu próprio ciclo, retorna ao ponto de partida, ele origina o mecanismo de uma função correspondente. Os ponteiros do relógio, após diferentes intervalos, retornam a zero; quando isso ocorre, um alarme toca e então outro mecanismo é posto em ação.


Como explicar isso senão pelas afinidades da velha astrologia? Afinidades não apenas de matéria mas também de tempo, não apenas de substância como também de ritmo.


Felizmente há uma idéia moderna quase idêntica à idéia medieval de afinidade, entretanto mais aceitável à mente científica: a idéia de ressonância.


De acordo com essa idéia, cada estrutura física tem uma nota fundamental ou vibração. Outras vibrações que podem ser dadas artificialmente são mantidas somente pela força e em proporção à energia transmitida. Todavia, quando as vibrações emitidas começam a se aproximar de sua nota fundamental, a estrutura responde de uma forma bastante desproporcional. Sua vibração interna cresce violentamente em intensidade e, se a nota transmitida for aumentada o suficiente, ela pode literalmente desintegrar-se. A queda das muralhas de Jericó pelas trombetas israelitas não está de todo excluída das possibilidades teóricas da ressonância. Ao mesmo princípio se deve a curiosa turbulência num carro ou avião quando a intensidade de seu mecanismo atinge uma certa nota, assim como a prática ou a técnica de sintonizar uma estação de rádio.


A desintegração não significa certamente o principal fenômeno da ressonância. Ela implica a transmissão de poder sem meios visíveis e com resultados supra-normais para quem for sintonizado. Uma nota precisa de um violino faz uma taça de vinho ‘cantar’. Uma certa palavra pode liberar num homem algum impulso inerente que por anos permaneceu insuspeitável. Se uma fonte de poder soa a nota fundamental de um objeto inerte, ele é preenchido com poder. E, reciprocamente, se um objeto inerte for modificado à nota daquilo que a transmite – como um copo no qual a água é adicionada até que ele possa ressoar a voz de um cantor –, então o objeto inerte torna-se subitamente fortalecido por aquilo que antes estava insensível.


Tudo isso é altamente sugestivo em relação à resposta dos órgãos aos planetas. No momento da concepção, a nota particular soada por um planeta parece ser estabelecida como a nota fundamental de uma glândula ainda adormecida. Gradualmente o planeta distancia-se de sua posição e, como vimos no Capítulo VI, sua nota cresce mais aguda ou mais grave com sua velocidade diferente em relação à Terra. Somente quando ela retorna após um ciclo completo em direção à sua posição original sua nota vai aproximando-se cada vez mais daquela emitida pelo órgão que está sob sua influência. À medida que repete sua relação exata, sua nota, por um momento, soa como soou antes. Uma ressonância irresistível domina a glândula, aquela que a estava imobilizando desintegra-se e uma nova função é lançada.


Depois de um mês, a Lua repete sua nota fundamental e a função digestiva é liberada. Após quatro meses e meio, Mercúrio repete a sua e o movimento involuntário prossegue. Depois de vinte meses, Vênus repete a sua nota e, dentro do bebê, abre-se ainda um outro aspecto.


Ele cresce de uma maneira difícil de compreender, mas evidencia magnificamente a idéia de que, em termos de vida humana, todas as correspondências que encontramos relacionadas com as harmonias dos planetas e da fisiologia humana aproximam-se e coincidem milagrosamente. Assim como no corpo humano os diferentes órgãos estão dispostos numa ordem ascendente a partir do coração ou do centro, também suas funções entram nessa mesma ordem em sua vida, uma após a outra, dominando o organismo e regendo seu destino. Além disso, os períodos de sua entrada e ascensão estão determinados pelo ciclo astronômico do planeta particular que os governa. O homem é um microcosmo não só estatisticamente em sua estrutura, como também dinamicamente no tempo. O homem é um modelo em funcionamento do Sistema Solar.


Colocando os corpos celestes e as funções humanas assim sincronizadas na ordem de sua freqüência ao redor do círculo, surge outro estranho paralelo. Como vimos, as primeiras duas funções – criação de forma física e movimento involuntário –, que se iniciam antes do nascimento, fazem-no sem a necessidade do ar. Apenas no terceiro marco ou nascimento ocorre o choque do ar. Seguem-se mais duas funções: movimento voluntário e poder do pensamento. Então, no sexto marco, mais outro choque: todo o impacto emocional de impressões baseadas na luz conduz às demais funções da maturidade e à função potencial da consciência.


Imaginando a Lua e os planetas como funções do Sistema Solar, um princípio muito semelhante é visto em ação. Os corpos celestes que regem os dois primeiros pontos, a Lua e Mercúrio, carecem totalmente de atmosfera. Eles têm somente forma física e movimento involuntário, ou seja, revolução em torno de sua fonte de luz. Mas, como vimos anteriormente, não tendo atmosfera própria, Mercúrio está envolto na luz zodiacal, é acolhido e protegido dentro da aura da mãe. De modo semelhante, a Lua é acolhida dentro do campo magnético da Terra. Esses corpos, que carecem até agora de atmosfera individual e movimento próprio, mas apenas participam da atmosfera e do movimento de seus pais, são como que não-nascidos.


Por outro lado, percebemos que todos aqueles planetas que se tornaram emancipados da proximidade imediata do Sol – de Vênus em diante – adquiriram atmosfera própria. E adquiriram também algo correspondente ao movimento voluntário: o poder de girar sobre seu próprio eixo. Como a criança após o nascimento, começaram a respirar e a mover-se.


Finalmente, só os planetas mais externos – particularmente Júpiter e Saturno – possuem uma família completa de satélites, assim como um homem só possuirá uma família completa em sua maturidade. Além do mais, somente eles aproximam-se daquele estado físico no qual podem absorver completamente a luz solar, e começam a se tornar radiantes por si mesmos. Que desfrutem efetivamente de certa luz individual é incerto. Mas é certo que, em seu presente estado gasoso, poderiam fazê-lo, por mais que para Mercúrio ou para a Terra tal radiação interna seja impossível sem uma completa transformação do estado físico. Podemos dizer que Júpiter e Saturno desfrutam da potencialidade de radiação, assim como, em relação ao adulto, situado além do sexto marco, pode ser dito que desfruta da potencialidade de autoconsciência.


Sendo assim, no ciclo cósmico das funções, não importa em que escala sejam tomadas, três linhas paralelas de desenvolvimento podem ser vistas começando em diferentes lugares – a primeira, baseada no desenvolvimento da matéria sólida ou física, que começa no ponto 9; a segunda, baseada no desenvolvimento do ar ou atmosfera, que começa no ponto 3; e a terceira, baseada na transmutação da luz ou percepções, que começa no ponto 6. É difícil dizer o que os ciclos de respiração e transmutação da luz implicam na escala do Sistema Solar, mas está suficientemente claro que alguns ciclos semelhantes existem – em paralelo ao ciclo dos corpos sólidos ou físicos astronomicamente reconhecidos.


O homem vive e se desenvolve pela assimilação paralela de alimentos, ar e percepções. O Sistema Solar consiste num desenvolvimento paralelo de esferas sólidas, esferas atmosféricas e esferas de luz. E de fato esse desenvolvimento paralelo de três diferentes níveis da matéria que se origina em pontos diferentes é um traço fundamental do universo, e é ele que permite que o inevitável enfraquecimento de uma única linha de desenvolvimento seja magnificamente superado.




II Os Marcos da Vida




Tudo isso é sugestivo o bastante para fazer-nos querer estudar essa escala da vida humana e seus marcos mais detalhadamente.


Nossa escala inicia-se um mês após a concepção. Logaritmicamente, haverá um ciclo mais rápido para o primeiro mês de gestação e outro ainda mais rápido para os primeiros três dias (1/10 de mês), e teoricamente outros para as primeiras sete horas (1/100 de mês) e os primeiros quarenta minutos (1/1000 de mês). Em ‘trabalho realizado’, esses períodos serão comparáveis às principais divisões de gestação, infância e maturidade.56 Pouco sabemos acerca de escalas tão curtas. A de três dias, contudo, parece referir-se à existência independente do óvulo fertilizado na trompa de falópio. E, uma vez estabelecida a conexão com a circulação sangüínea materna no útero, é nesse primeiro mês que observamos o embrião passar pelas etapas de peixe, réptil e outros estágios pré-humanos que têm sido freqüentemente citados em apoio à teoria darwiniana.


Após um mês da concepção, inicia-se o desenvolvimento ‘humano’ do embrião e nossa escala principal começa. Podemos agora considerar os marcos da vida numa ordem, assim como no último capítulo consideramos os órgãos e suas funções.


No primeiro marco, aos sessenta dias da concepção, vemos que o embrião é uma criatura marinha, possuindo guelras e barbatanas e vivendo no líquido amniótico. Todo seu trabalho consiste em receber e transformar as substâncias alimentícias recebidas da mãe. É o momento de domínio do fígado e pâncreas maternos. Tudo conectado com esse ponto – quer seja considerado anatomicamente ou no tempo – é essencialmente líquido e, estando sob a influência da Lua, podemos esperar que flutue pelo ciclo lunar de mais ou menos 29 dias.


O segundo marco, como vimos, coincide com o curto ciclo de Mercúrio (117 dias). De alguma forma, a conclusão de um ciclo mercurial origina o próximo mecanismo do embrião humano, que é adaptado para a utilização de ar. Forma-se agora o sistema respiratório em preparação para o começo da respiração no terceiro marco; a circulação independente é estabelecida e o feto ‘acelera-se’ ou adquire seu próprio movimento involuntário. Todas essas funções estão claramente conectadas com a dominância momentânea da glândula tireóide.


O nascimento, no terceiro marco, é a culminação dessa adaptação do organismo para transformar o ar. O embrião emerge nesse novo meio, respira e vive. Daí em diante, nutre-se não só de alimentos, mas também de ar.


No período que segue o nascimento, vemos que os ciclos menores da Terra, os asteróides, Vênus e Marte atingem pontos sucessivos de progressão logarítmica. O significado particular disso não está claro, embora pareça estar conectado com a formação de diferentes aspectos do corpo físico individual.


No entanto, podemos considerar com mais detalhes a correspondência entre o quarto marco e a conclusão de um ciclo de Vênus. Isso está relacionado ao simples aumento de volume, o corpo adquirindo mais peso (9 kg) no ano que se segue ao nascimento que em qualquer outro de sua existência. O ápice desse processo (10 1/2 meses) marca a predominância da função de formação de tecidos e carne das paratireóides em conjunção com o timo. Em outras palavras, a criança nesse ponto é um ‘pequeno vegetal’.


O ritmo planetário que rege o quinto marco é mais sutil e de difícil discernimento que os exemplos anteriores. Esse período (1302 dias) está muito próximo a um quarto de um ciclo maior de Marte (1362 dias) e a um oitavo de um ciclo maior de Saturno (1323 dias). Esses planetas, que trabalham em harmonia, parecem governá-lo conjuntamente e não há dúvidas de que por essa razão encontremos uma confusão entre as assim chamadas características saturninas ou mentais que aqui se apresentam e a influência marcial que esperaríamos encontrar, dada a seqüência matemática dos planetas e seus órgãos correspondentes.


Nesse quinto marco (2 3/4 anos), a velocidade do aumento de peso pelo corpo diminui subitamente. O cérebro, todavia, continua a crescer e, aos cinco anos, alcançou 90% de seu peso adulto, embora o corpo como um todo esteja a não mais de um quarto de seu peso final. O efeito desse domínio repentino da função mental é visto no controle da fala, distinto do uso preliminar de nomes próprios para objetos individuais. Ouspensky57 assinalou como a fala e a formação de conceitos abstratos – que é uma função principal da mente humana – são dois aspectos da mesma coisa e que uma não existe sem a outra. Assim, podemos dizer que é no quinto marco que a criança torna-se capaz de conceitos abstratos, e com isso começa a formar-se nela uma personalidade individual.


Por volta do sexto marco (7 anos), a formação da personalidade está mais ou menos completa. O cérebro está funcionando plenamente como um mecanismo receptor e as crianças passam por um notável período questionador, quando estão cheias de perguntas ‘difíceis’ – ou seja, questões que provêm de um fluxo contínuo de novas percepções que, nos adultos, de quem esperam respostas, já são absolutamente familiares e dadas como definitivas. Essas percepções são laboriosamente digeridas em idéias, opiniões, enfim, num molde completo de experiência. A partir daí, o organismo é nutrido não somente por alimentos e ar, mas também por percepções digeridas com maior plenitude.


Os pontos logarítmicos que seguem o final da infância estão sinalizados pelos ciclos maiores dos asteróides, Júpiter e Marte, assim como os estágios imediatamente seguintes ao nascimento estavam marcados por ciclos menores semelhantes. Neste caso, todavia, os ciclos parecem partir do nascimento (isto é, a exposição à luz e ao ar), e não da concepção, e sem dúvida influenciam a formação da personalidade adulta assim como os ciclos menores parecem haver influenciado a formação do corpo físico da infância.


Como vimos no último capítulo, diferentes aspectos das glândulas têm diferentes pontos de partida e a marcha dos planetas é contada num aspecto a partir do momento da concepção, em outro a partir do momento do nascimento e em outro ainda apenas a partir do desconhecido momento da regeneração. Dessa maneira, os ritmos contáveis a partir da concepção devem referir-se à hereditariedade e os ritmos contáveis a partir do nascimento à individualidade. A única criatura inevitavelmente subjugada à hereditariedade é o embrião no ventre, já que, a cada ser humano nascido, as estrelas trazem uma nova oportunidade sem paralelos. Por essa razão, nunca se deve esquecer de que a hereditariedade mendeliana – considerada como um sistema exato de reprodução – pode ser aplicada somente às moscas das frutas e aos porcos da guiné, sobre os quais seus experimentos foram baseados e nos quais os aspectos mais elevados das glândulas estão ausentes ou incompletos. Por concepção ou hereditariedade, um homem pode ser hemofílico ou daltônico. Mas seu direito à vida sempre lhe permite a chance de transmutar sua doença – assim como o físico inglês Dalton usou o próprio daltonismo para estabelecer de uma vez por todas a natureza dessa anomalia.


Voltemos ao desdobramento da natureza do homem. Seu sétimo marco indica a puberdade. Ele coincide com o ciclo de Marte e a ascensão das supra-renais, é a idade da atividade passional expressa pelo correr, saltar, escalar e uma devoção por jogos e esportes perigosos. Marca o alvorecer da vontade, da determinação e da coragem. As supra-renais também liberam a função sexual, controlada até agora pelo timo. Talvez seja mais verdadeiro dizer que a função sexual em seu sentido completo e com todas as suas implicações assinaladas no capítulo anterior torne-se incipiente na puberdade, do mesmo modo que os processos do pensamento que dominaram o quinto marco tornam-se incipientes com a conclusão estrutural do cérebro no quarto marco. Em muitas pessoas, o verdadeiro sexo permanece incipiente no decorrer de toda a vida, imitado pelas paixões supra-renais da adolescência.


No oitavo marco, aos 35 anos, o homem encontra-se na plenitude da vida, com o máximo de suas forças e responsabilidades. Completa-se um ciclo de Saturno. Controlando as rédeas de todas as outras funções e criando entre elas a unidade que proporciona autocontrole e força para atuar, a pituitária anterior agora se encontra dominante. Nessa idade, o homem médio criou e deve manter uma família, seu trabalho alcança sua maior eficiência e seu comando sobre aquilo que o rodeia está em seu zênite.


Na verdade, o crescimento contínuo das forças criadoras além desse ponto assinala a excepcionalidade de um homem – um Rembrandt na pintura, um Shakespeare no drama e um Paracelso na medicina. E a própria existência de tais exceções traz a idéia de que, neste marco, pode começar a atuar uma função nova e normalmente não realizada. Assim como a função da respiração começou no nascimento e a função do pensar começou no final da infância, também agora nesse momento de maturidade uma nova função, baseada na consciência do homem, de sua existência e de sua relação com o universo poderia começar.


O despertar dessa nova função parece estar conectado ao ponto médio da duração normal da vida de um homem, que, como veremos em breve, é de cerca de 76 anos. Aos 37 ou 38 anos, um homem está, por assim dizer, num ponto exatamente igual ao do momento de sua concepção e de sua morte e, como que através de uma fresta no tempo, uma reflexão pode surgir para ele a respeito dos mistérios universais dos quais emergiu e para os quais deve retornar. Dante, no prefácio de sua tremenda visão do universo, refere-se a essa idéia: “No ponto médio dessa vida mortal, perdido num bosque escuro, encontrei a mim mesmo...”.


Essa nova função, despertada no ápice de sua vida, pode revelar para o homem uma súbita visão do todo, do qual todas as suas outras funções não lhe deram mais que vislumbres parciais e contraditórios. Algumas vezes, o mesmo despertar pode revelar-lhe uma nova expressão do todo, no cumprimento da qual todo o resto de sua vida será dedicado.


Aos 38 anos, Kepler completou sua “Nova Astronomia”, que, ao formular as leis que referiam-se ao movimento planetário, expressou pela primeira vez a verdadeira unidade do Sistema Solar. Aos 37 anos, o grande físico Clerk Maxwell, retirando-se subitamente de uma vida brilhante e ativa para sua distante propriedade na Escócia, lá percebeu e provou o princípio da vibração eletromagnética, a explicação científica da unidade do universo. Aos 37 anos, num súbito flash de iluminação, em Sils-Maria, nos Alpes austríacos, Nietzsche teve consciência da mesma visão que, expressa na idéia da eterna recorrência, tornaria acessível à compreensão humana a unidade do tempo. Assim, também na mesma idade, Balzac concebeu sua Comedie Humaine, Tolstoy seu Guerra e Paz, Ibsen seu Peer Gynt, nos quais cada um deles tentou expressar em forma literária a totalidade da vida humana.


Esses foram casos em que essa última e potencial função realmente despertou, seja plena ou parcialmente, e mostram que seu despertar permite a um homem perceber direta e pessoalmente um cosmos em sua unidade.


Mas, para que isso aconteça, é necessário que suas energias superiores sejam orientadas numa nova via, o que, por sua vez, requer o mais intenso desejo, trabalho, conhecimento, ajuda e sorte.


Somente a descoberta de tal função nova capacita o homem a continuar ascendendo após a maturidade. Para o homem comum, um crescente declínio o conduz ao nono e último marco, a morte. Exatamente aos 28080 dias da concepção, Marte completa 36 ciclos, Vênus 48, os Asteróides 60, a combinação de Júpiter e Saturno 72, Urano 76, Mercúrio 240 e a Lua 960. Vemos para nosso espanto que todo o conjunto de planetas voltou à mesma disposição que imperava quando se iniciou o processo.


Ao longo da vida do homem, seus vários tempi regeram esta ou aquela função e aspectos de sua existência. O rápido pulsar lunar de linfa, o tempo vivace de sua natureza mercurial, o moderato do bater de seu sangue e carne, o andante de seu empenho intelectual, o lento largo de instinto e o majestoso grave da emoção mais profunda do homem, todos se levantaram e caíram nele de acordo com os ritmos mais rápidos ou mais lentos dos planetas. Por sua harmonia perpétua, elaboraram o intrincado contraponto de sua vida. Em uníssono no final, tocam juntos o grande acorde que faz soar o dobrar de seu réquiem.




III O Calendário: Tempos Super-humanos e Subumanos




Demonstramos que cada homem tem seu próprio tempo individual, muito independente daquele do calendário e do relógio e derivado do desenrolar da mola principal de sua própria vida individual. É muito importante compreender isso, pois é essa hora expressa por seu tempo o que indica sua posição, perspectiva e destino. É essa hora expressa por seu tempo que sozinha pode responder a mais ameaçadora de todas as perguntas: Quanto tempo lhe resta?


No entanto, os homens – tendo seus próprios relógios internos dispostos cada qual em seu tempo particular e pessoal – têm de viver juntos e, ao fazê-lo, devem estabelecer uma medida comum e conveniente de tempo com a qual todos concordem, não obstante o erro que esse tempo comum possa ser. Para esse propósito, eles recorreram muito naturalmente a uma unidade de tempo do cosmos superior que os abriga. Mediram a própria vida, a dos demais e a de seus ancestrais pela respiração da Terra, isto é, pelo tempo que a Terra leva para girar em volta do Sol, pelos anos.


Agora um ano é uma unidade de tempo extremamente interessante e completa, plena de conexões internas e relações, podendo talvez ser considerado como um padrão clássico de uma forma orgânica de tempo. Pois, como estabelecemos no segundo capítulo, as dimensões de espaço e tempo tornam-se intercambiáveis à medida que passamos de um cosmos a outro. Sendo assim, certos padrões de tempo devem evidentemente representar formas orgânicas, da mesma forma como certos padrões no espaço o fazem. Dessa maneira, um ano é uma forma de tempo orgânica, com suas próprias funções ou festivais e sua própria circulação interna entre eles. Então, apesar de diferentes indivíduos passarem através de um ano a diferentes velocidades de acordo com seu próprio tempo pessoal, esse ano trará a todos experiências e possibilidades comparáveis e representará uma relação fixa comum para todos.


Assim, para todos os homens num hemisfério da Terra, o mesmo dia do ano será mais curto, os mesmos dias marcarão o aumento do poder solar e o mesmo dia sua máxima duração de luz. Frações definidas do ano separarão a semeadura da colheita, a umidade da seca e a flor do fruto. Se um homem e uma mulher engendrarem uma criança, sete nonos de um ano assinalarão a data de seu nascimento, não importando quão diferentes seus tempos pessoais possam ser. O ano representa de fato uma grande dança na qual todos os homens, animais, pássaros, árvores e plantas sobre a face da Terra tomam parte, independente de quão rápida ou lentamente passem através dele.


Marquemos os 360 dias do ano ao redor dos 360o de um círculo, deixando de contar e ‘fora do tempo’ os cinco dias entre o Natal e o Ano Novo, entre o fim e o início. Nesse círculo do ano, a tradição indica três pontos maiores: o festival do solstício de inverno ou o Natal, quando toda vida está oculta e invisível, o festival do renascimento ou Páscoa e o festival da colheita. Esses três festivais são exemplificados pelas três etapas do desenvolvimento natural – raiz, flor e fruto – e, de forma muito geral, seus períodos intermediários representam, não apenas para as plantas mas para todos os seres vivos, um ciclo sempre repetitivo de gestação, maturidade e poda.


Desse modo, uma vez mais voltamos à figura, que agora nos é familiar, do triângulo dentro do círculo. Se fizermos com que o centro do círculo represente a Terra e colocarmos sobre o triângulo os doze signos do zodíaco contra os quais o Sol se movimenta no curso de um ano, veremos também que esse triângulo divino representa o caminho do Sol. E, se agregarmos posteriormente os seis pontos intermediários e o estranho movimento entre eles, que no Sistema Solar vemos representando a circulação invisível de luz, observaremos que o padrão de um ano corresponde na verdade a esse padrão universal de todos os seres e formas realmente cósmicos.


Muitos sistemas de calendários – como o asteca com dezoito meses de vinte dias e com cinco dias ‘mortos’, por exemplo – derivam-se evidentemente dessa concepção do círculo com nove pontos. Dessa forma, cada divisão representa quarenta dias. Nos tempos modernos, essas divisões orgânicas do ano são claramente indicadas por certas festividades móveis – a Quarta-Feira de Cinzas oscilando entre os pontos 1 e 2, a Páscoa entre os pontos 2 e 3 e o Domingo de Ramos entre os pontos 3 e 4. Quarenta dias – tempo de permanência de Cristo no deserto – representam assim um período definido no qual certas coisas podem ser alcançadas, amadurecidas ou fixadas, enquanto que os múltiplos de quarenta dias, unidos pela linha de circulação interna invisível, permanecem conectados através do tempo pelos processos não-visíveis da germinação ou compreensão.


O trigo do inverno, semeado no ponto 7 (outubro 6) seguindo o misterioso movimento 142857, é colhido no ponto 4 (junho 9); o milho da primavera, semeado no ponto 2 (março 21) é podado por sua vez no ponto 7. O solo gelado ou seco numa data deve ser regado ou suavizado pela chuva noutra data interiormente conectada àquela. Enquanto isso, para os seres humanos, despercebidos que são, memórias, estados de ânimo e o resultado de ações há muito esquecidas emergem subitamente da invisibilidade ao longo dessa circulação interna entre uma parte de um ano e outra.


Sendo assim, através dos anos, um homem, levando seu próprio tempo interno com ele, passa todavia por uma intrincada série de formas de tempo que se repetem. Um certo dia, numa dada primavera, deve ser certamente experimentado na velocidade apropriada à idade e tipo do observador. Mas à parte isso, também trará para ele ecos do mesmo dia em todas as outras primaveras e que ainda estará conectado de uma outra forma com um certo dia daquele verão e de todos os outros verões, com um certo dia daquele outono e de todos os outros outonos. Desse modo, um ano não representa uma linha para o homem, mas uma trama ondulada e cintilante de ecos transtemporais.


Um ano não é de todo uma unidade de tempo individual como freqüentemente supomos, mas o cenário através do qual o tempo pessoal passa. O tempo do homem movimenta-se contra o tempo da Terra em segundo plano, ela mesma também em movimento, ainda que relativamente tão lento, que lhe parece imóvel – assim como uma imagem em segundo plano de nuvens em movimento parecerá imóvel em contraste com um barco a vela mais rápido em primeiro plano.


Erro semelhante é considerar o tempo histórico ou astronômico como uma extensão do tempo humano, do nosso tempo pessoal. Isso é completamente errado e causa todo tipo de pontos de vista distorcidos em relação aos eventos no mundo e no universo que nos rodeia. Como veremos mais tarde, o tempo histórico, ou seja, o tempo das civilizações, também se desenvolve logaritmicamente – mas sobre uma escala de séculos e não de décadas, enquanto no capítulo sobre o Mundo da Natureza pareceu-nos discernir esse tempo terrestre cobrindo períodos de milhões de anos, desenvolvido não apenas logaritmicamente, mas ao inverso – ou seja, cada era sucessiva era mais curta e não maior, mais comprimida do que expandida.


Uma imagem aproximada do pano de fundo temporal do homem poderia ser obtida por meio de um relógio no qual os ponteiros dos meses, horas, minutos e segundos estivessem simultaneamente em movimento. Mas, para tornar essa imagem mais correta, seria necessário imaginar alguns dos ponteiros aumentando a velocidade, outros perdendo e outros ainda girando em sentido anti-horário. Se os ponteiros dos segundos imaginassem que a circunferência do relógio era uma linha reta infinita, mensurável somente numa direção, a uma certa velocidade, e dividida em partes iguais com significação fixa para todos os ponteiros, isso representaria num certo grau a percepção normal do homem e sua ilusão no que tange à natureza do tempo.


Um efeito muito comum e facilmente verificável dessa ilusão é que, para cada homem, os eventos externos de sua juventude – quando seu próprio tempo continha mais – parecem maiores do que aqueles de sua velhice. Para o veterano octogenário, a Guerra Espano-Americana ou a Guerra dos Boers são eventos maiores que a Segunda Guerra Mundial. O porquê está claro: para ele, o ano de guerra em sua juventude é três vezes mais prolongado que o ano de guerra em sua velhice e todos os eventos contidos naqueles anos têm três vezes mais peso, extensão, tamanho e significado que nos últimos.


Por outro lado, em certos períodos da história, alguns eventos externamente insignificantes, tais como aqueles conectados com a vida de Cristo, por exemplo, podem ser de imensa importância e continuar produzindo efeitos por centenas ou milhares de anos, porque, desconhecidos para os observadores humanos, eles pertencem aos primeiros momentos de uma civilização, quando seus processos estão desenvolvendo-se com tremenda velocidade.


Desse modo, os seres humanos, que medem inconscientemente por seu próprio tempo interno, tendem a considerar todos os eventos externos mais longos ou mais curtos, maiores ou menores do que na realidade são – isto é, do que são segundo seu próprio tempo.


Portanto, quando consideramos questões de tempo, a primeira coisa que se deve perguntar é: Tempo de quem? Tempo de quê? Nas primeiras duas partes desse capítulo, estivemos considerando o tempo do homem. Mas o que isso significa de fato? Parece significar a escala de tempo de um organismo celular muito elaborado que se inicia com a primeira divisão e multiplicação de sua célula germinal e termina com seu colapso enquanto um todo operante e sua conseqüente desintegração em matéria sub-celular. É a linha de tempo do homem orgânico, do homem como corpo físico. E geralmente esse é o único tempo que conhecemos e do qual estamos cientes.


Quando falamos sobre o ‘homem’, falamos realmente de seu nível de consciência ou atenção, ainda que rudimentar, pois o restante não é humano, e sim químico, biológico ou animal. Agora uma das características da consciência comum do homem, ainda que seja o nível mais sutil de consciência comum, é estar confinada a uma forma orgânica. Usualmente, o homem não pode ligar sua consciência à matéria em estado eletrônico ou molecular nem a formas supra-humanas, tais como continentes ou civilizações. Ele pode pensar sobre essa possibilidade e sonhar a seu respeito de uma forma poética, mas não pode realmente alcançá-la. Portanto, é justo que olhemos esse tempo orgânico de sua forma física como o tempo do homem comum.


Mas é seu único tempo possível? Ou existem outros tempos potenciais para ele? Sabemos por experiência que a qualquer momento nosso tempo biológico pode ser rompido e transcendido pela alegria, dor ou surpresa. De repente e sem aviso, um de nossos momentos mais casuais aflora numa infinidade de sensações e compreensões. Como isso acontece e o que implica?


No capítulo sobre o Sol, foi discutido como no impacto da energia solar criativa sobre a Terra os elétrons tornavam-se encerrados em moléculas, estas em células e, podemos acrescentar agora, as células em corpos orgânicos, incluindo-se o do homem. Mas os elétrons, moléculas e células continuam existindo nesses corpos e continuam atuando de acordo com seu próprio tempo. Assim, o corpo do homem, com seu próprio tempo geral, contém o tempo mais rápido das células, o tempo mais veloz ainda das moléculas e o tempo quase inconcebível em rapidez dos elétrons. E assim como uma civilização com sua própria duração e tempo não contém apenas o tempo muito mais rápido dos homens individualmente, mas também está composta de todos os seus tempos, cada parte do corpo do homem é composta e penetrada por esses três tempos paralelos.


Como já dissemos, não podemos imaginar normalmente o estado de atenção de um homem se não estiver ligada a um corpo celular ou operando pelo seu tempo corporal. Não sabemos quais novas conexões psicológicas e mesmo fisiológicas devem ser criadas para tornar possível que o estado de atenção humano seja alçada, por exemplo, ao tempo de sua contraparte molecular. Ainda assim, registros de breves estados místicos contendo uma incalculável riqueza de experiências, de estranhas sensações de abundância de tempo em momentos de extremo perigo, de sonhos prolongados no momento do despertar e que parecem referir-se aos processos internos do corpo sugerem todos que esse despertar da consciência para outro tempo ocorre ocasionalmente – sob emoção intensa ou pressão instintiva.


As condições de transferência intencional do estado de atenção para um tempo mais rápido, no entanto, são desconhecidas para nós e, evidentemente, esse poder, se existe, refere-se a níveis muito mais elevados de consciência que aqueles que nos são familiares. Não se requer muita imaginação para perceber que tal poder deve envolver não apenas a reorientação extremamente difícil de impulsos nervosos entre os sistemas cérebro-espinhal e simpático, mas também uma educação generalizada e o fortalecimento da consciência moral e da vontade para resistir aos choques e terrores provenientes de sensações completamente novas e imprevistas. É por essa razão que o trabalho prático de penetração em outros tempos esteve confinado a escolas criadas para esse propósito.


Na verdade, a penetração em outros tempos, que é conectada à criação de consciência em funções que são agora inconscientes ou inoperantes, tem um duplo efeito. Como resultado das forças expansivas e penetradoras da matéria nesses estados mais rápidos, a percepção de seus tempos traz com ela certo vislumbre dos mundos de onde elas provêm. A penetração no tempo subumano das células cria a percepção dos ritmos supra-humanos da Natureza, dentro do tempo de percepção das moléculas de tempo terrestre, enquanto uma penetração mais avançada no tempo eletrônico implica um despertar análogo em direção ao tempo solar. Assim, a passagem da consciência para cada função superior conduz o homem ao conhecimento de dois novos mundos – um menor e outro maior.


Dessa multiplicidade de tempos humanos surge ainda outra idéia. É o corpo celular, cujo tempo começa com a concepção e termina com a morte. Mas a matéria molecular da qual o óvulo é composto e na qual o cadáver se desintegra não morre nem seu tempo chega a um fim. Do ponto de vista do homem, o tempo molecular e o eletrônico não existem somente dentro de seu corpo físico, mas também antes e depois dele. Assim, os tempos molecular e eletrônico, com tudo o que implicam, devem estar intimamente conectados à questão dos estados depois da morte e antes do nascimento.


É um castigo do débil estado de atenção do homem – que normalmente não pode escapar do tempo e da forma de seu corpo celular – que essa imortalidade da matéria eletrônica e molecular não se relacione a ele. Mas, se ele criasse para si mesmo uma consciência suficientemente poderosa para penetrar nesses outros mundos e tempos contidos dentro de seu próprio corpo, certamente toda sua relação com a imortalidade poderia ser diferente.




52. Ver Capítulo II, ‘Tempos do Universo’.


53. Pela idéia geral de tempo logarítmico em relação com a vida humana, estou em débito com meu amigo, o Dr. Francis Roles, e pelo mês lunar como unidade desse tempo com Miss Helen Wright. Essa idéia, sob o nome de ‘Tempo Biológico’, foi originalmente concebida por Pierre Lecompte de Noüy (1883-1949) durante a Primeira Guerra Mundial, com base em estudos sobre a velocidade de cicatrização em diferentes idades, mais tarde desenvolvida em seu livro, ‘Le Temps et la Vie’.


54. A possibilidade é desenvolvida, por exemplo, pelo Dr. R. M. Bucke em ‘Cosmic Consciousness’.


55. Para refrescar a memória a respeito de ciclos planetários, ver o Capítulo VI, ‘A Harmonia dos Planetas’.


56. A idéia desses ‘períodos de vida’ mais rápidos é tratada em outro livro, ‘A Teoria da Vida Eterna’.


57. P. D. Ouspensky, ‘Tertium Organum’, pág. 77, Editora Pensamento.


Figura 8: O desenho do ano